Steven Braekeveldt, Grupo Ageas Portugal: «Queremos ser uma love brand enquanto empregador.»

Cuidar, desafiar, partilhar e entregar. São estes os quatro motores diários do Grupo Ageas Portugal, que tem como ambição ser uma love brand enquanto empregador. Quem o afirma é o seu líder Steven Braekeveldt, que acredita que a “imagem cinzenta” do sector dos Seguros é passado – ou não usasse ele, orgulhosamente, meias coloridas. Mas apresenta outros argumentos.

 

Por Ana Leonor Martins | Fotos Nuno Carrancho

 

Steven Braekeveldt falou à Human Resources dos desafios, na empresa que lidera, do país para onde veio “temporariamente” (mas onde acabaria por ficar) e do mundo onde todos vivemos e que «algures no futuro precisará ser salvo». Alertou para a queda da Segurança Social, da qual todos «somos testemunhas na primeira fila», para a falta de literacia financeira e para os baixos salários, que fazem os talentos sair do País. Está convicto de que estamos a subestimar o poder e as mudanças que a inteligência artificial irá trazer, defende que o excesso de burocracia é uma «receita para o desastre» e que a inovação «pressupõe um compromisso para eventualmente se perder dinheiro sem consequências».

Em relação à sua liderança no Grupo Ageas Portugal – ainda que faça questão de afirmar que não quer ser um líder, «mas sim um tecelão» –, talvez a frase que melhor resume o muito que partilhou seja a que exprime a pretensão de serem «considerados um porto de abrigo e um exemplo de empresa, com os valores certos». E se a nível profissional, em Portugal, ambiciona que a Grupo Ageas Portugal seja um farol e uma referência no mercado em muitos domínios, nomeadamente em sustentabilidade e responsabilidade; a nível pessoal, quer convencer pelo menos «alguns de que as cervejas belgas têm um óptimo sabor».

 

Liderava a Ageas Europa quando aceitou o desafio de vir para Portugal. Encontrou uma realidade muito diferente da que conhecia?
Apesar de o negócio ser o mesmo, liderar um conjunto de países ou apenas um país exige perspectivas distintas. Estamos perante um mercado com especificidades próprias. Foi necessário adaptar-me ao novo contexto e ter em conta os vários factores que influenciam o sucesso do negócio em Portugal, como a cultura empresarial, as regulamentações locais, a concorrência activa no mercado e as condições económicas do País.

 

O que lhe foi pedido em Abril de 2016?
É uma boa pergunta. Na altura, estávamos à procura de um novo líder para Portugal e, depois de termos analisado cerca de 10 nomes, o CEO do nosso Grupo sugeriu que eu gerisse temporariamente a Europa a partir de Lisboa, em vez de Bruxelas, uma vez que era membro do nosso conselho local desde 2007. E, assim, o que era temporário tornou-se permanente.

 

Neste caminho de já sete anos, com uma pandemia pelo meio, o que destaca como principais conquistas?
Fruto de uma estratégia focada no desenvolvimento de produtos inovadores, na melhoria dos processos de negócios e na expansão para novos segmentos de mercado, nestes últimos anos, o Grupo Ageas Portugal alcançou um crescimento sustentável nos seus negócios.

A importância da transformação digital nas empresas tem ganho notoriedade e, como grupo segurador, também apostámos nesta área – com a implementação de tecnologias avançadas, como inteligência artificial, análise de dados e automação de processos de negócios – para optimizar operações, melhorar a experiência do cliente e impulsionar a inovação.

Como CEO, também priorizei a responsabilidade social corporativa, procurando formas de contribuir positivamente para a sociedade. Implementámos várias iniciativas de sustentabilidade, de literacia financeira, de diversidade e inclusão, com o objectivo de ser uma empresa socialmente responsável e pioneira nas formas de responsabilidade. A Cultura é outra área em que temos apostado muito, e que tem um peso muito forte para a sociedade – ainda em Abril lançámos o Prémio Audiovisual Ageas.

