Rodrigo Simões de Almeida, Grupo Marsh McLennan: «O maior desafio da Gestão de Pessoas é o equilíbrio»
Actuando nas áreas de risco, estratégia e capital humano, o Grupo Marsh McLennan conta com mais de 76 mil colaboradores a nível internacional nas suas quatro empresas – Marsh, Mercer, Guy Carpenter e Oliver Wyman – unidas por um propósito comum: fazer a diferença nos momentos que importam para as pessoas, clientes e comunidades.
Por Sandra M. Pinto
A celebrar 150 anos de existência o Grupo Marsh McLennan encarou a pandemia com resiliência focando-se nos seus colaboradores e nas suas necessidades. Para Rodrigo Simões de Almeida, CEO da Marsh e da Mercer Portugal e CCO da Marsh McLennan, «uma das vantagens de ter esta história é que estamos sempre em processo de aprendizagem e aprendemos muito com crises anteriores, onde demonstrámos sempre a nossa resiliência».
Em 2021, o Grupo Marsh McLennan celebrou 150 anos. Que balanço fazem e qual é hoje a missão da empresa?
O grupo Marsh McLennan surge com o incêndio de Chicago em 1871, com a ideia clara de que a antecipação do risco conseguiria ajudar a construir um futuro melhor e mais seguro. Ao longo destes 150 anos é o que temos feito – ajudar os nossos clientes a prosperar e a enfrentar as mudanças com segurança, inovação e sustentabilidade. É um enorme orgulho poder fazer parte desta história riquíssima em aprendizagem, inovação e liderança. Fomos sempre pioneiros e curiosos para estar um passo à frente e podermos ser os parceiros preferenciais. Hoje somos mais de 81 mil colaboradores em todo o mundo, representados por quatro marcas, a Marsh, a Mercer, a Guy Carpenter e a Oliver Wyman, que se dedicam às áreas de gestão de risco, de estratégia e de pessoas, no fundo, os pilares fundamentais para qualquer organização.
Em conjunto, formamos um grupo capaz de responder de forma transversal, independentemente do sector de atividade ou dimensão do negócio. Por outro lado, acreditamos que o nosso sucesso só se completa com o bem-estar nas comunidades onde operamos, sendo que, se contribuímos para o sucesso dos nossos clientes, também queremos contribuir para a construção de sociedades mais resilientes e sustentáveis. No grupo Marsh McLennan não nos limitamos a dizer onde podemos fazer a diferença pelos nossos clientes, mas também pelos nossos colegas e pelas nossas comunidades. Estamos a aproveitar a celebração destes 150 anos para evidenciar o momento extraordinário que o grupo Marsh McLennan está a viver. Neste sentido, decidimos marcar este período com uma evolução da nossa marca, nomeadamente através do refresh da nossa identidade visual e do reforço mundial enquanto One Enterprise.
Gostamos de dizer que os desafios do mundo são os nossos desafios e com os nossos quatro negócios que temos, conseguimos ajudar as pessoas e as organizações a responder de forma robusta às mudanças que vivemos em cada momento. Os desafios são inúmeros, mas também são as oportunidades – o futuro do trabalho, as alterações climáticas, os serviços de saúde e bem estar, a cibersegurança e digitalização, etc. Estamos muito confiantes com o futuro e sentimo-nos preparados para mais 150 anos. Por isso, também nós nos vamos adaptando, com maior consistência, inovação e resiliência.
O que mudou nestes mais de 100 anos de vida?
Muito mudou durante todos estes anos, mas os pilares fundadores mantiveram-se e são vividos através de uma cultura muito forte e que acredita na paixão, na integridade, na diversidade e inclusão, na inovação, no respeito e no contributo às comunidades. Se em 1871 se pensaria que após 150 anos fossemos mais de 81 mil colaboradores presentes em mais de 130 países, acredito que não. Mas, quando se constrói uma ideia pioneira que responde às necessidades claras do mercado e se mantém esse espírito inovador, é possível chegar assim tão longe. O crescimento do grupo foi sempre muito consistente e a criação de novas áreas de atuação provam isso mesmo, sempre com a certeza de que estavam a trazer algo novo e a responder a uma necessidade do mercado que não tinha resposta até então.
