“Responsible Business” e Saramago

Por Nuno Moreira da Cruz, director executivo do Center for Responsible Business & Leadership na Católica-Lisbon School of Business & Economics

Um mundo onde consumimos “mais planeta” do que podemos, onde usamos mais recursos do que devemos, com a riqueza profundamente mal distribuída, com milhões a viver acima do que podem e devem, com valores de vida vergonhosamente subvertidos, onde ascensão social e profissional em muitos lugares tem pouco a ver com o mérito, com tanta exploração laboral infantil, com os cenários de pobreza a ser a dura realidade diária para tantas comunidades, onde a corrupção e muitos casos de falta de ética empresarial pululam, digam-me lá num cenário destes se vos perguntassem que resposta eficaz precisaria um mundo destes, se a única resposta possível, séria, realista, “esperançadora”, não seria – “só as Empresas com a força dos seus processos, das suas competências, dos seus recursos, podem iniciar uma enorme transformação, criando Valor para elas e …para a Sociedade”, – pois ela aí está, uma Macro Tendência, chamemos-lhe “maior consciência social e ambiental”, se alguém tiver um nome melhor que diga, o que interessa é que nos entendamos sobre os desafios que temos pela frente, uma Macro Tendência abençoada e imparável, onde um “novo” cidadão e consumidor pede a gritos que esta consciência corporativa desperte definitivamente, porque a consciência destas novas realidades e o reconhecimento da insustentabilidade do planeta estão, em grande medida, globalmente aceites, e os fenómenos da globalização e das novas tecnologias continuarão a incrementar exponencialmente essa consciência, aquelas empresas que ainda não tiverem claro isto…a “claridade” vai chegar, criação de valor no futuro só será sustentadamente obtida quando os interesses de todos os “stakeholders” (empregados, fornecedores, comunidades locais, sociedade, clientes e algum mais que faça parte do ecossistema) relevantes forem tidos em conta, a actual preocupação quase exclusiva com o interesse dos accionistas “esbater-se-á”, as empresas que não reconheçam hoje esta realidade e se adaptem, terão muita dificuldade em sobreviver no futuro, acredito, e mesmo muito, que, se as empresas não se transformarem em empresas socialmente mais responsáveis porque isso se exige cada ves mais à sua consciência coletiva, então devem fazê-lo porque é o melhor para os seus negócios!, e permita ela, esta fantástica Macro Tendência, voltar a um contexto de verdade e aos equilíbrios fundamentais para o planeta e para a vida das pessoas, porque estes desafios quando entendidos e pensados como oportunidades e não problemas, são uma imensa força aglutinadora de vontades para partir para novos processos, novos paradigmas, novas lideranças, e no fundo, a mensagem subjacente a tudo isto é que duas coisas vão ter de mudar muito, por um lado a relação que todos (países, empresas, cidadãos) temos com o planeta e com as pessoas, e por outro lado, para “fazer acontecer tudo isto”, precisamos cada vez mais, de lideranças com propósito, os grandes líderes do futuro serão aqueles que sejam hoje capazes de desenhar estratégias baseadas nesta Macro Tendência…e já agora que me perdoe o José pelo roubo do estilo para, saramagando, falar de…Responsible Business.