“São rosas, senhor”
Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia
Por estes dias muitas são as preocupações de quem gere pessoas, fundamentalmente devido à incerteza de todo este contexto de pandemia, ao “arrefecimento económico” daí resultante, às dúvidas relativamente aos modelos de trabalho, às condições de trabalho e à forma como se (re)sentem hoje as pessoas, pois é certo que hoje a saúde mental e emocional são temas nucleares. Muitos gestores de pessoas sentir-se-ão, a estes dias, consequência da sua própria inércia e conformismo por, em cada vez que não eram chamados à decisão do negócio ou a uma posição mais estratégica e decisiva, ficarem acomodados com um papel de pouco valor acrescentado. Outros, que vinham construindo esse papel determinante nos destinos das suas empresas, apesar de toda esta complexidade, sabem hoje tomar decisões mais acertadas, porque estão “dentro da vida global” da sua empresa. Se foi fácil? Nunca é, mas preparar o futuro, com toda a incerteza que possa haver, é “de longe, levar a água ao moinho” para cumprir a missão primeira da gestão de pessoas. Esses foram construindo essa posição e por isso, hoje, com mais visão e assertividade conseguem encontrar as melhores respostas para os terríveis dilemas impostos pela atualidade. Para estes profissionais, que hoje (também) têm um papel ativo na gestão mais geral das empresas, mas focados fundamentalmente nas pessoas, esta será certamente uma fase difícil, mas que conseguem perspetivar num plano mais consciente e realista. Este texto é, portanto, uma ode aos que foram construindo este caminho.
Já há muito se vinha “batalhando” que era imperativo colocar a GRH no centro das decisões de gestão e, nos mais variados Fóruns, esse sempre foi um tema recorrente. Inevitavelmente lá surge o habitual chorrilho de “explicações”: o tecido empresarial, o mind set dos gestores (dos outros!!), a cultura da empresa, a dimensão e estrutura da empresa, entre outros mais particulares – mas há sempre muitas explicações e, como é habitual, a razão de não ser um RH estratégico, está nos outros e pouco em quem deveria lutar por esse papel – nada mais que o típico locus de controlo externo de muitos portugueses.
Revisitando uma das antigas lendas portuguesas, percebemos que não podemos, simplesmente, ficar a aguardar que as condições permitam o que está certo e devemos fazer. Cumpre-nos “estar lá” e fazer o que manda a nobreza do papel de gestores de pessoas. Recorde-se a lenda e faça-se: Reza que D. Dinis andava desconfiado com as ações de caridade da rainha D. Isabel, mas também preocupado com as despesas da coroa. Um dia, andava a rainha a distribuir pão e esmolas aos que mais necessitavam, quando o rei a surpreendeu e perguntou o que ela levava no regaço. A rainha, surpreendida e atrapalhada, respondeu “São rosas, meu senhor”. O rei não acreditou por ser janeiro e não haver rosas nesses tempos, e porque apanhara a rainha muito constrangida. Quando a obrigou a revelar o que levava, para surpresa de todos, a rainha deixou ver no seu regaço, lindas rosas. Se D. Isabel pudesse tomar parte das decisões de gestão do reino, certamente punha lá as pessoas e as necessidades dos que mais precisavam, e D. Dinis reinaria (ainda) melhor.