
Preço das casas aumentou 90% em oito anos, mas os salários apenas 20%. Portugal entre os cinco países da UE com maior subida
A propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se celebra hoje, dia 17 de Outubro, a Pordata, a base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, divulgou um conjunto de dados que formam um retrato do nível de pobreza da população portuguesa.
Através deste retrato é possível perceber que o preço das casas aumentou 90% em relação a 2015, quando os salários aumentaram 20%, estando Portugal entre os quatro países da União Europeia (UE) com maior aumento dos preços das casas.
De acordo com os dados, este é um valor acima do registado a nível da União Europeia, de 48%. Desde 2019, que Portugal está entre os cinco países da UE com maior aumento dos preços das casas, acompanhado pela Hungria, Chéquia, Lituânia e Luxemburgo. Confrontando o aumento das casas com a variação dos salários médios, verificamos que, face a 2015, os salários em Portugal aumentaram 20%, muito aquém do aumento de 90% das casas.
Além disso, em 2022, quase um terço dos inquilinos (29,4%) estava em situação de sobrecarga financeira com as despesas com a habitação.
Verifica-se igualmente que 18,5% das crianças e jovens em Portugal vivem em situação de pobreza, que mais de um terço das famílias ganhavam, em 2021, no máximo, 833 euros brutos mensais; que o salário mínimo actual, de 760 euros, vê na prática o poder de compra baixar para 678 euros; ou que aumentou o número de pessoas sem capacidade financeira para assegurar uma refeição de carne, peixe ou equivalente vegetariano de dois em dois dias (de 2,4% para 3%), entre outros indicadores.
Se acrescentarmos o escalão de rendimento imediatamente a seguir, conclui-se que mais de metade das declarações (53%) correspondiam a rendimentos até aos 1125 euros brutos mensais.
De salientar ainda que 688 mil agregados fiscais se encontravam no escalão mínimo de IRS (até 5000 euros anuais, equivalente a 417 euros mensais), apesar da descida de 6,5% face ao ano anterior (-48 mil agregados fiscais).
Em termos de distribuição dos rendimentos declarados, os 20% dos agregados fiscais mais ricos ganharam 3,5 vezes mais que os 20% dos agregados mais pobres. Em concelhos como Lisboa, Porto, Oeiras e Cascais, a diferença é de cinco vezes mais.
Os mesmos dados revelam que, em 2021, Portugal foi o 4º país da UE27, a seguir à Bulgária, Lituânia e Letónia, com maior peso (40,5%) do rendimento disponível atribuído aos 20% da população mais rica. Em países como a Eslováquia, Eslovénia e a Bélgica, o valor fica abaixo dos 35%. Já aos 20% mais pobres, é atribuído 7,9% do total do rendimento disponível (vs. a média europeia de 8,2%).