Portugal desaproveitou mais de 160 mil licenciados na última década

A Associação Business Roundtable Portugal (Associação BRP), organização que representa 40 das maiores empresas e grupos empresariais em Portugal, apresentou ao país, um conjunto de medidas e soluções práticas de valorização e atracção do talento, algumas das quais já testadas e implementadas com sucesso, para criar mais e melhores oportunidades de realização em Portugal.

 

O trabalho, reunido num documento agora tornado público, resulta do esforço conjunto de 22 empresas da Associação BRP e outras externas, e de cerca de 36 especialistas em liderança, gestão de pessoas e talento.

Portugal é, desde há décadas, um país com uma elevada emigração, o que se traduz em cerca de 2,6 milhões de pessoas a viver fora do território nacional (26% da população residente). Cerca de 70% (850 mil) dos emigrantes são jovens em idade activa, com idades entre 15 e 39 anos, o que faz com que mais de 1/3 dos nascidos em território nacional nesta faixa etária viva actualmente no estrangeiro, deixando assim de dar o seu contributo para a economia do país.

Apesar de as últimas cinco décadas de democracia em Portugal terem trazido um enorme desenvolvimento ao nível da educação, não se está a captar todo este potencial para a população activa. Na última década, 370 mil diplomados integraram a população empregada, mas o aumento potencial era superior a 530 mil, por isso o país desaproveitou mais de 160 mil licenciados.

O documento apresentado dá continuidade ao primeiro volume do paper BRP, publicado em Fevereiro de 2023, no qual a Associação BRP enquadrou e caracterizou o problema da atracção e retenção de talento em Portugal e apontou caminhos de solução. Neste segundo volume, além de actualizar o enquadramento geral, apresenta um conjunto de medidas e soluções práticas, assim como casos concretos implementados pelas empresas da Associação em áreas como cultura organizacional, organizações ágeis, liderança, benefícios e carreiras.

Portugal continua em desvantagem quando comparamos o nível de impostos e encargos sobre o trabalho, medidos pelo tax wedge (percentagem do custo de um trabalhador para a empresa que vai para o Estado). De acordo com dados da OCDE, em 2022, Portugal piorou a sua posição, passando da 10ª para a 9ª taxa mais elevada da OCDE (41,9%).

A situação é particularmente penalizadora nos agregados com filhos. Para um país que se debate há décadas com uma das mais baixas taxas de natalidade da União Europeia, Portugal alcança posições piores para famílias com dois filhos, estando entre o sexto e o oitavo lugar dos países com mais encargos. Um trabalhador solteiro com dois filhos pode estar sujeito a um tax wedge 55% acima da média da OCDE. Esta é uma situação que se reflecte na qualidade de vida das famílias, na sua dimensão média e, consequentemente, na decisão de permanência em Portugal.

O declínio da natalidade só não é mais acentuado graças ao contributo dos imigrantes. A inversão ligeira na tendência de queda da natalidade em 2022, ano em que nasceram 83,7 mil bebés, só foi possível devido ao número recorde de 14 mil nascimentos de bebés de mães com nacionalidade estrangeira em Portugal (16,7% do total de nascimentos no país).

Este documento é o resultado de um trabalho conjunto de 36 quadros especializados de 21 empresas da Associação BRP, aos quais se juntaram, como parceiros nesta área a Deloitte e a Mind Alliance, em grupos de trabalho focados em cinco áreas: Cultura Organizacional, Organizações Ágeis, Liderança, Carreiras e Benefícios.

Perante o desafio, a Associação BRP tem procurado, a partir do conhecimento e experiência dos seus 40 associados, identificar propostas concretas e pragmáticas para atrair, reter e desenvolver o talento em Portugal, contribuindo para tornar as empresas portuguesas e o país mais competitivos face a outros mercados.

Assim, neste estudo, apresenta os resultados positivos de cinco casos concretos de atracção e retenção de talento, desenvolvidos pelo Santander, Fidelidade, Grupo José de Mello, Pestana Hotel Group e Grupo Salvador Caetano, com o objectivo de informar e motivar outras empresas a adotarem práticas semelhantes.

Desde o reforço da cultura empresarial, que deve estar vocacionada para a meritocracia, suportada por uma avaliação de desempenho transparente e consequente, à importância da agilidade das organizações, são vários os exemplos apresentados.

A liderança, que abarca não apenas a forma de exercer a liderança, mas também a forma de seleção de líderes; as carreiras flexíveis em zig zag, que abrem novas perspectivas a muitos quadros sem que tenham a necessidade de mudar de empresa para serem expostos a novos desafios e oportunidades; e o “Employee Value Proposition” (EVP), sistema de agregação de todos os benefícios colocados à disposição dos colaboradores e que vão muito além dos salários e retribuições materiais, são as restantes dimensões em destaque para inspirar outras empresas a empreender um caminho favorável na atração e retenção de talento.

Consciente de que estas medidas não vêm resolver todos os problemas de atração de talento do país, a Associação BRP acredita que que os caminhos de solução apresentados contribuem, a médio prazo, para que as organizações possam criar um ecossistema laboral atractivo e competitivo, e, desta forma, desenvolver, crescer e ganhar escala. Com mais grandes empresas, o país terá maior capacidade para produzir mais, investir mais, gerar mais riqueza e pagar melhores salários. Conheça aqui o documento na íntegra.

Ler Mais