Sou gestor ou bombeiro?
Por Diogo Alarcão, Gestor
Mais um ano e mais um balanço negro da “época de incêndios”. Só o simples facto de se falar de uma “época de incêndios” já é revelador da gravidade do problema e das enormes dificuldades que temos em lidar, enquanto País, com esta catástrofe que se repete ano após ano. Todos sabemos que são múltiplas as razões que explicam os incêndios rurais em Portugal: as alterações climáticas; a falta de limpeza dos terrenos públicos e privados; os pirómanos; os interesses económicos; a negligência e falta de civismo, entre outras.
Parece-me também relativamente consensual que a melhor forma de combater os incêndios é a prevenção. Se é verdade que (infelizmente) tardarão muitos anos até conseguirmos fazer regredir o aquecimento global, há muitas medidas de prevenção que podíamos tomar para reduzir os riscos de incêndios rurais: investir na limpeza de baldios e terrenos públicos; criar mecanismos de incentivo à limpeza dos terrenos privados; vigiar, acompanhar e cuidar dos que se sentem atraídos pelo mediatismo de um incêndio de grandes proporções; punir severamente o fogo posto por interesses económicos impedindo qualquer aproveitamento ou mais-valia decorrente de um incêndio rural; continuar a apostar na educação e sensibilização (a campanha “Portugal Chama” é um bom exemplo do que se pode/deve fazer).
Ao ver as notícias dos diversos fogos e tendo presenciado o recente incêndio junto às praias da Costa da Caparica, dei por mim a pensar que muitas empresas padecem do mesmo mal no que se refere à gestão de “incêndios”; isto é, gastam imensos recursos a tentar extinguir “fogos” e a repor os danos causados pelos mesmos, mas investem pouco na prevenção.
Se não vejamos.
Quantos de nós já não fomos confrontados com a “casa a arder” porque:
- Perdemos pessoas, queimando oportunidades de reter e desenvolver talentos críticos para o sucesso do negócio;
- Deixámos que um rumor incendiasse o ambiente da empresa;
- Permitimos que o mato (leia-se processos e procedimentos) asfixiasse a capacidade de inovar;
- Fomos negligentes no processo de limpeza de tarefas administravas que depois minaram a nossa capacidade de reagir rapidamente a uma alteração do mercado;
- Descurámos a formação e prevenção nas áreas da saúde mental, permitindo que a rotina, o stress e burn-out ou a falta de compromisso se instalasse tornando as nossas empresas “pasto” das chamas do absentismo, de baixas produtividades, de acidentes de trabalho ou de erros e omissões.
Perante este tipo de “incêndios”, as empresas tendem a gastar fortunas para procurar minimizar danos e mitigar consequências. Deixo alguns exemplos: raramente se consegue substituir uma pessoa crítica para o negócio sem pagar substancialmente mais; perdemos tempos infindáveis para gerir tensões e conflitos entre equipas ou dentro das próprias equipas; continuamos teimosamente agarrados à forma (“como fazemos”) em vez de nos focarmos no conteúdo (“como fazemos), deixando-nos aprisionar em regras e normas; gastamos fortunas para assegurar a continuidade do negócio ou para reparar danos materiais e humanos.
Ora, tudo isto poderia ser mitigado se investíssemos mais na prevenção. Vale a pena pensar sobre o que estou a fazer na minha empresa em áreas críticas como:
- Retenção e Desenvolvimento de Talentos;
- Comunicação interna e externa;
- Inovação;
- Desburocratização e agilização de processos;
- Prevenção da saúde mental e do compromisso das pessoas que trabalham na minha empresa.
Não tenho dúvidas de que políticas bem pensadas e implementadas nestas áreas permitirão evitar muitos dos “incêndios” com que as nossas empresas se debatem e com uma diferença face aos fogos rurais; é que estes ainda vão obedecendo a uma certa época (previsível) de incêndios, mas nas empresas o perigo de “incêndio” é diário. Deixo um conselho: se quer ser mais gestor do que bombeiro, aposte na prevenção!