Quer um emprego com futuro? Mais de 90% dos empregadores portugueses tem dificuldade em encontrar talento “verde”. São estas as funções mais requisitadas

O estudo Green Business Transformation Whitepaper, divulgado recentemente pelo ManpowerGroup, revela que 65% dos empregadores nacionais estão já a recrutar ou a planear recrutar talento verde, e as funções verdes mais procuradas são de Operações e Logística, Tecnologias da Informação e Data e Indústria e Produção.O Fórum Económico Mundial prevê que a transição verde das empresas, a nível global, se torne a maior fonte de criação de emprego nos próximos anos. Segundo um estudo da Agência Internacional de Energia, prevê-se que, até 2030, a transição verde crie até 30 milhões de novos empregos. Face a esta tendência, os empregadores estão já a começar a agilizar os seus esforços de aquisição e requalificação de talento verde, com 70% a nível global – e 65% a nível nacional – a afirmar estar já a recrutar ou a planear activamente recrutar talento verde.

Esta realidade é mais acentuada, a nível global, no sector da Energia e Utilities, com 81% dos empregadores a revelar estar a recrutar talento verde ou a planear fazê-lo, dado o forte crescimento global da produção de energias renováveis. Seguem-se os sectores das Tecnologias de Informação (77%) e das Finanças e Imobiliário, com 75%. Em Portugal, esta ordem altera-se, com o sector das Tecnologias de Informação a surgir em primeiro lugar (78%), seguido dos setores das Finanças e Imobiliário (74%) e da Energia e Utilities (71%).

Quanto às funções mais procuradas, os responsáveis de contratação a nível global afirmam que procuram talento verde, de forma mais intensa, para funções de Indústria e Produção (36%), Operações e Logística (31%) e Tecnologias da Informação e Data (30%). No contexto nacional, destacam-se, primeiramente, funções de Operações e Logística (35%) e, posteriormente, de Tecnologias da Informação e Data (33%) e Indústria e Produção (31%).

A transição verde está a ocorrer num período de crescente escassez de talento, com três quartos dos empregadores em todo o mundo a afirmar ter dificuldade em encontrar o talento de que necessitam. No caso das competências verdes, este cenário de escassez de competências é ainda mais acentuado. A nível global, 94% dos empregadores revela não ter o talento necessário para alcançar os seus objectivos ambientais, sociais e de governo corporativo, sendo que em Portugal esta dificuldade é sentida por 91% dos empregadores.

Entre os principais desafios destacam-se factores como encontrar trabalhadores com as green skills necessárias (44%), criar programas relevantes de requalificação profissional (39%) e identificar competências existentes aplicáveis aos esforços de transição verde (36%).

Apesar das necessidades dos empregadores, o desencontro de talento global é substancial. Segundo dados do LinkedIn Global Green Skills Report 2023, actualmente apenas um em cada oito trabalhadores possui mais do que uma competência verde. Além de um desafio para os empregadores, esta escassez de competências verdes dos profissionais representa também uma grande oportunidade perdida para os trabalhadores.

De facto, a taxa média de contratação de profissionais com pelo menos uma competência verde é 29% superior à média da força de trabalho, e o número de ofertas de emprego que requerem pelo menos uma destas competências cresceu 15% no início de 2023 face ao período homólogo do ano anterior.

A escassez de competências verdes é particularmente acentuada em sectores altamente técnicos, como as energias renováveis e o sector automóvel. À medida que a produção nestas indústrias for crescendo, para acompanhar o aumento da procura, é previsível que aumente também o número de funções e a necessidade de competências verdes, acentuando assim os desafios de empregadores.

A transição verde está, sem dúvida, a acelerar devido ao crescente interesse de stakeholders chave neste processo, tais como governos, consumidores e investidores. À medida que o impacto das alterações climáticas globais continua a crescer, aumentam cada vez mais as exigências de acção, pelo que é fundamental que as empresas consigam compreender efectivamente os principais aceleradores desta transição.Acelerador 1: Mais exigências de sustentabilidade por parte dos consumidores e investidoresActualmente, as organizações que oferecem produtos e serviços sustentáveis e que se destacam pelos seus esforços nesta matéria não só conseguem aumentar a sua quota de mercado como conseguem atrair o melhor talento e um leque mais alargado de investidores. Hoje, quase metade dos consumidores (49%) em todo o mundo escolhe pagar mais por produtos sustentáveis, e 75% dos consumidores da Geração Z priorizam a sustentabilidade sobre a marca quando fazem compras.

Para além disso, o desempenho ecológico faz, cada vez mais, parte do processo de avaliação das oportunidades de emprego por parte dos candidatos, que desejam ver progresso real mais do que simplesmente promessas. De acordo com o estudo, a evidência de uma acção clara para combater os problemas ambientais é o factor com maior probabilidade de influenciar positivamente a sua decisão, enquanto uma má reputação em matéria de questões ambientais é o factor com maior probabilidade de influenciar negativamente.

Por outro lado, e para além das exigências e preferências dos consumidores, também os investidores estão mais atentos. Segundo dados da PwC, mais de três quartos dos investidores (79%) afirmam que a forma como uma empresa gere os riscos e as oportunidades de ESG é um factor importante na sua tomada de decisões de investimento.

Acelerador 2: Mais acção governamental em matéria de sustentabilidadeCom vista a cumprir com as suas promessas no âmbito da COP – Conferência das Partes das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas –, a acção governamental, nos diversos blocos de comércio internacional, regiões e países, tem vindo a pressionar as organizações para assumirem os seus próprios compromissos de zero emissões líquidas.

Não obstante, o principal desafio para os decisores políticos tem sido traduzir as ambições globais de redução das alterações climáticas em regulamentações e acções concretas, sem prejudicar os diferentes stakeholders, tais como as comunidades locais, os consumidores ou as empresas e os trabalhadores.

A promessa de um futuro net zero na energia, transportes, agricultura, habitação e infraestruturas não será cumprida se não se considerar o impacto social nos empregos, nos preços e no acesso aos produtos. Por isso, aumentam os esforços para conciliar em simultâneo a transição de actividades económicas intensivas em carbono com a construção de um futuro económico mais verde e mais social.

A nível dos governos há um crescente compromisso com princípios fundamentais que devem ser assegurados na concretização de actividades de transição, para alcançar a meta das zero emissões líquidas de forma mais justa. Do lado das organizações, os líderes empresariais têm também um papel fundamental a realizar, contribuindo para corrigir potenciais desequilíbrios – ao mesmo tempo que abordam o desafio da escassez de talento – através do suporte ao desenvolvimento das competências necessárias para os empregos verdes do futuro.

É necessário um compromisso com a criação e o desenvolvimento de uma força de trabalho altamente qualificada, competente e flexível, de forma que a transição para o net zero gere valor a todos os níveis da sociedade.

Com base em questionários a quase 39 mil empregadores e mais de 5000 trabalhadores em todo o mundo, os resultados do Green Business Transformation Whitepaper sublinham a urgência de as organizações cumprirem os seus objectivos e compromissos ambientais, num contexto onde a convergência de escassez de talento, crescentes alterações climáticas e disrupção tecnológica levantam importantes desafios ao progresso das estratégias de sustentabilidade nas organizações.

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