The Happiness Mentality. Ou como aumentar a felicidade dos colaboradores através do humor

The Happiness Mentality é um projecto criado com o objectivo fornecer ferramentas para o alto desempenho num ambiente de trabalho positivo. Através do humor, a finalidade é aumentar a felicidade dos colaboradores, empoderando as equipas para a multiplicação deste conceito. 

 

Por Sandra M. Pinto

 

O ano de 2020 tem vindo a apresentar-se como um dos mais desafiadores das nossas vidas. O mundo teve de se adaptar a uma nova realidade e as pessoas viram-se obrigadas a encarar novos desafios tanto na vida profissional como na pessoal e familiar. A componente “saúde mental” ganhou relevância e tornou-se num tema central. Este “novo normal”, como muitos lhe chamam, trouxe uma uma nova perspectiva de vida, na qual é ainda mais importante termos ferramentas para tentarmos ser felizes em todos os aspetos da nossa existência, particularmente no trabalho, local onde passamos a maior parte do nosso tempo. Criado por Abbadhia Vieira, Miguel Lambertini e Mónica Vale de Gato, especialistas em comunicação e humoristas, The Happiness Mentality quer ajudar as pessoas a serem felizes tanto no trabalho como na vida pessoal. Isso mesmo descobrirmos numa conversa com os três mentores do projecto.

O que é o conceito de trabalho positivo?
Abbadhia Vieira – Um trabalho onde eu consigo realizar as minhas actividades profissionais de acordo com os meus valores, ter remuneração financeira e emocional compatível e ainda conciliar de maneira equilibrada a minha vida pessoal. Parece um sonho não é? E se dissermos que isto só é possível a partir da própria pessoa e não das empresas? Parece estranho dizer que as empresas não são totalmente responsáveis por isso. A verdade é que não importa o que as empresas façam, se entre essas ações não estiver a oportunidade de ajudar o colaborador a entender e partilhar os seus sentimentos e valores.
Vou contar um pequena história que está no programa do Happiness Mentality (atenção: Spoiler)
Num certo processo de seleção estava o recrutador acompanhado de um assistente.
Chegou o primeiro candidato e a primeira pergunta do recrutador foi:
– Como era a sua empresa anterior?
O candidato respondeu:
– Nossa, era terrível. As pessoas não eram nada empáticas, um clima bem tenso e a liderança muito desalinhada com o propósito. Um dos motivos pelo que preferi sair.
Imediatamente o recrutador completou:
– Esta empresa também é assim. Acho inclusive que terá os mesmos problemas.
O assistente ficou perplexo. Silêncio breve na sala. A entrevista seguiu, o recrutador agradeceu e pediu que viesse o segundo candidato e lhe fez a mesma pergunta sobre a empresa anterior.
O segundo candidato respondeu:
– Pois é! A empresa até tinha os seus problemas, mas era um local muito bom. As pessoas estavam sempre à procura de melhoria, os líderes estavam ocupados em crescer junto. Tive que sair por causa da mudança de mora pois o meu cônjuge foi transferido.
E o recrutador imediatamente completou:
– Nesta empresa também é assim. Estão todos à procura de autoconhecimento, evolução e melhoria de soft skills.
O assistente não entendeu aquela resposta tão diferente sobre a mesma empresa e no final da entrevista indagou o recrutador que calmamente respondeu:
– A verdade é que quem define como é a empresa e os seus colegas é o ponto de vista de quem trabalha nela. Quando se quer melhorar um ambiente passa a ser um exercício constante e comprometido e não importa o que eu diga sobre a empresa. Essa pequena história me diz muito sobre a construção de um ambiente positivo. Se a pessoa está sempre insatisfeita pode ser que o problema seja a forma como ela está reagindo às próprias emoções e isto é totalmente treinável.

Qual é hoje a importância deste conceito?
Miguel Lambertini – Cerca de 80% da nossa vida é passada a trabalhar, por isso é indispensável que parte desse tempo seja também compensado com estímulos positivos e que promovam o bem-estar das pessoas. Os estudos nesta área indicam que os colaboradores valorizam, cada vez mais, a sensação de que as empresas se preocupam com a sua felicidade, dentro e fora do trabalho. O conceito de happiness mentality que desenvolvemos tem como principal objectivo estimular e disseminar uma cultura de comprometimento organizacional, de auto-motivação, confiança e sentido de pertença. Acreditamos que a felicidade corporativa é um investimento com retorno, já que as empresas que conseguem oferecer este tipo de benefícios aos colaboradores, têm uma clara vantagem competitiva no mercado.

