Portugueses de Sucesso, Inês Ayer: De S. Miguel para Nova Iorque, para «criar com impacto»
Inês Ayer, fundadora do Studio Ayer, integrou a lista “30 under 30” da Forbes Portugal em 2024. Natural de São Miguel, já passou por Lisboa, Berlim, Tailândia e Moçambique. Actualmente é senior designer na Pentagram Design, em Nova Iorque (NI), onde criatividade e propósito se unem em prol da transformação social, num «percurso a alta velocidade».
Por Tânia Reis
Queria ser violinista, mas cedo percebeu que o design lhe permitiria alargar horizontes e ter uma participação activa na resolução de problemas. Deixar S. Miguel para vir estudar para Lisboa foi o primeiro passo nesse percurso. Um estágio em Berlim levou-a à Tailândia, uma experiência de «trabalho criativo e desenvolvimento humano», que considera marcante. Em 2019, funda o Studio Ayer, «um lugar onde estratégias de comunicação, impacto e inovação» se cruzam e, quatro anos depois, muda-se para Nova Iorque. Pelo meio tirou uma pós-graduação em Gestão Aplicada e Economia, que lhe deu «uma perspectiva mais abrangente sobre como alinhar criatividade e gestão» e ferramentas práticas «para liderar com visão e propósito».
A designer assegura que, hoje, carrega o melhor dos dois mundos: de Portugal, a capacidade de colaborar com sensibilidade e criar com propósito, e de Nova Iorque, a energia inesgotável, a urgência de fazer acontecer.
Nasceu em São Miguel e, em 2013, veio estudar para a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Que impacto teve para si essa mudança?
Lembro-me sempre da frase de Saramago, “É preciso sair da ilha para ver a ilha.” Crescer em São Miguel deu-me uma ligação profunda à natureza e uma sensibilidade estética muito intuitiva. Mudar-me para Lisboa foi como abrir uma janela para um mundo novo, onde o design e a arte ganhavam outra dimensão. Foi um processo de descoberta constante.
Deixei a minha ilha para perceber a sua importância e para encontrar um espaço onde pudesse transformar essa herança em algo que criasse impacto social e cultural. Essa mudança foi o início de um percurso que me trouxe até aqui.
Design de Comunicação era o seu objectivo de carreira?
A curiosidade sempre me foi inata, o fascínio pela primeira pedra na inovação, quer seja ela o simples acto de bater uma clara e transformá-la num pitoresco castelo, ou a busca incessável pela descoberta de novos caminhos na ciência.
Numa fase inicial, quis traduzir esta ambição através da música pensando em ser violinista e integrar uma orquestra, mas durante o secundário percebi que o design me permitiria alargar horizontes e ter uma participação activa na resolução de problemas em várias áreas com foco estratégico e impacto.
Gosto de pensar no design como uma ferramenta para traduzir ideias e histórias para o mundo real, tal como a música traduz emoções. Esta carreira revelou ser a ponte ideal para unir criatividade e propósito, dois elementos fundamentais para mim desde sempre.
Em 2017, foi fazer um estágio em Berlim e daí partiu para uma escola na Tailândia. O que a levou a embarcar nesse projecto de voluntariado?
Berlim foi uma experiência vibrante e profissionalmente estimulante. Depois desse ritmo intenso, senti a necessidade de algo mais próximo e humano. Descobri a escola na Tailândia e soube imediatamente que queria estar lá. A ideia de poder ensinar e aprender ao mesmo tempo, num contexto tão distinto, parecia a extensão natural do meu percurso. Foi um equilíbrio entre trabalho criativo e desenvolvimento humano que me marcou profundamente.
Sempre teve esse “bichinho” de ver o mundo? Que principais lições de vida retira dessas experiências?
Viajar é uma fonte inesgotável de inspiração e crescimento no meu percurso. Cada lugar que visitei desafiou a minha visão do mundo e ampliou o entendimento sobre culturas e formas de comunicação. Essas experiências ensinaram-me a potenciar a escuta activa, a ser flexível perante novas realidades e a apreciar a diversidade como uma riqueza inestimável. Mais do que abrir horizontes criativos, viajar tornou-me uma designer mais consciente e comprometida com o impacto global do meu trabalho.
O que esteve por trás da fundação, em 2019, do Studio Ayer?
Surgiu de uma vontade genuína de criar um espaço onde o design pudesse ser usado como uma ferramenta transformadora da sociedade. Queria um estúdio que fosse mais do que uma agência criativa – um lugar onde estratégias de comunicação, impacto e inovação se cruzassem. A palavra “Ayer” significa “ontem” em espanhol, uma referência à nossa responsabilidade de aprender com o passado para desenhar um futuro melhor.
Descreve-se com “uma designer humanista com uma abordagem 360º na resolução de problemas através do design enquanto shifter da sociedade”. Como é que o design pode transformar a sociedade?
O design é uma ferramenta poderosa para a transformação social porque combina visão estratégica, narrativa e execução prática. Quando bem formulado, o design cria soluções que vão além da camada visual para dar lugar ao serviço e à funcionalidade. Vejo o design como um processo de colaboração multidisciplinar que permite construir pontes e traduzir ideias complexas em mudanças tangíveis.
Em 2020, pós-graduou-se em Gestão Aplicada e Economia na Nova SBE, por que sentiu necessidade de reforçar as suas competências de liderança?
Acredito que uma abordagem criativa inovadora precisava de ser sustentada por uma visão de negócio sólida. No início, via a liderança como algo mais intuitivo, mas à medida que o Studio Ayer crescia, percebi que era fundamental dominar áreas como negociação, planeamento estratégico, macroeconomia e gestão financeira para assegurar um desenvolvimento sustentável.
Queria entender melhor como gerir uma equipa, tomar decisões informadas e criar parcerias estratégicas com impacto duradouro. A pós-graduação na Nova SBE deu-me uma perspectiva mais abrangente sobre como alinhar criatividade e gestão, fornecendo ferramentas práticas que reforçaram a minha confiança para liderar com visão e propósito. Apesar de o meu tempo na Nova SBE ter sido relativamente curto, os resultados foram rapidamente visíveis. Fiquei surpresa e honrada por todo o reconhecimento que esta grande universidade me proporcionou, especialmente neste último ano, desde o convite para fazer o discurso na graduação das licenciaturas até à nomeação para os Young Alumni Awards da Nova SBE e ter conquistado a categoria de Outstanding Young Alumni. Foi uma jornada intensa e transformadora, cujo impacto continuo a sentir e a valorizar.
Leia a entrevista na íntegra na edição de Janeiro (nº. 169) da Human Resources.
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