Destaco ainda o nosso foco prioritário no cliente. Ao longo dos anos, temos aperfeiçoado a jornada de experiência do cliente, quer no atendimento, quer no desenvolvimento de produtos personalizados, que reflectem as necessidades individuais.

 

E quais têm sido os principais desafios?
A literacia financeira tem sido um desafio muito grande em Portugal. Há pessoas que não têm qualquer tipo de seguro por desconhecerem o seu funcionamento, por pensarem que as empresas que os vendem não são honestas, e acabam, tristemente, por nunca receber nada em caso de necessidade. No sector dos Seguros, devíamos divulgar melhor esta mensagem – 97% dos acidentes são pagos de forma célere. É fundamental melhorar a literacia sobre o sector e, por isso, desenvolvemos recentemente o projecto “Histórias Seguras”, que visa mostrar o impacto positivo que os seguros têm na vida das pessoas.

Outro grande desafio em Portugal é a crescente divisão entre quem tem e quem não tem, o que coincide com o atraso tecnológico e com a falta de literacia que referi.

Por último, e em comum com muitos países europeus, destacaria a queda do sistema de Segurança Social após a Segunda Guerra Mundial. A assistência pública, as pensões e a educação, que costumavam ser os nossos apoios durante muitas décadas, estão a desmoronar-se. Somos testemunhas em primeira fila.

 

Depois da pandemia, temos uma guerra na Europa, inflação… Como está a ver 2023 e como perspectiva o segundo semestre?
Nas situações de crise, como pandemias ou guerras, as incertezas e os desafios significativos para as empresas são normais. Neste caso, não foi diferente. O início do ano foi marcado pela volatilidade dos mercados, as constantes mudanças nos comportamentos dos consumidores, as várias restrições governamentais e as alterações nas regulamentações.

Os próximos meses vão assim exigir flexibilidade, adaptação e tomada de decisões informadas. É necessário realizar uma avaliação cuidadosa dos riscos e oportunidades, e monitorizar de forma regular o cenário económico e empresarial. A colaboração com outros líderes e parceiros pode ser relevante para enfrentarmos os desafios da situação actual.

 

Neste contexto, quais são os principais desafios para o sector segurador?
A evolução negativa da conjuntura económica e os seus efeitos continuarão a marcar as sociedades, incluindo a portuguesa. No entanto, existem outros factores, como as mudanças climáticas – que faz aumentar eventos extremos como furacões, inundações ou incêndios – e o avanço tecnológico, que levará à alteração da gestão de sinistros e a interacção com os clientes.

Além disso, as seguradoras também têm de estar atentas às mudanças do consumo e adaptar-se às mudanças sociais e demográficas.

No Grupo Ageas Portugal, contudo, acreditamos que podemos – e devemos – aproveitar todos os desafios e transformá- los em oportunidades. É exemplo disso o projecto MaisIdadeMais, focado nas necessidades, nas preocupações e em novas soluções para o envelhecimento.

A inteligência artificial terá um impacto estrutural na economia, semelhante ao que teve, historicamente, a Revolução Industrial. O impacto será enorme e ainda não antecipamos o seu alcance total.

 

Tem feito algumas críticas às estruturas demasiado hierárquicas e ao excesso de burocracia que existe em Portugal… Que consequências isso tem, nas empresas e na competitividade do País?
Demasiada hierarquia pode ser uma ameaça para a inovação. Quando uma sociedade ou uma empresa é demasiado hierárquica e trata a inovação como parte de um plano regular de vários anos, com muitos relatórios e processos, tem a receita para o desastre.

Em alguns casos, as pessoas no topo da hierarquia podem até considerar-se bastante flexíveis, quando, na verdade, são bastante antiquadas para startups. É necessária uma cultura específica, é necessário um afastamento dos quadros tradicionais de Recursos Humanos, é necessário um compromisso para eventualmente se perder dinheiro sem consequências, mas ao mesmo tempo com uma abordagem extremamente profissional. A inovação é um assunto sério.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Maio (nº. 149) da Human Resources, nas bancas. 

Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.

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