Randstad: «Comunicar de todos, para todos»

A Comunicação Interna é uma área de crescente importância na Randstad, principalmente nos tempos em que vivemos.

 

A Randstad sublinha a importância de respeitar a essência do conceito de comunicação, ou seja, “pôr em comum”. Desta forma, é neste ponto que reside a atenção da área de Comunicação Interna. Cada vez mais, a empresa empenha-se em contribuir para sejam criadas pontes que potenciem transparência na informação, no retorno e no feedback por parte dos colaboradores, bem como no alinhamento com a estratégia corporativa. Paula Lampreia, learning, development & culture director, Randstad Portugal, explica à Human Resources Portugal a estratégia de Comunicação Interna da Randstad.

E quais os objectivos da área de Comunicação Interna da Randstad para 2023?
Manter os momentos informativos, potenciar a comunicação assente na partilha de experiências – de pessoas para pessoas, diminuir a comunicação escrita apostando na criatividade e inovação para garantir clareza mas também profundidade nos conteúdos sem passar a noção de “é muita coisa… vejo mais tarde”. O alinhamento entre todas as áreas para que possamos comunicar de forma clara, concisa, no tempo certo, é essencial para que se contribua para uma cultura de comunicação forte e aqui é essencial permitir que o receptor também possa ser emissor.

Quais os grandes desafios que antevêem para esta área nos próximos tempos?
Fazendo a mudança de agulha para o tema Cultura Organizacional, compreendemos que os drivers associados à comunicação interna são sempre os que contribuem de forma menos positiva para a consolidação de uma cultura forte. “Falhas na comunicação”, “áreas que não comunicam entre si”, “líderes que não partilham, não dão feedback”, “pares que estão desalinhados porque não potenciam a partilha”, entre tantos outros exemplos que poderemos pensar. Estes exemplos não têm chapéu, podem pertencer a todas as organizações. A comunicação interna tem que ter “costas largas” porque recebe todas estas culpas. Porquê? Porque muito provavelmente se pensa em comunicação interna quando referimos o processo de partilha de informação que se faz dentro da empresa, mas depois será que exploramos a essência da comunicação? A que referi inicialmente – pôr em comum. Associar a comunicação interna a uma área pode desresponsabilizar todas as outras, não associar poderá dificultar a dinamização de um plano de acção claro e concretizável.

Desta forma, diria que um dos maiores desafios é mesmo fazer com que comunicar seja de todos e para todos. Criando canais que permitam partilhar experiências. Como adultos, a forma como aprendemos, como retemos informação tem muito mais a ver com partilha de experiências, escutar histórias que nos inspiram, do que ler e-mails ou newsletters que podem ter tudo o que precisamos, mas que associamos logo a “consumo de tempo que não temos”.

Não devemos ler? Nada disso! Devemos ler sim, o nosso cérebro precisa desse estímulo para assimilar informação, mas precisamos compreender porque queremos ler, aprofundar, saber, explorar conhecimento. E para lá chegarmos, diria que estímulos visuais, histórias inspiradoras são importantes. Fazendo o exercício, para vocês, ao lerem esta partilha, o que se recordam de forma mais presente? O último email que leram ou um vídeo do/a presidente ou director/a ou até mesmo de um colega a partilhar uma experiência? O que se lembram em primeiro lugar? Que mensagem ficou? Ser corporativo não tem que ser “chato”, pode ser envolvente e interessante. E acredito que aqui estará o maior desafio da comunicação interna, tornar temas pesados mas necessários em temas que envolvam e que conquistem, através de ferramentas apelativas, integrativas, que permitam que todos se sintam parte.

De que forma a situação económica e geopolítica tem impacto na estratégia, nos conteúdos e na forma de comunicar com os colaboradores?
Esta é uma pergunta muito abrangente porque se a situação económica e geopolítica tem impacto directo e indirecto no que se passa na casa de cada um de nós então tem que ter impacto nas organizações e na forma como comunicamos com os nossos colaboradores.