Quando integrei o grupo Marsh McLennan é que percebi a sua real dimensão e tive consistência a nível mundial e da sua equipa em Portugal. É incrível como todos os dias consigo surpreender-me, porque conheço alguém que me ensina algo, porque conseguimos responder a algo que parecia impensável, porque assisto a momentos de partilha e entreajuda que não pensava que pudessem ser reais. Há uma crença forte de que somos os melhores. É verdade, não por uma autoestima desmensurada, mas sim por uma humildade vincada de querer sempre aprender mais e mais e com isso melhorar e superar todos os dias.
São compostos por quatro empresas, todas têm um propósito comum? Se sim, qual?
Sim, o nosso propósito é o de fazer a diferença nos momentos que importam nas organizações, nas pessoas e nas comunidades. O mundo está em constante mudança, mais recentemente vivemos a crise na saúde, mas também temos crises económicas e políticas. Não podemos esquecer as novas tecnologias que tanto transformam como criam disrupção, as alterações climáticas e a injustiça social que se vive. O que tentamos fazer é ajudar os nossos clientes a superar os desafios e a encontrar oportunidades de negócio, mobilizar as suas pessoas e gerir os riscos inerentes. A transformação e a mudança fazem parte do nosso trabalho.
Desde quando estão em Portugal e em que localizações?
A Marsh McLennan iniciou a sua actividade em Portugal em 1967 através da Marsh. A implementação da operação da Mercer foi o passo seguinte em 1993 e em 2008 foi a vez da activação da Guy Carpenter. Relativamente à Oliver Wyman, esta está presente em Portugal através da equipa internacional. Hoje somos mais de 600 colaboradores com escritórios em Lisboa e no Porto.
Predominantemente em que áreas?
A Mercer é a empresa com o maior headcount em Portugal, pelo facto de ter dois centros de excelência a trabalhar: um nas áreas de avaliações actuariais e análise de investimentos; e o segundo nas áreas de administração de corretagem. São centros que nos deixam muito contentes, não só porque é uma demonstração de investimento claro no nosso país, mas também pelo crescimento que temos tido todos os anos, fruto do reconhecimento que estas equipas têm na comunidade Marsh McLennan. Internamente têm ganho vários prémios de mérito e inovação, pelo facto de criarem novos processos, novas metodologias de gestão de projetos e mais recentemente, pela robotização de tarefas mais rotineiras. A restante equipa da Mercer é composta por consultores especializados em gestão de pessoas e processos de recursos humanos, gestão de benefícios e gestão de planos de pensões e estratégias de investimento.
Por outro lado, na Marsh a equipa continua a crescer de ano para ano, mesmo em período de pandemia, com um engagement muito elevado de toda a equipa, o que se reflete no aumento das receitas. Na Marsh são duas as grandes áreas: a gestão de corretagem de seguros e a consultoria em gestão de risco. A Guy Carpenter é, também, localmente, uma referência na área de gestão de resseguro.
Atravessamos mais de um ano de pandemia. Como foi para uma empresa com mais de 100 anos de vida passar por esta situação?
Uma das vantagens de ter esta história é que estamos sempre em processo de aprendizagem e aprendemos muito com crises anteriores, onde demonstrámos sempre a nossa resiliência. Já lidámos com outras crises sem precedentes, bastará recuar à crise financeira de 2008, os atentados do 11 de Setembro nos quais perdemos a vida de centenas de colegas ou ainda mais atrás, no tempo das guerras mundiais e muitas outras crises.
Acredito que ninguém estava preparado para o que vivemos, mas posso garantir que no grupo Marsh McLennan o nosso nível de preparação conseguiu dar uma resposta muito positiva quando fomos forçados a estar em confinamento. Curiosamente, tínhamos tido uma reunião muito recentemente com a equipa de Business Continuity em que fazemos simulacros para possíveis incidentes. Como nos é característico, fomo-nos adaptando e aprendendo todos os dias para conseguir responder da melhor forma ao que esta pandemia nos reservou, mas não estando salvos ainda, posso dizer que estamos a ultrapassar até ao momento de forma muito positiva.
A nossa grande preocupação foi olhar para dentro e focarmo-nos na proteção e bem-estar das nossas pessoas. Isso fez uma grande diferença nos momentos iniciais. Fico muito contente quando analisamos os dados das nossas auscultações internas e percebo que os níveis de engagement aumentaram. Assistimos ao reconhecimento por parte das nossas pessoas relativamente ao esforço da organização e dos seus líderes na resposta que foi dada durante o período mais crítico da pandemia. Ao mesmo tempo, tivemos sempre ao lado dos nossos clientes e a ajudá-los a responder a este grande desafio. O que posso dizer é que estou muito orgulhoso da atitude da nossa equipa e do trabalho que temos desenvolvido para lidar com algo desconhecido, invisível e que obrigou a transformar a nossa forma de trabalhar e de nos relacionarmos.