 

Perante a pandemia que ferramentas devemos usar para sermos mais felizes no trabalho?
Mónica Vale de Gato – Acima de tudo aprender a desligar. É fundamental para que não estejamos sempre “online”. Isto provoca uma grande ansiedade e stress nos profissionais.
E ainda praticar a empatia. Incentivar os colaboradores a relacionarem-se mais com programas inovadores que permitem o team-work online. Como é o caso do programa “The Happiness Mentality”.

 

Até que ponto o humor pode ajudar a ter uma vida mais saudável?
Mónica Vale de Gato – O humor tem o poder de trazer leveza até aos momentos mais stressantes ou tristes das nossas vidas. Recorrer a este tipo de comportamento é bastante recomendado pelos próprios psicólogos. Nada como ter a capacidade de rir sobre si mesmo.
Abbadhia Vieira – Existem diversas pesquisas científicas que mostram, em termos hormonais, as melhorias específicas no ser humano graças ao bom humor, porém a maioria das pessoas pensa que isto é apenas um benefício de humoristas, artistas e comediantes. A cultura do humor passa por entender as nossas vulnerabilidades e os nossos pontos de crescimento. Importa rir de maneira generosa desses pontos para que sejam de melhoria e não elementos de tortura e cobrança.

 

De que forma pode esse humor ser implementado no ambiente laboral?
Miguel Lambertini – Quer seja em ambiente laboral ou fora dele, o humor gera conexões, aumenta a confiança, reduz as tensões e cria experiências de partilha positivas que aproximam as pessoas, como nenhuma outra ferramenta. Nesse sentido, o humor pode ser muito eficaz no local de trabalho, por exemplo quando é necessário apresentar qualquer tipo de informação a um determinado público, seja ele a nossa equipa ou um grupo mais alargado de colegas. Porque recorrer a um discurso que faça uso do humor, ajuda a que a nossa mensagem tenha impacto e faz com que as pessoas parem e prestem atenção.
Abbadhia Vieira – O humor pode ser uma humanização de temas complexos. Estou num processo de defesa da dissertação de mestrado onde o tema é exactamente este. Existem teorias do humor, palavras, termos e expressões que nos conectam com coisas boas e aprender a fazer isso nos momentos críticos é quase um pequeno manual para emergências e poderá ser de grande ajuda no ambiente corporativo.

 

Será esse humor bem aceite pelas chefias e líderes?
Miguel Lambertini – Um estudo feito pela Harvard Business Review concluiu que gestores que utilizam o humor como ferramenta de trabalho, ganham melhor e são promovidos mais rapidamente. Se ainda assim este dado não é uma razão suficiente para adoptar esta postura, podemos acrescentar que as empresas com visão de futuro compreenderam que a felicidade é uma competência central e, como tal, deve primeiro ser adquirida e dominada nos níveis de chefia e liderança. Dito isto, o humor é apenas um dos dados da equação que procura potenciar a felicidade corporativa. Para além deste importante elemento, há outros como o compromisso com os valores, a análise de motivações, o satisfazer de expectativas, o bem-estar físico e psicológico, entre outras que abordamos nas nossas formações e que visam implementar uma estratégia em que a felicidade das equipas seja parte da sua cultura e do sucesso da empresa a longo prazo.

 

Como se devem empoderar os colaboradores para que sejam cada vez mais felizes?
Miguel Lambertini – A felicidade no trabalho é o melhor antídoto para o stress. O stress não vem necessariamente de trabalhar muito, mas de se sentir mal enquanto trabalha. Empoderar os colaboradores passa por criar ambientes de trabalho positivos que capacitam as equipas e constroem culturas que otimizam a produtividade, aumentam o envolvimento e inspiram a criatividade.
Abbadhia Vieira – O empoderamento passa também por fornecer ferramentas desde testes, exercícios, jogos, actividades, textos e vídeos que ajudam o colaborador a perceber o quanto ele pode mensurar e administrar o tema. De todas as coisas existentes no universo a única que depende exclusivamente de nós são as nossas emoções e aprender a entendê-las e direccioná-las é uma chave para o empoderamento da felicidade individual que reflecte na felicidade colectiva.

 

Que acções podem as organizações levar a cabo junto das equipas de modo a empodera-las para que sejam mais felizes?
Miguel Lambertini – Questões físicas como um local de trabalho confortável, bem decorado e atractivo, são alguns exemplos de um primeiro passo. Por outro lado, outros aspectos como a flexibilidade nos horários e local de trabalho, o feedback personalizado, o reconhecimento do sucesso dos colaboradores, a disponibilização de espaços de convívio ou a criação de momentos de descontração no local de trabalho, ajudam a cimentar um clima de felicidade corporativa. No entanto, o conceito de happiness mentality vai muito além, principalmente no panorama actual, e está directamente relacionado com a capacidade que as empresas têm de cultivar e agir de acordo com os seus valores, fazendo com que os colaboradores sintam que estão a realizar um trabalho relevante e alinhado com os seus propósitos pessoais. É importante promover um ambiente inspirador para as equipas, da mesma forma que a empresa o faz com os seus clientes, criando experiências marcantes que sejam lembradas pelo colaborador dentro e fora da empresa.

