Entrevista: «Só com os melhores talentos se conseguem alcançar os objectivos», afirmam as fundadoras da Urban Foods
De olhos postos na internacionalização, a Urban Foods nasceu do desejo de duas empreendedoras que viram uma oportunidade no mercado dos snacks saudáveis. Desde 2018, a start-up portuguesa tem vindo a cimentar a sua posição no mercado, apostando na diferenciação de produtos. Com a intenção de crescer através do recrutamento, a empresa procura os melhores talentos, pois, «só assim se conseguem alcançar os objectivos», revelam em entrevista Maria Villas-Boas e Marta Lousada, respectivamente, fundadora e CEO e cofundadora e CMO.
Por Sandra M. Pinto
Urban Foods nasce de uma combinação pessoal e profissional, e vem confirmar uma crença que trabalhar e desenvolver projectos naqueles que são os hobbies e paixões é meio caminho para o sucesso.
Quando e como nasceu a Urban Foods?
Maria Villas-Boas – Antes de qualquer outra coisa, sou uma apaixonada por alimentação. Iniciei os meus estudos nesta área, mas a vida encaminhou-me para o retalho, indústria que tenho vindo a trabalhar nos últimos 15 anos, em sectores distintos, da moda até à saúde. Após um ano dedicado a fazer um MBA, juntei-me à SONAE onde lancei a área Bio & Saudável, zona dedicada a produtos biológicos e saudáveis, e de seguida os supermercados Go Natural, a aposta de retalho especializado do grupo.cDurante esta experiência fui observando que existia um espaço entre o snacking convencional e os produtos mais fundamentalistas que o mercado estava a oferecer. E lancei-me ao desafio de o conquistar. Há uma preocupação crescente com a saúde, ainda mais impulsionada pela pandemia, e a alimentação é um dos fatores mais importantes na busca deste estilo de vida mais saudável. Mas, quem não gosta de um snack saboroso e indulgente? É aqui que estamos.
Como se conheceram?
MVB – Conhecemo-nos na SONAE, onde trabalhámos lado a lado. Na altura estávamos ambas na insígnia de saúde e bem-estar, a Well’s, eu como Senior Project Manager e a Marta com a responsabilidade de criar e gerir a loja online, isto em 2015.
Como decidiram trabalhar juntas?
MVB – A Urban Foods foi criada em 2018, mas foi em 2020, ano do início da pandemia, que sofremos alterações significativas. Não só porque, sem dúvida, veio abanar o panorama do consumo de forma global – é obrigatório sermos verdadeiramente relevantes e a exigência subiu. Vivíamos um momento de confiança do consumidor, e por consequência a sua abertura para experimentar. O que sentimos um pouco em todas as indústrias é que o consumo além de ter diminuído, é mais selectivo. Para nós foi particularmente importante porque aproveitámos este desafio para fazer um rebranding à marca afunilando ainda mais a sua proposta de valor, após um ano de carácter muito experimental. Por outro lado, aprofundamos a aposta no canal online, que cresceu grandemente, e tal veio moldar de forma mais concreta a estratégia futura da marca.
Foi assim que no início deste ano convidei a Marta Lousada a juntar-se à Urban Foods como co-fundadora e CMO. A Marta é formada em Gestão e Marketing e acumula mais de 10 anos de experiência em retalho e negócios online. Além da sua experiência na Well’s, em que lançou e geriu a loja online até 2017, nos últimos 4 anos a Marta foi responsável pelo lançamento do e-commerce em Portugal da multinacional Sephora, onde também criou e fez crescer a equipa digital, na qual se incluía não só o e-commerce, mas também outras áreas do Digital como Marketing de Performance, Media Digital, Redes Sociais, Influencers, Conteúdos, SEO, etc.
Qual a missão da startup?
MVB – Acreditamos que comida boa não deve ser um privilégio de alguns, mas sim um direito de todos, independentemente da sua condição. Acreditamos também que é possível contribuir para a mudança de hábitos alimentares das futuras gerações, dando-lhes comida saborosa e crocante, atributos do snacking convencional de que tanto gostamos – como as batatas fritas e o chocolate – mas com ingredientes bons e simples.
O empreendedorismo era algo que sempre fez parte da vossa vida?
MVB – Acreditamos mais do que tudo que o espírito empreendedor, definido pela capacidade de visão, por uma atitude, por uma orientação à solução e alguma loucura ou sonho, pode fazer parte de uma vida na gestão de uma empresa própria mas também no mundo corporativo. Por isso sim, sempre fez parte da nossa vida – fomos sempre empreendedoras, mesmo que por conta de outros. No momento que identificamos uma oportunidade de mercado que cruzava as nossas áreas de expertise e as nossas paixões, demos o passo nesta direção.
A que necessidades a Urban Foods veio dar resposta?
MVB – Num mercado muito polarizado, entre opções certas e erradas, acreditamos que existe um meio termo. O que chamamos o melhor dos dois mundos. Desistir do sabor em prol da exigência nutricional ou vice-versa é um conceito que não nos convence. Assim, mergulhamos no desenvolvimento de produtos que, por um lado, cumprem com os nossos ideais históricos de snacking e que, por outro, respeitam as necessidades nutricionais actuais tal como o que julgamos serem as obrigações de um produto moderno, como ser 100% natural ou livre de aditivos ou conservantes.
O que têm os vossos produtos de tão especial e diferenciador?
MVB – Damos oportunidade a ingredientes ricos nutricionalmente, mas pobres em sabor, transformando-os em snacks com as características que todos sonhamos. Acreditamos que a forma como combinamos estas duas realidades é surpreendente. E os nossos clientes também!
