Sociedade 5.0: Paradoxos da gestão
Esta é sem dúvida uma era de grandes desafios. O futuro da humanidade estará dependente da forma como hoje lidarmos com eles e das soluções que iremos adoptar.
Por Elsa Carvalho, directora de Recursos Humanos da REN – Redes Energéticas Nacionais
«E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.»
Friedrich Nietzsche
Sociedade 5.0, termo que surge tendo presente o rápido desenvolvimento da tecnologia da informação permitindo a combinação do espaço cibernético com o espaço físico. Também denominada sociedade superinteligente, perspectiva uma mudança que promete revolucionar a sociedade por um bem maior, a humanidade, reposicionando o que criámos em nosso próprio benefício, melhorando significativamente a qualidade de vida do ser humano. Neste caso, a utilização dos sistemas inteligentes como aliados para resolver problemas da humanidade.
Num futuro onde tudo estará conectado, poderemos, de facto, perspectivar uma sociedade mais humana, menos desigual e mais integradora, colocando o ser humano no centro do desenvolvimento?
Sabemos que temos actualmente grandes desafios a carecer de respostas e de soluções. Desafios ambientais, mudanças climáticas, crescimento demográfico, escassez de recursos naturais, distribuição desigual da riqueza, instabilidade política e social, são exemplos da realidade do mundo onde vivemos.
A ONU, decorrente dos três pilares do desenvolvimento sustentável – económico, social e ambiental – estabeleceu objectivos a serem globalmente implementados até 2030. O combate à pobreza, a segurança alimentar, o acesso a cuidados de saúde e de educação, água e energia são alguns deles.
Esta é sem dúvida uma era de grandes desafios. O futuro da humanidade estará dependente da forma como hoje lidarmos com eles e das soluções que iremos adoptar. Se o mundo de hoje é a herança dos nossos antepassados, as nossas acções no imediato serão o legado que deixaremos às gerações vindouras. Poderemos de facto perspectivar que a utilização dos sistemas inteligentes serão a solução para os actuais desafios da humanidade ou, acima de tudo, servirão para potenciar o crescimento das sociedades já desenvolvidas acentuando as diferenças?
Hoje, a nível empresarial, falamos de diversidade, sustentabilidade e responsabilidade. Aprendemos que a criação de riqueza não pode ser mais a todo o custo. Uma empresa sustentável é uma empresa que, a par com sustentabilidade financeira, apresenta preocupações sociais e ambientais. As competências e capacidades do passado, já não são hoje as necessárias para prepararmos o futuro. Um futuro que, embora imprevisível, precisa de ser urgentemente planeado.
Seremos nós hoje capazes de identificar e desenvolver as competências necessárias no futuro?
Será a holocracia (também definida como “tecnologia social” pelo seu criador) a melhor forma de gestão, de forma a potenciar a agilidade na tomada de decisão e tornar as empresas mais ágeis perante os novos desafios e necessidades?
É certo que, promovendo uma descentralização das responsabilidades entre todos os intervenientes e uma organização ágil e dinâmica que se restrutura em função das suas necessidades e desafios, o poder é distribuído em função dos papéis de cada um desempenha num dado projecto/ desafio. Estarão os gestores preparados para estas novas abordagens de gestão, abdicando dos seus clássicos papéis de decisores e abdicando de poder, em prol de uma organização mais ágil e adaptável em todo e qualquer momento?
Friedrich Nietzsche, no livro “Assim falou Zaratustra”, denunciava a necessidade de quebrar os valores morais e a hipocrisia de uma época. Zaratustra não ambicionava discípulos nem seguidores, mas antes, aliados.
No fim desta reflexão, volto ainda a citar Nietzsche: «Quem constrói o futuro está muito ocupado para julgar o passado.»
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Este artigo foi originalmente publicado na edição de Maio da Human Resources Portugal.