Rui Bairrada, Doutor Finanças: «Gerir pessoas é mais difícil do que gerir um negócio.»

Rui Bairrada afirma, sem hesitar, que «gerir pessoas, é mais difícil do que gerir um negócio». E explica porquê: «Sem pessoas, não há negócio.» Liderando um negócio com já mais de 200 pessoas, não abdica da proximidade. As emoções, a intuição e a escuta genuinamente activa são a sua forma de fazer acontecer.

 

Por Ana Leonor Martins | Fotos Nuno Carrancho

 

Recentemente, Rui Bairrada lançou um livro: “De estafeta a CEO”, chama-se. Porque foi como estafeta que começou a sua carreira, no Deutsche Bank, em 1995. Fez um percurso ascendente, até assumir funções como partnership banking coordinator. Mas, depois de 12 anos na banca, «o desconforto da falta de reconhecimento», a par do seu «inconformismo » e a «vontade de cumprir sonhos», fizeram-no «dizer não à estagnação. E saí», conta. Hoje, é CEO do Doutor Finanças, empresa que fundou em 2014. Qualquer que seja a função, a responsabilidade com que as encara é a mesma: «Assumi, desde cedo, querer ser o melhor em tudo aquilo que me cabia fazer. Ser o melhor estafeta ou ser o melhor CEO traduz-se, em igual medida, na imensa realização que sempre senti ao servir o outro.»

Não esconde as dificuldades, nem as lágrimas, no percurso. Nem sequer um burnout. Rui Bairrada fala com naturalidade, e genuinidade, de todos os temas. Acredita que são «pessoas felizes, numa casa feliz», a fazer o que mais gostam: «ajudar os portugueses ». Garante que o Doutor Finanças é já muito mais do que aquilo que sonhou. Mas tem mais sonhos… Um deles é que um dos seus filhos possa um dia dizer: «O meu pai ajudou a tirar Portugal do último lugar do ranking europeu de literacia financeira.»

 

Lançou recentemente um livro intitulado “De Estafeta a CEO”. Vamos começar por aí. Começou como estafeta num banco, em 1995, hoje, é CEO de uma empresa que criou em 2014, o Doutor Finanças. O que diria ter sido determinante neste percurso?
Tem sido uma viagem tão boa que não me canso de dizer o quanto sou grato à vida. Tive uma série de oportunidades e agarrei-as com ambição e muita humildade. Assumi, desde cedo, querer ser o melhor em tudo aquilo que me cabia fazer. Ser o melhor estafeta ou ser o melhor CEO traduz-se, em igual medida, na imensa realização que sempre senti ao servir o outro.

Por outro lado, é igualmente determinante estar preparado para os muitos “não” com que nos deparamos no caminho do empreendedorismo. A nossa resistência é posta à prova constantemente, mas em momento algum devemos, ou podemos, desistir dos nossos sonhos.

Correndo o risco de soar a frase batida, insisto: o céu é o limite, mas ultrapassá-lo não é impossível. Hoje, a liderar um sonho partilhado com mais de 200 pessoas, sinto que só com esta entrega e dedicação faz sentido.

 

Foi esse sonho que motivou a decisão de, depois de 12 anos na banca, calculo que com um emprego estável e com boas condições, arriscar e passar a trabalhar por conta própria? Sabia exactamente o que queria?
O meu percurso na banca foi um período de aprendizagem brutal. O caminho que fiz internamente, somando responsabilidades em diferentes áreas, levou-me até à minha paixão: o crédito habitação. Nesta evolução natural, deparei-me com um desafio de direcção numa área nova, contudo, não foi validada superiormente. O desconforto da falta de reconhecimento, a par do meu inconformismo e, sim a vontade de cumprir sonhos, fez-me dizer não à estagnação. E saí.

Com os expectáveis receios de quem sai da sua zona de conforto, saí com a certeza de que queria continuar a servir e a ajudar os outros. Correr riscos faz parte do processo e ter esta consciência faz-nos dar sempre o melhor de nós.

 

Quais foram as principais dificuldades que encontrou nessa saída da zona de conforto?
O Doutor Finanças nasceu num contexto altamente emocional, pois viu a luz do dia porque tomei a difícil decisão de sair de um projecto que cofundei com parceiros que simplesmente tinham visões diferentes sobre o seu potencial. Senti, por isso, algumas dificuldades, e de diferentes naturezas. Desde a necessidade de reunir capital suficiente para arrancar até à formação da equipa, existiram muitos momentos difíceis. Em alguns casos, acompanhados de lágrimas, já que saí com alguns colegas que prontamente disseram “sim” a esta aventura.

Ultrapassada esta fase de tensão e de peso da responsabilidade de quem passou a ter um grupo de gente boa a seu lado, tudo fluiu. Hoje, o Doutor Finanças é tão mais do que aquilo que eu sonhei…

 

O que recorda das primeiras semanas ou meses de “vida” do Doutor Finanças?
Fruto do cenário que descrevi, os primeiros tempos foram um turbilhão de emoções. Apesar da expectável ansiedade e nervosismo, partimos com uma energia boa e um espírito de equipa muito saudável. Sabíamos bem por onde queríamos seguir, e o know-how acumulado era mais do que um cartão-de-visita.

De raiz digital, ao ritmo de uma estratégia focada em ajudar os portugueses, o Doutor Finanças foi conquistando o mercado, até se tornar na maior referência na literacia financeira e na intermediação de crédito no nosso país.

 

Que evolução nota no nível de literacia financeira do País? Já estamos, genericamente falando, num nível “aceitável”?
Infelizmente, estamos longe de atingir um nível aceitável. Em matéria de literacia financeira, um estudo recente do Banco Central Europeu mostra que Portugal ocupa o último lugar num ranking de 19 países europeus. Os portugueses continuam a não dominar conceitos financeiros, de maior ou menor complexidade.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Novembro (nº. 155) da Human Resources, nas bancas. 

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