Reorganizar em tempos de crise: uma nova lógica de coletivo organizacional

Por António Saraiva, Business Development Manager na ISQ Academy

 

Estudos recentes indicam que os colaboradores estão globalmente satisfeitos com a adoção do teletrabalho e, inquéritos em algumas organizações, revelam, em larga percentagem, que desejam assim continuar. É neste contexto que se vão conhecendo práticas de reorganização internas ou que as mesmas começam a ser planeadas.

Vamos assistindo que vão proliferando planos de continuidade de negócio para o pós pandemia que encerram em si mesmos medidas de flexibilização dos modelos de trabalho, tendo em vista maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. O trabalho remoto e a gestão remota dos colaboradores está, pois, a ser uma tendência no desenho das políticas de Gestão de Pessoas.

O apelo à criatividade da liderança tende a aumentar, com um forte investimento em estratégias de engagement com novas dinâmicas colaborativas, com apelo à gamificação e políticas de remuneração e incentivos reajustadas. Mas, da mesma forma, uma maior atenção à Saúde Mental, já que as Pessoas são mais produtivas e felizes se as valorizarmos pelo que fazem, mas também se as apoiarmos emocionalmente.

As organizações perceberam que têm de ir mais longe, mesmo com um cenário de crise. Investir na transformação digital revela-se crucial e em particular na componente gestão de pessoas, em que ferramentas de análise de indicadores ao nível do desempenho, desenvolvimento e comunicação são prioritárias. Perante o contexto atual, as exigências de monitorização contínua são muito relevantes e a aposta num feedback continuado com repercussões no desenvolvimento é determinante.

Nesta aproximação ao pós pandemia, o mercado vai estar sujeito a rápidas flutuações. Os planos de recuperação económica  de cada Estado começam a ser mais visíveis e percecionam-se as orientações de investimento e de suporte à atividade. E são estas orientações que demonstram as tendências dos próximos anos, nomedamente em políticas de emprego, de captação e retenção do talento e, muito especialmente, na versatilidade que vai ser exigida a pessoas e equipas. Há que ter colaboradores aptos para darem o seu contributo em diversos desafios, exigindo-se uma visão estratégica com mais acuidade, maior polivalência e flexibilidade e comunicação mais abrangente e transparente.

Reorganizar não é defraudar expetativas. Não é um processo do “tem de ser por causa de uma crise”. Reorganizar é envolver! É essencialmente um processo que conduza ao crescimento de uma Organização e ao desenvolvimento das suas Pessoas. A reorganização não é uma refundação, é acima de tudo gerar condições de adaptação a novas circunstâncias. A invisibilidade do responsável por esta crise sanitária revelou que nem sempre enfrentamos o óbvio. O sucesso não passa tão somente por qualquer bazuca financeira ou pela reinvenção de modelos de gestão. Reorganizar é o tocar a rebate pela vivência em torno dos Valores organizacionais e adaptando políticas e comportamentos que potenciem uma nova lógica de coletivo organizacional, em que todos são agentes de mudança e são recompensados no seu equilíbrio pessoal/profissional.

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