Porque é que aqueles colegas de trabalho egoístas são todos amigos uns dos outros? Cientistas cognitivos descobriram a resposta

Se o trabalho em equipa faz a máquina funcionar, por que razão, em todos os locais de trabalho, parece haver um grupo de colegas egoístas que colaboram sempre em tudo? Segundo uma pesquisa recente, a resposta pode estar no facto de eles cooperarem, mesmo em detrimento deles próprios, porque o comportamento de cada indivíduo é o principal motivador para o que esperamos que os outros façam, avança a Fast Company.

 

Pelo menos é o argumento de um artigo de Ciência Cognitiva publicado por psicólogos do Instituto Beckman de Ciência e Tecnologia Avançada da Universidade de Illinois Urbana-Champaign, que descobriu que pessoas egoístas por natureza tendem a punir a generosidade e recompensar o egoísmo mesmo quando isso os prejudica.

Os cientistas sociais defendem que são os costumes sociais que guiam a tomada de decisão de uma pessoa em cenários competitivos sem valor acrescentado. «A visão predominante antes deste estudo era que os indivíduos formam expectativas com base no que consideram típico. Se todos à minha volta são egoístas, então vou aprender a aceitar o egoísmo e a comportar-me da mesma forma. Agora mostramos que o julgamento que uma pessoa faz sobre o comportamento de outras, na verdade, depende de como ela se comporta», explica o autor principal Paul Bogdan.

Para julgar as acções dos demais como generosas ou egoístas, segundo os investigadores, os humanos recorrem a um conjunto de expectativas subjectivas – padrões frequentemente considerados baseados em normas sociais. O comportamento que se desvia da norma pode provocar feedback negativo (o que chamam de “punição”), mas os investigadores colocam uma hipótese alternativa: e se as expectativas se basearem nas próprias tendências do indivíduo de se comportar de forma generosa ou egoísta?

Para explorar como se definem expectativas e se decide responder, a equipa realizou uma série de testes envolvendo o Jogo do Ultimato, uma experiência clássica em que dois jogadores são informados de que irão dividir um pote de dinheiro. O jogo ajuda a avaliar o problema económico, social e psicológico da divisão de recursos entre as pessoas, sendo uma aplicação comum explorar como a justiça e a desigualdade afectam o trabalho em equipa. Na experiência, o primeiro jogador, o Proponente, decide como o pote será dividido: a meias, ou injustamente para beneficiar apenas um jogador. O problema é que se o segundo jogador, o Respondente, rejeitar a oferta, ambos saem de mãos vazias.

Normalmente, os respondentes levam mais dinheiro quando o proponente é generoso. Mas os investigadores descobriram que pessoas egoístas simplesmente não querem saber. O que elas gostam mesmo é de jogar o Jogo do Ultimato com outras pessoas egoístas, mesmo que isso signifique deixar dinheiro na mesa. «As pessoas realmente gostam de outras semelhantes a elas… a um nível chocante», afirma Bodgan.

Repetiram a experiência várias vezes e descobriram que alguns indivíduos começaram a punir a generosidade e a recompensar o egoísmo, mas apenas depois de o seu próprio comportamento ter mudado, reforçando que eram as suas próprias tendências que impulsionavam as expectativas, e não as normas sociais.

«Grupos de pessoas egoístas estão mais abertos a aceitar outras pessoas egoístas. Para fazer parte desse grupo, os recém-chegados podem exibir o mesmo comportamento», observa um outro autor Florin Dolcos.

A equipa concluiu que a natureza subjacente de uma pessoa provavelmente também influencia o seu comportamento noutras áreas da vida. «Tem relevância prática para muitos tipos de interacções sociais e avaliações sociais», revela Dolcos.

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