Randstad: A importância da flexibilidade

A flexibilidade é fundamental para a competitividade das empresas e também cada vez mais procurada pelos profissionais. Daí a crescente importância do trabalho temporário enquanto resposta às necessidades actuais.

 

Tendo em conta a mudança dos contextos empresariais, dos modelos de negócio e dos perfis dos candidatos, o trabalho temporário terá, ele próprio, de se adaptar. Na opinião de Vítor Peliteiro, director de Staffing da Randstad Portugal, neste contexto, a flexibilidade vai desempenhar um papel importante cada vez mais importante.

 

O trabalho temporário parece adquirir uma importância cada vez maior no contexto do mercado de trabalho europeu. De que forma analisam este crescimento?
A flexibilidade dos negócios, mas também a procura por essa flexibilidade pelos trabalhadores, leva a que este modelo de contratação ganhe importância e seja uma boa resposta às necessidades actuais. Embora os últimos anos tenham sido de crescimento moderado, o actual panorama do Covid-19 terá, com certeza, impacto negativo nesta actividade.

 

Que papel desempenham no actual mercado de trabalho as formas alternativas de emprego?
A população activa portuguesa tem como principal critério de decisão de emprego o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Esta conciliação é possível através de modelos de trabalho flexíveis, seja através de trabalho temporário, seja muitas vezes como freelancers. O crescimento da chamada gig economy é também um reflexo disso mesmo e não podemos tentar parar esta tendência e continuar a confundir flexibilidade com precariedade. Ao mesmo tempo, esta flexibilidade também é fundamental para a competitividade das empresas, seja por sazonalidade, seja até para testes de inovação e lançamento de produtos.

 

Quais são hoje as questões que se colocam em torno do trabalho temporário? Ainda existe algum “estigma”?
Um dos principais problemas é precisamente a confusão entre flexibilidade e precariedade. Apesar de hoje haver um maior esclarecimento e debate sobre o tema e a própria legislação laboral proteger cada vez mais estes trabalhadores, continuamos a sentir alguma desinformação, quer da parte de clientes quer de candidatos, embora neste último caso, e em particular nas gerações mais jovens, seja cada vez menos encarado de forma negativa.

 

Qual o vosso posicionamento neste sector?
O posicionamento da Randstad alia as necessidades temporárias das organizações com as dos candidatos/talentos, garantindo sempre o cumprimento da lei. A evolução natural, quer das várias formas de contratação, quer do próprio posicionamento das novas gerações face ao mercado de trabalho, proporciona uma integração muito mais positiva do trabalho temporário.

 

E, neste início de década, o que acredita que vos diferencia?
Para além das nossas pessoas, que consideramos sempre o nosso maior factor diferenciador, a Randstad tem apostado globalmente na inovação tecnológica, que nos permite, por um lado, introduzir valor na nossa oferta de serviços, mas, por outro, facilitar o dia-a-dia dos nossos consultores de forma a terem mais tempo para aquilo em que fazem efectivamente a diferença, na relação com clientes, candidatos e colaboradores.

Hoje conseguimos, através da nossa “Digital Factory”, desenvolver ferramentas que concretizam este objectivo de equilíbrio entre o tech e o touch, como é o caso do Youplan. O Youplan  é uma ferramenta que permite aos nossos clientes gerir escalas, planear turnos, propor horas extra, introduzir avaliações, registos de horas e ainda comunicar de forma imediata com os seus colaboradores. Esta ferramenta já nos permitiu implementar operações com grande complexibilidade na gestão de horários, que de outra forma seria muito difícil a sua concretização,  ao mesmo tempo que acelera a colocação de trabalhadores.

 

De que forma se estrutura actualmente a vossa oferta?
A nossa área de trabalho temporário tem duas soluções diferentes: o recrutamento e selecção com a gestão administrativa e de pessoas ou apenas a gestão contratual. Um dos factores que nos diferencia é a especialização em alguns sectores onde os perfis são muito especiaizados. Consoante as necessidades e o volume, temos também modelos de serviço mais customizados no que diz respeito a acompanhamento da operação, analytics ou tecnologia. A nossa solução Inhouse permite aos nossos clientes um acompanhamento contínuo nas suas instalações, contribuindo para o incremento da produtividade dos recursos humanos e ainda a redução de custos.

 

Qual a importância da especialização nas empresas de trabalho temporário?
Com a diminuição sustentada da taxa de desemprego, os níveis de esforço do recrutamento tem aumentado de forma muito significativa nos últimos anos. Neste contexto, a especialização permite um maior foco um maior foco nos processos das respectivas áreas, garantindo maior eficácia no processo de recrutamento, uma maior adequação à função solicitada, assim como a melhoria do network necessário à identificação das melhores pessoas.

 

Há hoje maior procura por parte das empresas? Em que sectores, principalmente?
A procura é muito dependente da conjuntura económica, mas se identificarmos os principais sectores do trabalho temporário são: indústria, tecnologias de informação, vendas e comercial, serviços de apoio ao cliente, restauração e turismo.

 

O que leva as empresas a optar pelo trabalho temporário?
As organizações procuram cada vez mais modelos alternativos de contratação, com maior produtividade e flexibilidade. As empresas necessitam de modelos diferenciadores e diferenciados, que passam pelos modelos de contratação, de gestão e até de análise qualificados. O trabalho temporário responde a todas estas necessidades.

