Portugal bateu recorde em investimento estrangeiro em 2019 mas a pandemia pode colocar em risco 20% dos projectos

Portugal bateu o recorde de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) em 2019, com 158 projectos, mas a COVID-19 poderá pôr em risco 20% deles, considera o estudo hoje divulgado da EY Portugal.

 

Na edição do estudo EY Attractiveness Survey Portugal 2020, que anualmente avalia a percepção dos investidores estrangeiros relativamente à atractividade do país enquanto destino de IDE, refere-se que 2019 “assume-se como um marco histórico para Portugal no que ao Investimento Directo Estrangeiro diz respeito”.

No ano passado o número de projectos anunciados atingiu os 158, «valor recorde que representa uma aceleração de 114% face aos 74 projectos registados em 2018».

Estes 158 projectos de IDE representam 12.549 postos de trabalho, «número que mais do que duplicou em relação ao ano anterior (6100)», adianta o relatório.

«Num ano marcado pela incerteza e pela escalada de tensão nas trocas comerciais mundiais, Portugal conseguiu diversificar a origem do IDE e atrair geografias altamente qualificadas», acrescenta o estudo, apontando que «o número de projectos de IDE provenientes de outros países europeus subiu de 59 para 108, mas a proporção do investimento europeu caiu de 80% para 68%, uma vez que a economia nacional conseguiu atrair o triplo do número de projectos com origem em geografias não europeias (de 15 para 50 projectos)».

Por exemplo, os Estados Unidos «tornaram-se, em 2019, no maior investidor em território português, com 26 projectos anunciados», refere o relatório, acrescentando que a Alemanha (22) e França (21) «ocupam as posições seguintes no pódio dos maiores investidores».

O Reino Unido mais do que duplicou o número de projectos de investimento em Portugal, de seis, em 2018, para 15, no ano passado.

A área do digital quase triplicou (de 15 para 42) os projectos, «aumentando significativamente o número de empregos criados (de 1610 para 3766)».

O sector da fabricação e fornecimento de equipamento de transporte «também cimentou o investimento estrangeiro (31 projectos e 4148 postos de trabalho), com os serviços empresariais a ultrapassarem o sector agroalimentar e passando a ocupar a terceira posição no ranking dos sectores de actividade que mais projectos de IDE atraíram em 2019», lê-se no documento.

Estes três sectores «representam mais de metade dos projectos anunciados (59%) e 73% dos empregos criados».

Por regiões, Lisboa foi a que mais atraiu IDE em 2019, «num total de 62 projectos (32 na edição anterior), que proporcionaram 4.090 novos postos de trabalho, sobretudo nos sectores do digital e dos serviços empresariais».

O Norte do país captou 51 projectos, a que corresponde à criação de 5.722 novos postos de trabalho, principalmente nas áreas de fabricação e fornecimento de equipamento de transporte e digital.

Em terceiro lugar ficou a região Centro, que atraiu 26 projectos, responsáveis por 1518 empregos.

«O Alentejo foi a única área geográfica a registar um decréscimo nas intenções de investimento, passando de 21 projectos de IDE anunciados em 2018 para nove, no ano seguinte», adianta.

«Em 2019, Portugal passou para a 11.ª posição, entre as economias europeias, em termos de atractividade de IDE, subindo seis posições relativamente ao ranking do ano anterior e alcançando um fatia de 2,5% do total do investimento estrangeiro anunciado para a Europa», refere o relatório, destacando tratar-se de uma «performance muito positiva».

No entanto, «deverá ser afectada pelos efeitos da COVID-19».

Por toda a Europa, «já se sente o impacto imediato da pandemia nos projectos de IDE – apesar de em menor grau do que o esperado para os novos projectos planeados para 2020».

«De acordo com uma ronda que a consultora EY fez por várias agências responsáveis pela promoção do investimento externo, dos 6.142 projectos de IDE anunciados nas diversas economias europeias, no ano passado, 35% estão em risco de serem adiados, fortemente ajustados ou até cancelados», refere.

Em Portugal, acrescenta, o impacto esperado deverá ser menos severo, com 20% dos 158 projectos anunciados potencialmente em risco.

«Naturalmente, Portugal não está imune às ondas de choque provocadas pela pandemia de COVID-19, um acontecimento que vem perturbar, sem precedentes, a vida das pessoas e da actividade económica, que está altamente dependente de sectores que estão a ser fortemente afectados pela crise, nomeadamente o turismo e lazer, ou a aviação», diz Miguel Farinha, partner da EY Portugal e responsável pela área de Strategy and Transactions, citado em comunicado.

«Neste contexto, o IDE será certamente impactado. Todavia, a nossa análise mostra que o IDE em Portugal poderá ser mais resiliente no curto prazo do que na maioria das economias congéneres europeias, devido ao perfil dos projectos que o país tem conseguido atrair», prossegue.

Tratando-se de uma economia orientada para os serviços, em que uma larga fatia dos projectos de IDE se destina a actividades ligadas ao desenvolvimento de ‘software’, investigação & desenvolvimento ou à criação de centros de serviços partilhados, é expectável «que o impacto a curto-prazo seja menos severo», nota o responsável.

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