Regresso ao escritório: Conselhos para gestores (e colaboradores) lidarem com o tema

O tema do regresso ao escritório não é consensual e tem gerado controvérsia. As lideranças querem os colaboradores em modo presencial, e os trabalhadores insistem na flexibilidade. A Fast Company aborda os prós e contras e deixa conselhos para gestores e colaboradores.

 

A primeira vaga de regresso ao escritório (RAE) começou no final de 2021. Três anos depois, o tema continua a ser debatido. O que está realmente por trás da luta pelo regresso ao escritório e para onde iremos a partir daqui?

Trabalho híbrido versus full-time no escritório

A maioria das empresas que começou a chamar os colaboradores de volta ao escritório fê-lo com um modelo híbrido, um compromisso que era o melhor ou o pior dos dois mundos, dependendo do ponto de vista.

A maioria das empresas que optou pelo modelo híbrido oferecia dois a três dias de escritório a meio da semana. Os colaboradores podiam ainda ter alguma flexibilidade e nenhuma deslocação alguns dias por semana, e os empregadores tinham o tempo presencial e a colaboração pessoal que desejavam. Mas, recentemente, empresas como o Washington Post, a Amazon e a Apple afirmaram que mesmo alguns dias de trabalho remoto sufocam a inovação.

No entanto, a investigação não corrobora essa afirmação. De facto, como refere Russ Kennedy, colaborador da Fast Company, mais de 80% dos colaboradores híbridos referem estar altamente empenhados no trabalho, em comparação com 72% dos colaboradores presenciais, e os investigadores de Stanford descobriram que o trabalho híbrido melhora a moral dos colaboradores e aumenta os lucros das empresas.

Muitos apontaram que o que está por trás do esforço para ter colaboradores no escritório é uma sensação de poder e controlo.

Poder e controlo

Alguns gestores admitiram mesmo que o controlo era a sua principal motivação. Num inquérito de 2022 da plataforma freelance Fiverr a mais de mil gestores e executivos e mil proprietários, um terço disse que os colaboradores ficam mais motivados quando sabem que estão a ser observados pelos managers; um quarto disse que queria os colaboradores no escritório para que pudessem fazer pausas mais curtas.

No entanto, os trabalhadores discordam: num inquérito de 2020 a 800 empregadores, 94% afirmaram que a produtividade era igual ou superior à de antes da pandemia.

Neste debate, os dados estão do lado dos colaboradores: o professor de Stanford, Nicholas Bloom, descobriu que o trabalho híbrido não tem impacto negativo no desempenho empresarial e as empresas podem ver aumentos de produtividade de cerca de 4%. Ademais, a satisfação dos colaboradores também aumentou, enquanto as taxas de despedimento caíram.

Existe também a crença de que alguns empregadores estão a utilizar os mandatos de RAE como método de “despedimento silencioso” (“quiet firing”). Como os colaboradores preferem o trabalho remoto e híbrido, quando são forçados a regressar podem demitir-se, poupando assim à empresa os custos de indemnizações associados aos despedimentos. Os dados também o confirmam: a ResumeBuilder entrevistou 756 líderes empresariais que implementaram um mandato de RAE desde 2021 e descobriu que oito em cada 10 empresas perderam talento devido a esta imposição.

Custos dos espaços

Outra razão pela qual o debate sobre o RAE se arrastou tanto tempo não tem a ver com as pessoas ou com o trabalho, mas sim com custos. Emily Levine, vice-presidente executiva da empresa de recrutamento Career Group, afirmou: «[As empresas] também sentem que estão a pagar demasiada renda para os colaboradores aparecerem no escritório apenas dois dias por semana, mais vale abdicarem dos espaços.»

Mas como os arrendamentos comerciais duram entre cinco e 10 anos, muitas empresas ficam obrigadas a permanecer nos escritórios e chamam os colaboradores de volta como forma de justificar o custo. O resultado é aquilo a que Levine chama de “desalinhamento” entre o que os empregadores e os trabalhadores desejam.

Conselhos para gestores

Se tem poder de decisão na empresa, a sua política remota/híbrida/presencial deve reflectir as necessidades do negócio, bem como as necessidades e preferências da sua equipa. Provavelmente já sabe como as suas equipas trabalham melhor em conjunto e tem quatro anos de dados reais para mostrar como a inovação e a produtividade são afectadas. Mas se precisar de mais informações, um inquérito aos colaboradores é um bom ponto de partida.

As políticas de RAE tornam-se mais complicadas para os gestores intermédios que muitas vezes são puxados em ambas as direcções, enfrentando os desafios de apoiar as suas equipas enquanto se comprometem com uma política da empresa – mesmo que discordem dela.

Os coaches executivos Faith Cohen e Craig Revord salientam que «é crucial ter um framework para orientar conversas sobre a gestão de problemas com a gestão de topo, ao mesmo tempo que se capacita a equipa». Recomendam o modelo CUBE desenvolvido por Neuberg Gore:

C: Crie o contexto e os objectivos da conversa. Diga à liderança executiva algo como: “Gostaria de discutir o feedback da equipa em relação as novas regras de RAE, pois o moral está em baixo”.

U: Entenda os dois lados da questão e coloque o de topo em primeiro lugar. Faça perguntas abertas, como: “Qual o raciocínio que está por trás desta regra?” ou “Como posso apoiá-lo na adaptação?”. Depois de obter insights, partilhe os seus próprios pensamentos e preocupações.

B: Faça um brainstorming de opções. Experimente fazer um brainstorming de perguntas em vez de soluções. Após identificar a pergunta mais precisa, muitas vezes uma solução clara surge naturalmente.

E: Termine com compromissos. Podem ser compromissos e uma alteração de política ou apenas agendar um follow-up/check-in.

Conselhos para os colaboradores

Se o seu chefe o quer no escritório mas quer trabalhar a partir de casa, é provável que as estatísticas acima apresentadas não o convençam. O que convencerá? Tal como nos pedidos de aumento ou de promoção, deve ir preparado com exemplos de como trabalhou bem nos tempos em que esteve em modo remoto.

Mostre o volume de trabalho e projectos que concluiu e como se compara com a quantidade de trabalho que pode realizar no escritório. Isto pode ajudar a ilustrar o quão produtivo pode ser. Deve também destacar as formas como ainda é capaz de colaborar com os colegas, pois este é muitas vezes um dos maiores motivos que os empregadores dão para querer todos no escritório.

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