Ajudou a experiência acumulada de terem vivido já tantas outras situações complicadas?
Claramente. Embora fosse tudo novo e estivéssemos a combater o desconhecido, a base de preparação estava muito presente, fruto de outros desafios. Também não é um tema alheio ao nosso grupo e por isso temos a obrigação de ter ferramentas de resposta a situações graves. Felizmente, não vivemos o velho ditado “em casa de ferreiro espeto de pau” e tínhamos ferramentas que nos ajudaram a ultrapassar as dificuldades.
De que forma apoiaram os vossos colaboradores?
A nossa principal preocupação foi, sem dúvida, as nossas pessoas e as suas famílias, sendo esse o elemento central em toda a nossa estratégia de resposta a esta pandemia. Há vários anos que trabalhamos a hipótese de acontecer um incidente grave e, por isso, temos uma equipa dedicada ao plano de continuidade de negócio. Os trabalhos e ensaios levados a cabo, bem como a capacitação quer das pessoas quer das ferramentas e tecnologia que fomos desenvolvendo, deixaram-nos muito confortáveis com o facto de um dia para o outro sermos forçados a trabalhar a partir de casa. Com este passo assegurado, e que vale a pena reforçar de que funcionou muito bem desde o primeiro dia, centrámos os nossos esforços para conhecer as condições de cada um e ajudar a garantir a continuidade do negócio.
Tudo era novidade e foi muito importante por parte das chefias os sinais de confiança, compreensão e flexibilidade transmitidos às várias equipas. Era importante estarmos conscientes de que nos primeiros dias era necessário estruturar rotinas, organizar agendas e definir prioridades. Depois era crucial perceber as condições individuais, colaboradores que precisavam de equipamento do escritório, apoio de redes e afins. Gradualmente, fomos respondendo às diversas necessidades. O apoio foi generalizado e, como era um evento global, logo na primeira semana foi criado um fundo de apoio a colaboradores que precisassem para colmatar as dificuldades financeiras causadas pela Covid-19.
As notícias que surgiam eram tudo menos animadoras e, quando percebemos que as pessoas começaram a ficar com receios de perder o posto de trabalho, fizemos questão de reforçar que nenhum posto seria colocado à disposição e que não iam haver layoffs. Os dias iniciais foram muito desafiantes, mas estou convencido que passámos com sucesso todas as dificuldades. Desde aí, e com a máquina a funcionar, nunca perdemos o foco nas pessoas e nas suas famílias e criámos diversas iniciativas que promoviam a boa disposição, o espírito de equipa, mesmo que virtualmente, e o acompanhamento. O que posso dizer é que subimos os níveis de engagement das nossas pessoas e, se já existia o sentimento de que somos uma organização que se preocupa com os colaboradores, durante a pandemia esse sentimento foi claramente reforçado. Quando me perguntam os factores de sucesso, respondo sem dúvidas que foram a comunicação, a empatia, uma liderança alinhada e a atitude das nossas pessoas.
Hoje quais os pilares da vossa gestão de recursos humanos?
Se olharmos para a estratégia como uma casa, a base é, sem dúvida, a cultura e os nossos valores, os pilares serão a gestão de talento (atração, experiência e mobilidade, proposta de valor, diversidade e inclusão e compensação e benefícios), o bem-estar (programas de wellness e saúde mental, proteção e segurança e gestão de benefícios) e analytics (HR data, operações, estratégia). Os pilares seguram um telhado que é o nosso propósito – o de fazer a diferença nos momentos que importam nos clientes, pessoas e comunidades. Diria que esta é a estrutura que nos tem consolidado como grupo e que nos dá a consistência para podermos melhorar de dia para dia.
Que importância têm para o sucesso do negócio os vossos colaboradores? São eles os vossos melhores representantes junto da sociedade?
A importância é total. Sem a qualidade da nossa equipa seria impossível atingirmos os nossos objectivos e crescermos de forma sustentátvel. Esta é a mensagem que levamos aos nossos clientes. É isto mesmo que nos caracteriza nos nossos projectos, o facto de olharmos para os negócios e equilibrarmos com a proteção das pessoas. Acredito que o sucesso de receita se deve muito ao engagement elevado da equipa.
