Sobre o potencial de emprego. Ou o desfasamento entre a oferta e a procura
Um desemprego baixo não significa que estamos a satisfazer as necessidades do nosso tecido empresarial de forma a crescer de forma sustentada, pois há um desfasamento entre aquilo que as pessoas oferecem e aquilo que as empresas procuram.
Por Carlos Figueiredo, secretário-geral da APESPE RH – Associação Portuguesa das Empresas do Setor Privado de Emprego e de Recursos Humanos
Os números do desemprego são, muitas vezes, usados para medir o dinamismo da actividade económica do nosso país, bem como a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Provocam a constante discussão pública e opiniões de diversas ordens. Em parte, todos concordamos que uma baixa taxa de desemprego resulta em crescimento económico embora tal leitura seja (extremamente) limitada no que toca a fazer acepções e generalizações. Não obstante, um desemprego baixo não significa que estamos a satisfazer as necessidades do nosso tecido empresarial de forma a crescer de forma sustentada.
Sabemos que em várias regiões do país, e em alguns sectores de actividade económica, se vive uma situação de pleno emprego. É extremamente positivo, mas acarreta oportunidades e um grande desafio.
Em alguns sectores existe já emprego negativo, isto é, o número de profissionais disponíveis para trabalhar é inferior aos que são exigidos para uma dada profissão e sector de atividade. Esta abundância não significa que estamos a dar mais oportunidades às pessoas ou a combater o desemprego. Significa apenas que há um desfasamento entre aquilo que as pessoas oferecem e aquilo que as empresas procuram. O facto de hoje desfrutarmos de uma conjuntura económica bastante favorável leva a que o número de pedidos de profissionais qualificados não pare de aumentar. No entanto, na altura das empresas irem ao mercado contratar, debatem-se com uma manifesta falta de stock de mão-de-obra qualificada. Este contexto exerce uma enorme pressão sobre a actividade dos Recursos Humanos dessas organizações e sobre as empresas de Selecção e Recrutamento, cuja missão é particularmente difícil e exigente.
Mas é uma missão imprescindível e de grande importância para o país. Bem sabemos que o crescimento da actividade económica do país faz-se com recursos qualificados, com talentos. Quando inquiridos sobre as razões que mais decisivamente podem limitar o crescimento e expansão dos negócios em Portugal, a maior parte dos CEO’s aponta a escassez de profissionais qualificados como sendo a sua maior preocupação. A falta de talento/recursos qualificados está a travar o crescimento da actividade económica em Portugal.
As empresas de Recursos Humanos são especialistas neste ajustamento dos recursos com as oportunidades. E por via da própria evolução do seu negócio e das exigências do mercado de trabalho, as empresas de Recursos Humanos são especialistas nesse “casamento”, que exige um conjunto de ferramentas, muitas vezes menosprezado por diversos agentes, mas de grande importância para o desenvolvimento económico: a formação, a reconversão de carreiras e o marketing pessoal e o desenvolvimento de capacidades.
A importância de estreitar o desfasamento entre a oferta e a procura exige que as empresas olhem para as pessoas com mais atenção, nas competências e com vista ao seu desenvolvimento, colocando-as no centro da sua estratégia.
O grau de especialização destas empresas no emprego é uma enorme mais valia para o país. É uma enorme oportunidade para o desenvolvimento económico e configura uma grande vantagem para os trabalhadores e para as empresas.
Mas este papel acarreta grandes responsabilidades. Por isso, é importante que o cumprimento de códigos de compliance rigorosos no que toca aos direitos e deveres laborais. Esse tem de ser, sempre, um ponto de honra e um diferenciador entre as empresas, independentemente da conjuntura económica, de crescimento e expansão, de recessão, ou mesmo de crise, o cumprimento rigoroso e estrito dos direitos dos candidatos, futuros trabalhadores, jamais pode ser objeto de um qualquer compromisso ou cedência. Esse escrutínio cabe a todos mas, em primeiro lugar, aos próprios candidatos e trabalhadores.
O potencial de emprego é tanto maior quanto o talento dos candidatos. É por aqui o caminho, e é por aqui que temos de medir o emprego.