Relatório Future of Jobs. A fronteira entre homem e máquina mudou: o que nos pede a transformação digital?

Adaptação é a palavra de ordem nesta nova era do trabalho. Uma palavra de todos os dias na Gestão de Pessoas e uma capacidade fundamental nos tempos que correm, nomeadamente para manter a relevância nesta jornada de transformação digital.

 

Por Patrícia Pereira, directora de Recursos Humanos da Konica Minolta

 

Lançado pelo Fórum Económico Mundial, o relatório “Future of Jobs” deste ano diz-nos algo que todos, de alguma maneira, já sabemos: a par com a crise climática e a descarbonização, os factores económicos, geopolíticos e sociais (como o peso crescente do custo de vida), assim como a transformação digital, estão entre os principais agentes das próximas mudanças a que as- sistiremos no mundo do trabalho.

Este relatório prevê que, nos próximos cinco anos, a tecnologia continuará a ser uma prioridade nos negócios de todo o mundo, período em que mais de 75% afirmam querer adoptar tecnologias de big data, inteligência artificial (IA) e compu- tação na cloud. Tal fará com que as em- presas continuem a crescer a um ritmo sem precedentes, o que nos leva à palavra de ordem nesta nova era do trabalho: adaptação. Uma palavra de todos os dias na Gestão de Pessoas e uma capacidade fundamental nos tempos que correm.

O mesmo relatório indica-nos os perfis de competências mais desejados para os próximos cinco anos, e a encabeçar a lista está o pensamento analítico. E 48% das empresas referem mesmo que esta é uma prioridade nos seus programas de formação e requalificação entre 2023 e 2027. Algo que não surpreende, quando a maioria dos novos empregos será criada nas áreas de IA, machine learning, business inteligence e segurança da informação.

Ainda que seja um dos principais promotores da rotatividade do trabalho, a tecnologia continuará a ter um saldo positivo na criação de emprego e de novos empregos, prevê este relatório. Mas também é interessante verificar, ao contrário do esperado em 2020, que a automatização das operações das empresas tenha sido mais lenta que o previsto: 34% de todas as tarefas são hoje realizadas por máquinas, contra as 47% estimadas.

As expectativas sobre a automatização nas empresas foram agora revistas para 42% durante os próximos anos. Será possível concluir, então, que a adaptação terá de vir, em primeiro lugar, do interior das empresas? Que terão de ser estas a readaptar-se ao mercado, com uma previsão de transformação e realocação de 23% dos empregos existentes, criação de 69 milhões de trabalhos e eliminação de 83 milhões – e uma eliminação efectiva de 2% dos empregos do mundo (que representam 14 milhões)?

«A fronteira entre homem e máquina mudou», diz-nos o relatório sobre esta inesperada tendência de desaceleração da automatização. Se, por um lado, traços como a criatividade e as competências de auto-eficácia (resiliência, flexibilidade, agilidade) continuam a figurar nas 10 competências mais desejadas, é também certo, por outro lado, que a capacidade das máquinas será cada vez mais semelhante ao pensamento humano.

«Pensar, comunicar e coordenar – tudo características com uma vantagem comparativa para os humanos – serão mais automatizáveis no futuro.» Mas e quanto à curiosidade, às capacidades de adaptação e resposta dos trabalhadores nas mais variadas áreas – sociais, grupais, negociais? Parece não existir uma conclusão óbvia sobre quem pode ganhar esta batalha.

Contudo, há pistas que ajudam a decifrar o enigma: mesmo que em 2027 uma grande maioria das tarefas seja automa- tizada, ou receba contributos da automatização, existe um pequeno reduto humano que se esgueira a estas previsões. Enquanto a motivação, a autoconsciência, a gestão do talento, a empatia, a escuta activa e a aprendizagem ao longo da vida forem competências valorizadas (e que figurem na lista das 10 competências mais importantes, como hoje figuram), a chave está, mais uma vez, do lado dos departamentos de Recursos Humanos.

Com a devida atenção, acompanhamento e formação, ninguém ficará de fora desta jornada de transformação digital, porque todos temos o que é preciso para prosseguir nela.

 

Este artigo foi publicado na edição de Agosto (nº. 152)  da Human Resources, nas bancas.

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