Temos uma cultura muito forte e sabemos que não existem muitas organizações como nós. Percebemos pelas experiências de cada um e pelos nossos alumni. São sempre feedbacks que nos deixam de coração cheio. Respondendo à questão de serem as nossas pessoas os melhores representantes? Sem dúvida que são. São os nossos melhores influencers e embaixadores.
Muita coisa mudou com a pandemia, nomeadamente nos modelos de trabalho. Como têm vindo a encarar essa situação?
No grupo Marsh McLennan já tínhamos um modelo flexível, mas está claro que a pandemia obrigou ao teletrabalho permanente. Isto despertou maiores desafios por parte das nossas pessoas relativamente ao equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. A política de flexibilidade vai continuar logicamente a existir, mas uma vez que o nosso grupo mantém restrições na ocupação dos escritórios, temos, nesta fase, um nível de trabalho remoto maior face ao presencial.
Estamos conscientes que existem três personas distintas, as que pretendem trabalhar a partir do escritório, as que pretendem um modelo híbrido e as que não pretendem regressar ao escritório e preferem o trabalho full-remote. Nesta altura, estamos a gerir as expectativas de todos, em linha com as necessidades de negócio.
No entanto, há algo que é comum, a consciência de que é necessário termos espaços de partilha, inovação e criatividade em conjunto (presencial), de forma a reforçar a cultura e integração. Temos vindo a recrutar bastante nos últimos anos e percebemos que o onboarding virtual funciona, mas não é a mesma coisa.
Que modelo de trabalho predomina na empresa?
O modelo híbrido está a ser adoptado e vamos querer dar continuidade no futuro. Vamos ter de continuar a adaptar a nossa forma de trabalhar, nomeadamente devido à evolução da pandemia. Como gosto de dizer, estamos sempre preparados para nos adaptar e transformar de acordo com o contexto.
Têm uma preocupação com a harmonização entre a vida pessoal e profissional dos vossos colaboradores?
Sempre, é uma prioridade que trabalhamos continuamente. Existe a noção de que o nosso negócio exige muito das nossas pessoas e é crucial equilibrar as energias. A existência de uma política de trabalho flexível, antes da pandemia, é uma evidência clara de que não é algo que descobrimos agora. Sentimos a necessidade de agir e assim o fizemos. Temos disponíveis programas como o Employee Assistance, que permite dar assistência sobre temas relacionados com o lado profissional e o lado pessoal.
Por outro lado, estamos constantemente a lançar iniciativas que promovam o bem-estar, quer a nível pessoal quer a nível profissional, como encontros ao ar livre, partilha de momentos especiais, programas de mindfullness e por aí fora. Estas medidas ajudam-nos a ter as pessoas mais felizes e é assim que queremos estar.
Qual é hoje o vosso maior desafio? E especificamente na gestão de pessoas qual o mais importante desafio que se vos apresenta hoje?
O nosso maior desafio são os desafios dos nossos clientes. Parece um cliché mas é a pura verdade e não o consigo dizer de outra forma. Nós existimos para ajudar as empresas a ultrapassarem as barreiras que impactam o seu negócio e o nosso papel é o de facilitar e mitigar esses desafios. Neste contexto, o futuro é o nosso desafio e o que queremos é aproveitar todas as oportunidades que irão surgir para melhor servir os nossos clientes, pessoas e comunidades. Mais uma vez, aproveitando todo o legado e aprendizagem de 150 anos, o grande objectivo é continuar a crescer e ter um forte contributo na evolução do mercado.
No que diz respeito ao desafio da gestão das pessoas, diria que é o equilíbrio. Equilibrar a sustentabilidade com a protecção das pessoas, equilibrar a tecnologia e o capital humano, equilibrar a vida pessoal e profissional, equilibrar a experiência com as exigências das organizações, equilibrar as competências e as novas funções, equilibrar as expectativas das pessoas e das lideranças e equilibrar a vida das organizações e das comunidades. E quando pensamos em equilíbrio, neste ambiente de trabalho remoto e presencial, não posso deixar de referir o desafio de manter uma forte cultura empresarial, com lideranças capacitadas a promover um elevado nível de engagement, mantendo uma estratégia de crescimento sustentável.