 

Qual a relação entre felicidade, motivação e produtividade?
Mónica Vale de Gato – Um colaborador infeliz jamais terá a motivação para fazer o seu trabalho e consequentemente ser feliz. A chave não está em forçar a produtividade. Mas sim em permitir que tudo o que seja feito, seja feito com felicidade, que gera motivação e causa produtividade.

 

Estão as lideranças cientes dessa relação?
Mónica Vale de Gato – É ainda um longo caminho a percorrer e em especial no mercado de trabalho português.
A produtividade já era um grande desafio em Portugal. Onde se relaciona na maior parte das vezes o número de horas de trabalho ao ser produtivo. Mas na verdade por vezes os mais produtivos são os mais “pontuais” na hora de saída.
E por vezes a motivação nem sempre vem com um bom salário. Vem também das oportunidades de crescimento, da boa relação com os colegas, do se ser feliz no que se faz.

 

As pessoas querem ser felizes no trabalho e na vida pessoal. Estão estas duas realidades hoje com o teletrabalho ainda mais interligadas?
Mónica Vale de Gato – Completamente. E cada vez mais depois desta nova realidade. Assistimos a cada vez mais pessoas a descarregarem as suas frustrações pessoais no trabalho, e as do trabalho na vida pessoal. Estas duas vidas são agora uma só. Este programa visa trabalhar esta problemática e permitir capacitar os colaboradores de encontrar a felicidade em qualquer âmbito das suas vidas.

 

Como surgiu o projeto The Happiness Mentality?
Abbadhia Vieira – Desde a fundação da TEM – Teatro Empresarial Motivador – há 10 anos no Brasil, já existia uma forte tendência para que as formações incidissem na melhoria do ambiente corporativo através das ferramentas do bom humor, porém a nomenclatura de felicidade surgiu agora na pandemia a partir de uma declaração muito forte vinda de um amigo meu, alto executivo de uma multinacional no Brasil. Estávamos a conversar quando ele me disse uma das frases mais impactantes que ouvi: «Sabe Abbadhia, se eu tivesse falecido abruptamente por causa desse vírus tão desconhecido eu teria questionado o meu percurso profissional até aqui».
Essa frase foi como um alarme dentro de mim! Ele é um executivo super bem remunerado, aparentemente feliz, aparentemente um líder bem visto na organização, como pode ter duvidado tão seriamente a sua vida profissional? De facto, estamos sempre a deixar para depois as coisas que são importantes. “O que se leva da vida é a vida que se leva”, já dizia o músico Túlio Deck e ele termina com a estrofe mais poderosa: “Leva a vida mais simples / Que a morte é sempre ingrata / Se acabar ficando quites / É a vida que te mata”.
Depois disto entendi o quão urgente era usar as ferramentas do teatro, do cinema e tudo o que pudermos para falar sobre esse tema tão urgente. A felicidade não é um destino e sim um modo de vida, uma mentalidade treinável.

 

Em que ações se irá o projecto materializar?
Abbadhia Vieira – Teremos um programa híbrido (presencial e virtual), piloto de 12 horas com encontros assíncronos e síncronos, programa de 40 horas em negociação com uma universidade e consultorias em empresas para implementação e reciclagem do programa. Estamos com os programas prontos e daremos início de três pilotos a partir de Janeiro em duas empresas no Brasil, uma na Irlanda e uma nos EUA.

 

Que objetivos esperam atingir com o The Happiness Mentality?
Abbadhia Vieira – Criar uma comunidade de pessoas cada vez mais preparada para lidar com as diferentes emoções e a partir daí contagiar positivamente outras pessoas com as ferramentas de soft skills fornecidas através do programa.

 

Quando será lançado o single?
Abbadhia Vieira – Em Dezembro vamos lançar o single com o objectivo de preparar as mentalidades felizes para 2021.

Estaremos perante um hino ao trabalho?
Mónica Vale de Gato – Queremos acreditar que sim. Mas, claro, sem incentivar os profissionais portugueses a faltar à segunda-feira! Apesar de ser esse o mote do single. É recorrer mais uma vez ao humor para dar voz aos colaboradores que possam estar mais infelizes e convidá-los a cantar connosco. E como bem sabemos, “quem canta os seus males espanta!”
Abbadhia Vieira – Toda a dieta começa às segundas-feiras, então resolvemos dizer que segunda eu não vou! Através da arte e do humor pretendemos convidar as pessoas a reflectirem e acima de tudo a divertirem-se.

Vejam aqui, em primeira mão:

 

Créditos fotográficos: Teresa Correia

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