Poucas mulheres nos Conselhos de Administração em Portugal
O 1.º evento da Women@Mercer em Portugal, abordou os principais aspectos relacionados com a temática a nível nacional. O número diz respeito ao universo das 18 maiores empresas portuguesas.
A Mercer organizou o 1.º Evento Anual da Women@Mercer em Portugal, nos seus escritórios em Lisboa, no passado dia 8 de Outubro, sobre o tema “Driving Change: Equal Opportunities”. Esta conferência contou com os testemunhos da secretária de Estado para os Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Teresa Morais, da directora Coordenadora de Recursos Humanos do Grupo Santander em Portugal, Isabel Viegas, bem como da representante da W@M na Europa, Martine Ferland, que debateram esta temática, perante uma plateia constituída por homens e mulheres.
Diogo Alarcão, gerente da Mercer Portugal, referiu na sessão de abertura que «o debate sobre o reconhecimento da igualdade de género, como pilar de desenvolvimento e sustentabilidade no mundo empresarial, é muito actual e as empresas têm um papel muito relevante na mudança que ainda é necessário fazer». Diogo Alarcão referiu ainda que a Mercer tem vindo a assumir o compromisso de contribuir para a igualdade de oportunidades entre géneros, adiantando que nos escritórios da empresa em Portugal, 65% dos colaboradores são mulheres, sendo que ao nível dos directores de 1.ª linha a divisão é igualitária (50%) e que, desde este ano, o Conselho de Administração da empresa passou a contar com uma mulher. O desafio está agora, em aumentar esses 20% de representatividade de mulheres no Conselho.
Nélia Câmara, gerente da Mercer Portugal e representante da Women@Mercer em Portugal, referiu que «este Grupo tem realizado várias acções no sentido de promover o debate sobre a igualdade de género, destacando como exemplos a parceria com a PWN (Professional Women’s Network), através da qual se desenvolveram acções de formação para colaboradores da Mercer, assim como a Mercer pertencer desde o início deste ano ao iGen». Nélia Câmara referiu igualmente que «foi decidido implementar uma linguagem neutra nos anúncios de recrutamento de novos colaboradores para a Mercer». Por último, desafiou os homens a juntarem-se a este movimento de igualdade de oportunidades para ambos os géneros no contexto laboral.
Por outro lado, Teresa Morais, secretária de Estado para os Assuntos Parlamentares e da Igualdade, destacou o difícil acesso das mulheres aos lugares de decisão e as persistências salariais entre homens e mulheres não justificadas, que de acordo com o I Relatório sobre diferenças salariais por ramos de actividade era de 18% em 2011.
De acordo com as estatísticas da União Europeia, que considerou as 18 maiores empresas portuguesas cotadas em Bolsa, as mulheres representam apenas 9% dos membros dos Conselhos de Administração, muito abaixo da média da União Europeia que se situa nos 19% em 2014.
«As mulheres sobem na carreira com relativa facilidade até cargos de direção intermédia: são directoras de Recursos Humanos, de Marketing, de Relações Públicas, de Vendas e de outros tantos importantes departamentos, mas na grande maioria das empresas portuguesas ou que operam em Portugal, quer no universo das cotadas em Bolsa, quer no universo mais restrito das 18 maiores, não chegam aos Conselhos de Administração», afirmou a Secretária de Estado.
Teresa Morais fez ainda referência ao V Plano Nacional para a Igualdade de Género, Cidadania e Não-discriminação, em vigor desde Janeiro de 2014, com medidas que visam reduzir as desigualdades salariais entre homens e mulheres, reforçar os mecanismos de acesso das mulheres a lugares de decisão económica, entre outras. Nesta matéria a secretária de Estado destacou uma medida: «trata-se de considerar como critério de desempate na seleção de projectos de empresas concorrentes a fundos da política de coesão a representatividade de mulheres nos conselhos de administração dessas empresas, critério já formalizado na regulamentação geral dos fundos aprovada recentemente».
A secretária de Estado mencionou ainda que “a presença equilibrada de mulheres e de homens nos órgãos de decisão das empresas não é apenas uma questão de justiça face às qualificações das mulheres. É uma questão civilizacional. As empresas privadas portuguesas, porque é justo distinguir neste parâmetro a situação das empresas do Sector Empresarial do Estado, que não sendo ideal é bastante melhor, estão a empurrar o País para medidas cada vez mais duras e imperativas, dada a ausência de compromissos sérios e de objetivos concretos a alcançar», conclui.
Isabel Viegas, directora Coordenadora de Recursos Humanos do Grupo Santander em Portugal, partilhou com a audiência o seu percurso profissional, que contribuiu para a sua vontade de agir a favor da igualdade de oportunidades entre géneros. A partilha que Isabel Viegas fez com os participantes, de como foi crescendo a nível pessoal e profissional, foi considerada inspiradora para muitas das mulheres que assistiram ao evento.
Por último, foi a vez de Martine Ferland dar o seu contributo para o debate, salientando que a diversidade de género contribui efetivamente para o benefício das empresas, «se juntarmos um grupo de pessoas que pensa de forma diferente, chegamos mais longe do que se optarmos por um grupo que pensa de forma igual», comentou.
Martine destacou ainda o facto de em 30 anos, o progresso no sentido de promover a igualdade de oportunidades para ambos os géneros ainda não ter avançado o suficiente, sublinhando que as evoluções neste sentido são muito lentas, não estando a ter o impacto necessário nos níveis de governação. Referiu também que é importante promover as pessoas pela sua competência e mérito, independentemente do seu género.
Por fim, Martine apresentou os quatro pilares que sustentaram um estudo da Mercer (“2014 Gender Diversity Research”) realizado neste âmbito, 1 – liderança, mais relevante do que apenas a responsabilidade; 2 – políticas de trabalho, sendo importante destacar os horários flexíveis, principalmente no caso de as colaboradoras serem mães; 3 – finanças, as empresas devem fomentar promoções e bónus para manter os talentos femininos nas empresas, oferecendo-lhes sessões de formação; e 4 – saúde, visto serem as mulheres quem mais cuida de crianças e idosos.