Rui Lança, Sport Lisboa e Benfica: A maior força do lobo está na alcateia

As organizações competem pelas melhores pessoas e não tanto pelas melhores estratégias.

 

Por Rui Lança, director Desportivo no Sport Lisboa e Benfica e docente universitário

 

Bill Gates afirmou que se retirassem as 20 pessoas mais inteligentes da Microsoft, a empresa tornar-se-ia banal. E quando lhe perguntaram qual o maior factor diferenciador da empresa, a resposta foram as pessoas, nunca o software; que o segredo estava na contratação dos melhores, no desenvolvimento dos mesmos, na inclusão destas pessoas na cultura e no propósito da empresa. No final da jornada, as organizações competem pelas melhores pessoas e não tanto pelas melhores estratégias.

Vários estudos sobre organizações bem-sucedidas demonstram que a sua maior força não está nos seus produtos, serviços ou modelos de negócio. Isso pode, com maior ou menor dificuldade, ser desenvolvido e copiado. O que não se consegue reproduzir com facilidade são os diálogos entre as pessoas, as relações entre as mesmas, os mecanismos de compromisso, as dinâmicas colectivas, o modo como o feedback é dado e recebido, a preocupação genuína. Estes factores constituem a vantagem competitiva mais duradoura de qualquer equipa, e estão dependentes da liderança, das equipas e das pessoas.

Se pensarmos nas organizações como uma soma de diferentes equipas internas e as equipas como uma soma de diferentes personalidades, podemos considerar cada pessoa como uma parte do seu grupo. Que pode realizar bem o seu trabalho individual, mas aquilo que procura e a sua recompensa têm uma probabilidade maior de serem alcançados se houver sintonia com os restantes membros da equipa.

Colocar as pessoas a trabalhar para algo maior, para um propósito e um objectivo colectivo, é um dos temas mais recorrentes quando falamos com líderes de equipas. É uma das áreas onde as empresas se debatem com a questão do 1+1 ser igual a 3 ou mais, mas que, usualmente, aquilo que visualizamos é 1+1 ser 0 ou 1, porque as pessoas anulam-se, ou simplesmente não sabem trabalhar em equipa. Como conseguir explicar e fazer compreender que o objectivo colectivo permitirá mais facilmente que os objectivos individuais sejam alcançados?

Tive a sorte de entrevistar o treinador da NBA George Karl – quem viu a NBA nos anos 90 e a série da Netflix “Last Dance” irá recordar-se – e ele partilhava comigo: «Quando páras de comunicar, por exemplo, é um problema! Nos meus treinos, todos os primeiros 10 minutos eram para realizar uma pequena conversa a que chamava de “ego management attitude adjustment”, onde os atletas eram encorajados a dirigirem-se para a direcção certa. A cimentar o compromisso para os próximos passos. Explicar todos os dias onde os atletas estavam na linha do objectivo colectivo, de todos.»

A liderança das equipas é avaliada por muitas formas, sabendo que algumas são omissas em critérios objectivos e aferíveis. Mas a capacidade de conjugar as peças individuais em prol de algo comum, colectivo, uma força maior, a frase batida, mas sempre actual, de que o todo tem de ser superior à soma de todas as partes, é sem dúvida um dos mais importantes desafios de quem lidera.

A criação de uma inteligência colectiva nas organizações/equipas é um termo que abrange um misto do conjunto das competências dos elementos que compõem o todo e dos processos/dinâmicas criados para potenciar as mais-valias dos recursos humanos na concretização dos objectivos propostos.

A criação da inteligência colectiva não é apenas uma tarefa de quem lidera a equipa, é também um processo organizacional. A capacidade de construir, alimentar, coordenar, ajustar e disciplinar as dinâmicas colectivas é um processo constante, sem grandes momentos de pausa ou descanso. O termo “inteligência colectiva” remete-nos para o conjunto das competências dos elementos que compõem o todo e dos processos/dinâmicas criados para potenciar as mais-valias de todos na concretização dos objectivos colectivos.

 

Este artigo foi publicado na edição de Dezembro (nº. 156) da Human Resources, nas bancas.

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