 

E os trabalhadores, que motivos levam os candidatos a escolher esta opção?
As novas gerações já não procuram empregos douradouros ou planos de carreira, têm uma ideologia disruptiva sobre o emprego, procuram experiências e ligações às organizações, onde a curva de aprendizagem tem que ser rápida e diferenciadora. É neste contexto que o trabalho temporário responde a estas necessidades, proporcionando as experiências que procuram, quer pela duração contratual, diversificação de funções ou modelos funcionais. Para outros candidatos, o trabalho temporário responde a necessidades financeiras imediatas e temporárias, ou, ainda, são a oportunidade de entrar quer no mercado de trabalho, quer particularmente nas empresas que elegem como “alvo”.

 

Em que áreas é a procura das empresas superior à oferta de candidatos?
As áreas onde a procura é maior são a do imobiliário, farmacêutica, biotecnologia, educação e formação, consultoria, restauração, hotelaria e tecnologias de informação.

 

Como uma das mais experientes empresas a actuar neste sector, que mudanças identifica a Randstad ao nível dos perfis dos candidatos?
As novas gerações estão hoje muito motivadas para trabalharem numa lógica de projecto. Querem projectos que lhes garantam a possibilidade de aprender coisas novas e de participarem num propósito comum, que lhes proporcione uma motivação complementar à necessidade de terem apenas um trabalho, para daí retirarem o respectivo retorno financeiro.

 

Partilhe connosco algumas das boas práticas levadas a efeito na Randstad?
O lado humano do trabalho não é apenas uma tendência, a curto prazo estima-se que será factor diferenciador de qualquer estrutura, com consequências directas na marca e ganhos financeiros. Nesse sentido, a Randstad está a implementar o projecto “Customer Delight”, que mede, de forma contínua, a experiência de candidatos, colaboradores e clientes, através da monitorização de dados em tempo real. Pretende transformar a experiência da atracção e retenção de talento.

Numa sociedade globalizada, garantir competitividade não se resume a dispor de um determinado produto ou serviço, trata-se cada vez mais da orientação para o cliente e candidatos, da qualidade da experiência, níveis de satisfação e engagement que proporcionamos.

 

Comparativamente com o mercado europeu, como analisam o mercado nacional do trabalho temporário?
Portugal continua a ter uma percentagem baixa de contratos de trabalho temporário, sendo que, na Europa, é nos Países Baixos que vemos a maior expressão deste tipo de contratos e a taxa de penetração não ultrapassa os 3,5%. O que assistimos em Portugal é a uma confusão entre os contratos a termo que, por duração, são temporários, e os contratos de trabalho temporário enquanto figura jurídica, que têm um regime próprio e que apenas são prestados por empresas de trabalho temporário. Este facto leva a que, perante os dados revelados pelo Eurostat em que um em cada cinco portugueses é temporário, se associe ao vínculo de trabalho temporário, o que não é verdade. Ao mesmo tempo, a lei prevê várias diferenças de regime entre estes tipos contratuais, sendo precisa nos motivos que levam à contratação com vínculo de trabalho temporário e obrigando à equiparação salarial do trabalhador temporário aos funcionários com a mesma função na casa do cliente.

Assim, acreditamos que é fundamental que haja maior informação para que o trabalho temporário não seja diabolizado, mas sim usado enquanto ferramenta de flexibilidade para as empresas e candidatos.

 

De que forma perspectivam o trabalho temporário com a entrada das novas gerações no mercado de trabalho?
De forma resumida, e até simplista, há uma tendência para relacionar alguns aspectos como o worklife balance, a necessidade constante de mudança e novas experiências, com estas gerações. Neste contexto, há uma tendência aparente, para que estas novas gerações potenciem e priveligiem o trabalho temporário, uma vez que facilitará e responderá a muitas das suas prioridades. Para além desta tendência, existe ainda a necessidade constante de experenciarem novas funções, de promoção de novos networks, facilitará a adopção destas gerações ao trabalho temporário. Acreditamos, por isso, que não serão os únicos, mas os principais promotores do trabalho temporário.

 

Qual o papel a desempenhar pelo trabalho temporário numa organização que se quer cada vez mais agile? Há espaço para ele ou não?
Claro que sim. Diria que um dos objectivos do trabalho temporário é precisamente tornar as organizações mais agile, mais flexíveis e mais adaptadas a um mercado que cada vez mais é global. As empresas precisam cada vez mais de ferramentas que lhes permitam adaptar a sua força de trabalho às variações de encomendas, às incertezas de mercado, a epidemias que interferem na economia, entre outros.

 

Que futuro perspectivam para o sector?
Julgo que nos próximos anos assistiremos a uma mudança de paradigma na forma como identificamos o talento e na forma como o nosso modelo de serviço é oferecido. Teremos que ter um papel muito mais proactivo na identificação, na qualificação e na recolocação das pessoas que connosco trabalham. Iremos, certamente, ao encontro de modelos de serviço que nos permitam trabalhar mais os nossos candidatos e colaboradores no sentido de lhes proporcionar uma gestão de carreira em vez do modelo actual, cuja necessidade é criada pelos nossos clientes.

Ou seja, passaremos a ser nós a gerir a carreira das pessoas e a encontrar nos nossos clientes as melhores opções de trabalho em vez de esperarmos que sejam os nossos clientes a pedir candidatos para que o posto de trabalho em aberto seja ocupado.

 

Que objectivos se propõem alcançar durante 2020 relativamente ao trabalho temporário?
Temos como objectivo primordial proporcionar maior valor aos nossos clientes, candidatos e colaboradores. Através da nossa aposta estratégica na tecnologia, acrescentaremos valor aos produtos que apresentamos aos nossos clientes, proporcionaremos uma experiência muito mais personalizada aos nossos candidatos durante toda a jornada com a Randstad, assim como nos permitirá proporcionar aos nossos colaboradores internos um maior worklife balance e
uma melhor experiência laboral.

 

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Trabalho Temporário”, publicado na edição de Março da Human Resources.

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