Sente que está a passar por uma crise de identidade profissional? Saiba como a ultrapassar (em nove passos)

Nos profissionais de alto desempenho, a identidade e o sucesso estão muitas vezes interligados, levando a um medo do fracasso que pode ser prejudicial. Arthur C. Brooks, professor na Harvard Business School e coautor, com Oprah Winfrey, de “Build the Life You Want”, investiga as complexidades da identidade profissional e partilha com a Harvard Business Review como ultrapassar o medo de perder a vantagem no trabalho.

 

Para o professsor, hoje, não se consegue chegar a lado nenhum sem ter um debate sobre política de identidade. «Eu sou isso. Tu és isso. Eu sou liberal, tu és um conservador, seja o que for. E estes tipos de identidades são extremamente importantes.»

Muitas pessoas nos negócios evitam estas discussões sobre política de identidade, mas têm políticas de identidade próprias. Têm uma identidade de pessoa de sucesso, que gira em torno da excelência no trabalho. «Quem és tu? Um pai e um avô. Eu sou um marido. Mas quando as pessoas me fazem esta pergunta, eu digo: “Sou professor na Harvard Business School”. Porquê? Porque essa é a minha identidade», explica.

Essa é uma forma de se identificar, mas reflecte que se é assim que se vê, isso é um problema real, pois retira as coisas realmente importantes que tem na vida. Para quem vê a sua identidade como a de um profissional de sucesso — especificamente de sucesso — essa será uma identidade baseada no medo.

Todos temos medos e é normal ter medo das coisas. Mas o medo de um ataque à sua identidade é, na verdade, um medo da morte. «Apenas 20% da população tem medo de morrer. Mas muitas pessoas que são realmente boas naquilo que fazem, muitos dos meus alunos, muitas pessoas que assistem a isto, têm um medo desesperador de falhar no trabalho.» Isso leva a muitos comportamentos que não são saudáveis, na verdade, aquela versão despojada e recortada de si mesmo, que não é boa para si, não é boa para os seus relacionamentos.

Arthur C. Brooks conta que as pessoas passam a vida a perguntar-lhe isso. São extremamente bem-sucedidas nos negócios mas têm medo do fracasso e perguntam como podem ultrapassar isso.

«Na verdade, tenho um exercício para isso. É a chamada meditação da morte Maranasati, adaptada para o fracasso profissional. Provém do Budismo Theravada, na parte sul da Ásia, onde os budistas praticavam a contemplação da sua própria morte.»

Se entrarmos num mosteiro budista na Tailândia, ou no Vietname, ou em Myanmar, no Sri Lanka, descobriremos que as paredes estão adornadas com fotos de cadáveres em diferentes estados de decomposição, explica. «O mais óbvio é pensarmos que aquilo é realmente mórbido, mas acontece que não é. Os monges e as monjas vão contemplar estas fotos e vão olhar para cada uma e dizer, este sou eu e aquele sou eu.»

E passarão por esta meditação Maranasati em nove partes, onde contemplarão diferentes fases de um corpo, e de um corpo em diferentes estados de decomposição, acrescenta Arthur C. Brooks. «Dirão, sou eu, serei eu. Este sou eu. Porquê? Porque estão a expor-se à verdade da sua própria mortalidade, de modo a que possam transcendê-la e realmente estar plenamente vivos agora.»

As pessoas que têm um medo desesperado da morte da sua identidade como pessoas de sucesso, também precisam de ser expostas a essa realidade, salienta. «Porque a verdade é que – não me interessa quem está a ver isto, não me interessa o quão bem sucedido és – a festa vai acabar e não vai durar para sempre.» E acrescenta que temos de estar confortáveis com isso para podermos estar plenamente vivos e envolvidos no que está a acontecer na vida hoje. Caso contrário, alerta, ficararemos imobilizados pelo medo de algo que, paradoxalmente, é a coisa mais normal e mais previsível da vida – que tem um fim.

Arthur C. Brooks recomenda estruturar uma pequena meditação em nove partes onde se começa por dizer: “Sinto que estou a perder o controlo no trabalho. Não sei. A minha tomada de decisão não é tão nítida como antes e as pessoas começam a perceber isso”.

«O segundo passo pode ser que as pessoas estejam a começar a fazer comentários sobre o facto de eu estar a falhar em alguns momentos. O terceiro passo será: “estou a pensar que o board está a começar a falar sobre a minha substituição e não me está a incluir nas dconversas”.»

«O quarto passo é ter a certeza de que o fim da carreira está a chegar. “Não quero que isso aconteça, mas tenho quase a certeza de que está a chegar”. O quinto passo é que acabei de receber a notícia de que preciso de me reformar, embora não seja isso que queria fazer.»

«O sexto passo pode ser. “Sim, fui meio que forçado a sair. E o pior é que acho que as pessoas não se lembram de mim pelo que fazia. Apenas pensam em mim como o tipo que foi forçado a deixar o seu emprego”.»

O sétimo passo: “acabei de regressar ao meu local de trabalho e só passaram seis meses, mas muitas pessoas são novas e não sabiam quem eu sou”. O oitavo passo é que “me mudei e agora as pessoas com quem falo só pensam em mim como uma pessoa reformada. Nem sequer perguntam sobre o que eu costumava fazer”.

E, por fim, o nono passo pode ser: “na maioria dos dias nem sequer penso no que costumava fazer. Estou apenas a viver uma vida diferente neste momento”.

Embora possa parecer muito negativo, não é. «Pense nestas coisas durante dois minutos cada. Faça-o durante três semanas e será uma pessoa diferente. Porquê? Não porque falhou – isso nem sequer é fracasso, aliás. Apenas vida normal. Não terá mais medo. Não terá mais medo de que estas coisas realmente lhe aconteçam, porque elas terão acontecido consigo na sua mente. Terão acontecido consigo no seu coração. E sentir-se-á confortável com o facto de ter uma trajectória de sucesso e com o valor que está a tentar criar. E quando acabar, vai submeter-se porque essa é a única escolha. E então estará em paz.»

Cada um precisa de gerir a sua própria vida como um projecto e compreender que as suas capacidades e interesses vão mudar, fazer as coisas com um propósito, reconhecer que os bons tempos não vão durar para sempre. E tem de criar novos bons momentos em circunstâncias diferentes, aconselha o professor. «É sobre isso que falo agora com as pessoas que estão a envelhecer e é esse o conselho que estou a seguir para mim. E, pela primeira vez em muito tempo, estou em paz.»

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