Todos escutamos as notícias, todos compreendemos o que se passa à nossa volta e cada vez mais sentimos os efeitos do que está a acontecer no país e no mundo. Por isso, acreditamos que acima de tudo temos que escutar o impacto que pode estar a ter nas nossas pessoas. Comunicar também é isto, estar disponível para receber. Quais os impactos da inflação nas nossas pessoas? Como estão a conseguir gerir as suas despesas quando a inflação sobe mais que a possibilidade de aumentos salariais pensados pelas empresas? Como estão a gerir o cabaz de compras alimentares mensal face aos aumentos de preços? A comunicação da empresa, tem que ser clara quanto ao “estamos juntos” e precisamos, acima de tudo, escutar o que se pode fazer para apoiar este caminho mais desafiante para todos nós.

Não podemos extremar posições e, principalmente, nunca poderemos não comunicar. Não comunicar é também uma forma de comunicar e permite dar espaço a interpretações que podem ser bem mais complexas. Desta forma, criar canais que permitam um espaço de comunicação regular, transparente, aberto a questões, revela-se essencial nesta fase.

Foi o que fizemos durante a pandemia e que nos permitiu uma proximidade única entre todos os colaboradores e é o que mantemos neste momento, muito a pedido dos colaboradores, pelo que se destaca o impacto que estes momentos podem ter.

Há já algum tempo que as empresas estão a trabalhar com regimes híbridos. Como tem sido a experiência de comunicar com os colaboradores nestas novas condições e quais os aspectos a melhorar/desenvolver decorrentes dessa experiência?
A mudança repentina que tivemos que fazer quando, no arranque de 2020, o País ficou fechado em casa mostrou-nos que podemos comunicar sem estarmos fisicamente presentes. A necessidade de mudança de mindset durante a pandemia permitiu-nos confirmar que podemos comunicar mesmo que à distância, que podemos estar perto mesmo estando longe. Hoje não precisamos ir ao Porto, nem vir a Lisboa para reunirmos, podemos fazer reuniões de equipa com elementos espalhados pelo País e até pelo mundo. O longe tornou-se perto. Mantivemos ou melhoramos a produtividade, podemos conectar o nosso dia-a-dia de trabalho com a nossa família, o nosso espaço. Provámos que é possível. Riscos… Não conseguirmos desligar, deixarmos que o espaço de trabalho entre pela nossa casa dentro. Pelo que o risco acredito não está nos canais que usamos para comunicar mas na ausência de alertas para desconectar.

A essência do regime híbrido deve estar, não na distância, mas no estarmos juntos sempre que seja importante, que seja essencial a presença, tendo a liberdade para articular o estar virtual com o estar presente tendo por base que é possível termos os dois. Antes vivíamos em caixas, estar à distância era algo inconcebível. No início de 2019, na Randstad, lançamos o work from anywhere, um dia de trabalho a partir de casa ou de onde quiséssemos. Foi recebido com estranheza ao princípio. Não estar no escritório? O “estar” estava associado mais a controlo do que à importância de estarmos juntos. Como é que vamos saber o que estão as pessoas a fazer?

Provou-se que não precisamos ter lentes em cima das pessoas para conseguirmos alcançar objectivos e com isto tivemos, sem saber, a preparação para o que aí vinha.

Isto provou-nos que o tema não está na resposta ao que surge mas sim na antevisão do que é possível quando pensamos nas pessoas, quando escutamos, quando criamos canais que permitem não só proximidade, mas escuta activa.

Num mundo cada vez mais digital, como mantém a proximidade, sentimento de pertença e humanização na forma como comunicam com equipas em modo remoto?
Num mundo cada vez mais digital o foco está em valorizar a relevância da presença. Ou seja, precisamos estar sempre juntos? Não. Mas devemos valorizar quando o estamos. Reuniões de equipa em que se quer passar mensagens fortes e essenciais para o desempenho da equipa. Momentos fun para celebrarmos. Eventos de empresa onde podemos juntar as pessoas mas também partilhar estratégia, mostrar caminhos, inspirar. Sempre nos foi dito que “damos mais valor quando perdemos”. Neste caso, nada se perdeu, simplesmente se transformou. Fará sentido voltar ao que tínhamos antes da pandemia? Não. Porque nesse caso o estar presente, se me permitem, era banalizado, simplesmente se estava. E acaba por ser desvalorizado, porque o importante não estava associado ao estarmos juntos mas sim ao controlarmos, ao sabermos quando a pessoa entra ou sai, vermos o que está a ser feito. Hoje temos a oportunidade de reforçar a confiança, de humanizar a relação. Estamos porque queremos ou precisamos estar e não porque há um horário que impõe que estejamos.

