Teletrabalho, porque sim ou porque não

Por Luis Roberto, Managing Partner da Comunicatorium

 

Com a chegada da crise pandémica, quase metade da população ativa da UE foi enviada para teletrabalho.

Segundo o Eurofund (Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho), com base em cerca de 90 mil inquéritos online realizados em Julho, a Bélgica é o país onde a percentagem de pessoas em teletrabalho ultrapassa os 50%, seguindo-se a Irlanda, Itália, Espanha e França, com níveis acima dos 40%.

Portugal surge em sexto lugar, com quase 40% de pessoas em teletrabalho, seguido de perto pela Dinamarca.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, no final do segundo trimestre de 2020, um milhão de pessoas em Portugal estavam em teletrabalho.

O regime de teletrabalho no estado de emergência é distinto no país, conforme a situação epidemiológica, sendo obrigatório em todos os concelhos de risco elevado, muito elevado e extremo, e sempre que as funções em causa o permitam.

Não estão abrangidos os profissionais de saúde, das forças e serviços de segurança, serviços públicos e infraestruturas essenciais, e de instituições sociais.

Uma das questões em discussão sobre o teletrabalho, é a falta de limites entre o trabalho e a vida não profissional, com um quinto das pessoas em casa a referirem  que trabalham durante o tempo livre.

Mesmo assim, segundo o mesmo estudo, 78% dos colaboradores inquiridos manifestaram preferência por trabalhar em casa, e pensam que este modelo terá manifestamente impacto positivo nas suas vidas.

Existem à partida mais vantagens do que desvantagens para o colaborador em teletrabalho.

Comecemos pela redução dos custos em transportes e o tempo gasto em deslocações. Menos stress, maior autonomia, flexibilidade de horário e o equilibrio da vida familiar, são outras das vantagens, para quem está em teletrabalho.

Importa no entanto ter presente que o serviço de aconselhamento SNS24, contabilizou até ao início do ano 60.000 chamadas, com diagnósticos de ansiedade e stress em resultado do isolamento.

Para quem está em teletrabalho as viagens executivas deixaram de existir, as pausas são uma opção, a formação e as reuniões de trabalho passaram a ser online, e a dificuldade em desligar o computador é permanente.

Segundo a Ordem dos Psicólogos, é importante que as empresas estejam atentas aos riscos potencialmente causados pelo teletrabalho, i.e. a dificuldade em fazer “off” e o sentimento de isolamento.

As lideranças têm e terão um papel fundamental na gestão e na forma como comunicam com as equipas em teletrabalho. È crucial saber ouvi-las, estar atento ás alterações comportamentais e sensiblizá-las para o uso de rotinas.

Importa garantir a ligação com a empresa e a cultura organizativa, a gestão por objetivos e o incremento dos níveis motivacionais.

Os números mostram que o teletrabalho, impulsionado pela crise pandemica, veio para ficar num regime misto, que permita trabalhar a partir de casa várias vezes por semana, alternando o teletrabalho com o trabalho presencial, existindo a crença em alguns de que o trabalho presencial, afinal, é mais produtivo.

Haverão setores de atividade que permitirão mais facilmente a adoção do teletrabalho, do que outros. Outros casos existirão, em que o trabalho a partir de casa aplicar-se-á apenas a alguns departamentos ou áreas funcionais de apoio aos negócios.

Por último, e não menos importante, as alterações da regulamentação do teletrabalho, deverão ser revistas e garantidas, definindo os critérios a adotar, nomeadamente as condições técnicas e habitacionais mínimas e necessárias, para o bom desempenho em teletrabalho.

Porque sim ou porque não, o teletrabalho veio para ficar.

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