Numa outra perspectiva, na de estratégia de marca, apostamos num caminho oposto à maioria das marcas do nosso segmento, que normalmente se focam numa família de produtos, esperando tornarem-se no best in class da sua categoria. É uma estratégia 100% válida, mas que decidimos desafiar trabalhando no sentido multiproduto, com o objectivo claro de sermos uma one stop shop de snacking, cobrindo todas as necessidades de snacking de um consumidor ou agregado familiar. Neste momento, a marca conta com 10 produtos e só em 2021 conta duplicar esse sortido, garantindo assim opções para os diferentes momentos do dia, diferentes consumidores do agregado familiar ou diferentes benefícios.
Podemos então afirmar que a Urban Foods tem um propósito muito bem definido?
Marta Lousada – Acreditamos que sim. Queremos ter um impacto positivo na forma como as pessoas se relacionam com a comida e desmistificar alguns preconceitos como comida saudável não é saborosa ou que comida saudável é cara. Enquanto marca, estamos a desenvolver um projecto de inovação social que pretende contribuir activamente para a mudança de hábitos alimentares junto dos mais jovens. Sabemos que é desde cedo que começamos a criar hábitos e é junto das crianças que queremos primeiramente actual neste sentido.
Acreditam que é possível mudar os hábitos das pessoas?
ML – Sem dúvida! Como referi, os mais jovens são os mais propícios a criar hábitos diferentes das gerações anteriores. No entanto, é reconhecido o impacto que o exemplo principalmente dos pais tem nas vidas das crianças. Por isso, é também importante desmistificar algumas das crenças dos adultos relativamente à comida saudável. A preocupação com hábitos mais saudáveis existe e tem vindo a crescer. A pandemia Covid-19 veio acentuar ainda mais esta preocupação.
Agora numa acção inovadora querem que seja o consumidor a escolher o seu snack. Até que ponto a inovação é importante para a vossa empresa?
ML – A inovação e a abertura à mudança está no ADN da Urban Foods. Fomentamos uma perspectiva não convencional de olhar e solucionar os desafios da sociedade moderna. Actualmente, temos 10 produtos e todos eles com um twist diferente que apresentam inovação face ao que já existe no mercado. Por exemplo, transformámos manteiga de amendoim, uma textura cremosa com um sabor que muitos adoram, num snack crocante e cheio de sabor que agrada a fãs de doce e de salgado. Ou as Banana Chips, já bem conhecidas no mercado, mas a nossa opção apresenta uma textura, crocância e sabor temperado com sal que nos remete imediatamente para o que adoramos nas batatas fritas mas.. é banana da ilha da Madeira!
Como tem sido o desenvolvimento da Urban Foods?
ML – Nascemos em 2018 e começámos por entrar nos grandes retalhistas nacionais. Primeiro o Pingo Doce, depois o Continente, El Corte Inglès e Auchan. A estratégia de proximidade pelos retalhistas foi core. Até ao início de 2020 foi esta a estratégia da marca. Depois, com a pandemia Covid-19, rapidamente percebemos que o canal online tem um potencial incrível para nós. Mais: percebemos que há uma oportunidade maior, uma vez que outras marcas de snacking não estão a trabalhar com prioridade neste canal. A nossa estratégia multi-produto é uma vantagem competitiva para a saúde financeira deste canal. Permite-nos trabalhar compra média e estimular frequência, tendo o nosso produto um potencial de consumo em vários momentos ao longo do dia, com frequência diária, e por todo o agregado familiar.
Quantos colaboradores têm actualmente?
MVB – Actualmente somos uma equipa em crescimento e muito multidisciplinar. Na verdade, desdobramo-nos em vários papéis, sendo o valor acrescentado que cada pessoa traz para empresa muito relevante.
E no futuro pretendem recrutar?
MVB – Temos uma ambição grande de transformar o modelo de negócio e de internacionalização. Vamos, naturalmente, contratar talento para nos ajudar a concretizar esta ambição. Além disso, estamos também a criar uma cultura de empresa com a qual nos identificamos que nos vai permitir atrair talento com os mesmos valores, ambição, paixão e vontade de fazer acontecer que nós.
Têm também o objectivo de criar valor para a economia do país. De que forma?
ML – Sim, temos. Estamos a criar na medida em que estamos a criar emprego e a rentabilizar recursos do país. Não só do ponto de vista humano, mas também do ponto de vista de matéria-prima. Actualmente, aproximadamente, 40% do volume de produção em Portugal.
Pode dar exemplos?
ML – Claro. As nossas Banana Chips são produzidas com banana da ilha da Madeira. Usamos matéria-prima nacional e também recursos humanos, sendo que a fábrica é na ilha, em território nacional.
Olhando para o futuro quais os próximos passos da empresa?
MVB – O futuro e crescimento passam, obviamente, por entendermos o que esperam de nós os nossos consumidores, e desenvolver produtos que superem as suas expectativas. Depois trabalhar continuamente com ambições globais de ser a mais relevante one stop shop de snacking.
Significa isso que têm novos projectos na carteira?
MVB – Para já as grandes metas estão assentes em três verticais: 1) a internacionalização, 2) o aumento de gama e introdução de novas categorias, e 3) o lançamento de uma iniciativa de inovação social que temos vindo a trabalhar e com a qual estamos muito entusiasmadas.
Estando a internacionalização nos vossos planos, de que forma a pretendem concretizar?
MVB – A segunda metade do ano de 2021 será focada em internacionalização. Os mercados prioritários serão mercados maduros tanto na adoção de snacking better-for-you, a categoria onde nos enquadramos, como na adoção de e-commerce, e com capacidade de compra elevada.