De que forma a comunicação interna pode ajudar à atracção e retenção de talento nos novos modelos de trabalho?
A comunicação, quando bem desenvolvida, contribui para unir, para clarificar, para envolver, para partilhar, entre muitas outras coisas. Pontos que penso que todos concordam, contribuem de forma directa para criar envolvimento e sentido de pertença por parte dos colaboradores. Se existir uma comunicação transparente, verdadeira (em que se veja que o que se diz está alinhado com o que se faz). Gandhi dizia “temos ser a mudança que queremos ver” e não há conceito mais verdadeiro. Para comunicarmos, temos que ser esse algo para lhe dar credibilidade. Não basta dizer que somos uma empresa que aposta no wellbeing dos colaboradores, que colocamos as pessoas em primeiro lugar, que acreditamos no caminho da sustentabilidade. Precisamos ser. E ser é, por exemplo, a Randstad ser a única empresa de recursos humanos integrada no índice de sustentabilidade dow jones. Quando comunicamos interna e externamente este facto, demonstramos que para ali estarmos não podemos ter somente intenções e que todos fazemos parte. Comunicar esta acção tem um impacto muito superior, acredito, a dizer que somos uma empresa que aposta na sustentabilidade.

Quais os canais de comunicação interna que mais são utilizados, hoje, pela Randstad?
Apostamos muitos em canais que permitam a utilização de imagem e som, vídeos, momentos de partilha programados, em que nos possamos ver. Sempre que apostamos numa comunicação escrita tentamos que seja o mais visual possível, sublinhando as mensagens principais a transmitir com cores ou imagens.

Temos toda uma solução promovida pela Randstad em termos de imagens, cores, ícones, que apoiam muito a construção de um tom de voz Randstad em todas as comunicações feitas. Não basta dizer que é comunicação interna, há que ter o ADN corporativo.

Temos uma rede interna de partilha, o connect, que nos liga local, mas também globalmente, apostando principalmente no pilar da transparência. Qualquer colaborador integrado na estrutura corporate consegue ter acesso ao que é partilhado na global sem ter que esperar que alguém lhe diga ou que se partilhe localmente.

E quais os temas/conteúdos mais relevantes nesta altura?
No caso da Randstad, e porque somos uma empresa de pessoas para pessoas, os temas legais estão na agenda do dia, tal como temas de protecção de dados e segurança de informação. Preparar as nossas pessoas para a importância de estarem bem mesmo a partir de casa – wellbeing, segurança e saúde no trabalho, saúde mental, física e social é também um tema na ordem do dia.

Mas, neste ano que se avizinha, outros temas caem sobre as famílias e temos que os trazer para a mesa de partilhas com o objectivo de apoiar e estarmos presentes – saúde financeira, gestão de dívida, economia doméstica, entre outros, são temas relevantes a que não poderemos deixar de dar destaque.

Quais as grandes tendências de futuro na área da comunicação interna?
Diria que a grande responsabilidade do presente para a área de comunicação interna é efetivamente contribuir para ser considerada essencial dentro de qualquer realidade organizacional. Acredito que sejam poucas as empresas que tenham esta área exponenciada e totalmente consolidada. Muitas vezes mistura-se com o conceito de projecto quando deve ganhar o estatuto de área de comunicação interna. Durante muito tempo ouvi dizer que comunicação é comunicação, interna e externa é igual. Não sou especialista em marketing, nem quero ter esta pretensão, mas penso que a acção de comunicar compete-nos a todos. Construir um plano de comunicação com impacto tem objectivos diferentes seja este feito para dentro da organização ou para fora. Pelo que diria que, mais que no futuro, devemos reforçar a importância das áreas de comunicação interna no presente. Como referi anteriormente, quando algo não corre bem, a culpa é da comunicação… o que nos demonstra muitas vezes que é uma zona cinzenta. Quem trabalha a comunicação interna? Todos o fazemos de certa forma, mas com que meios, com que estratégia, com que retorno temos a área de comunicação a funcionar? Isso só se conseguirá medir quando existir, de forma assumida, a área de comunicação interna.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Comunicação Interna” na edição de Fevereiro (n.º 146) da Human Resources nas bancas.

Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.

Ler Mais