Reflexões de um futuro (in)certo no Assessment de Talento
Chegou aquele dia, não chegou? Em que algumas coisas que víamos nos filmes se transformaram na nossa realidade diária e, de repente, temos um link na Internet que nos ajuda a fazer traduções, criar conteúdo, procurar artigos, referências, leis… até a fazer votos de casamento! É do Chat GPT que estou a falar.
Por Diana Santos, senior consultant da Mercer Portugal
Não me tomem por “velha do Restelo”, nasci no início dos anos 90 e sou do mais Millennial que existe – mas que isto me faz repensar uma série de verdades absolutas na forma como trabalhamos, faz.
Vivemos na era dos dados: em toda a jornada de trabalho conseguimos agora, claramente, identificar quais os dados que precisamos para tomar decisões. E os dados de 2023 do Global Talent Trends da Mercer não mentem: 48% das empresas querem compreender quais as competências na força de trabalho que têm hoje, 40% conduzem Assessments de competências técnicas, mas apenas 31% utilizam ferramentas psicométricas e só 11% utiliza plataformas de talento orientadas por Inteligência Artificial (IA). O que nos interessam estes dados? Tudo.
Cada vez mais empresas reconhecem que, por um lado não conhecem o talento que têm dentro de casa e, por outro, precisam de requalificar as competências dessas pessoas – o que não podem fazer se não conhecerem que competências precisam de mais atenção. É uma espécie de pescadinha de rabo na boca, certo? Querem ajudar através do desenvolvimento e da formação, mas não conseguem ajudar sem recorrerem a ferramentas de avaliação e medição de competências. No fundo, nesta saga de corresponder às mudanças de paradigma deste mundo rápido, ágil e incerto que vivemos hoje, todos os caminhos vão dar ao Assessment.
Vamos voltar um pouco atrás? Mostrei-vos que apenas 11% das empresas usam IA nas suas ferramentas de talento, enquanto 48% procura conhecer esse talento através de Assessment. Parecem números um pouco contraditórios, considerando a realidade que vivemos atualmente, não parecem? A verdade é que podemos não acreditar de todo nisto da Inteligência Artificial, desconfiar um pouco ou sermos os fãs número um – ainda assim, todos nos alinhamos na ideia de que veio para ficar.
E até arrisco dizer, com uns modestos 95% de certeza, que veio também para nos ajudar a robustecer ferramentas psicométricas e a retirar mais e melhor informação das avaliações de talento que levamos a cabo. Dessa forma, não vejo um processo de RH onde a Inteligência Artificial pudesse ajudar mais.
Ora vejamos! Quais é que são as desvantagens de um Assessment como hoje o conhecemos? É demorado, muito trabalhoso tanto para os participantes como para os avaliadores, existem enviesamentos por parte dos avaliadores (afinal de contas são pessoas) e muitas vezes é mais caro do que aquilo que as empresas podem/querem pagar, na quantidade que gostariam de o fazer.
E estes são os grandes gatilhos para que comecemos a pensar que, se calhar, a IA é de facto o futuro do Assessment. Não me interpretem mal, isto também me soa estranho. Tenho levado uma vida inteira a avaliar talento pelas mais tradicionais ferramentas – e mais do que isso, adoro fazê-lo! Mas, por isso mesmo compreendo que temos de resolver algumas destas desvantagens. E rapidamente.
Através da IA podemos implementar avaliações mais robustas, com menor enviesamento por parte do avaliador, mais rápidas e menos demoradas do ponto de vista da entrega dos resultados. Deixa-nos mais tempo (e dinheiro) para podermos apostar naquilo que são as ferramentas de desenvolvimento que queremos utilizar com os nossos colaboradores e que tantas vezes são esquecidas porque os orçamentos falam mais alto.
Já consigo ouvir alguns pensamentos que dizem que há informação que recolhemos através de entrevistas por competências e/ou de exercícios situacionais que não vamos conseguir obter através da digitalização de plataformas. Talvez não, ou talvez sim – a evolução da inteligência artificial surpreende a cada dia! Não obstante, vamos refletir: quantos de vocês conhecem, através de Assessment, o talento de todas as vossas pessoas? E se ainda não desencadearam esse processo de forma tão completa e holística, foi porquê?
Se queremos conhecer o talento que temos em casa, o ideal era fazê-lo sistematicamente, não era? Podemos consegui-lo com maior facilidade se utilizarmos ferramentas online psicométricas e comportamentais, que permitam uma maior rapidez, sustentabilidade financeira e robustez avaliativa.
Não quero com isto dizer que acredito que este é o fim do cara a cara, do conhecer inquietações, dificuldades e desafios dos outros, que em última instância, potenciaram ou limitaram determinado desenvolvimento seja comportamental ou de performance.
Mas, quem sabe, uma maior “produtização” daquilo que é o conhecimento que temos das competências de todas as pessoas levar-nos-á a uma maior capacidade de gestão efetiva de talento. Ninguém nos impede de continuar a utilizar, posteriormente, ferramentas de avaliação de talento mais tradicionais – como sempre o fizemos até agora, mas iremos fazê-lo em cima de um maior conhecimento sobre as pessoas da nossa força de trabalho, o que, em última instância, nos dá acesso a uma maior equidade e a uma maior igualdade de oportunidades no que toca ao conhecimento e desenvolvimento de todas as pessoas.