Tinha das mais generosas políticas parentais mas recuou. Saiba o que fez a Netflix mudar de ideias
Considerada uma das políticas familiares mais generosas nas empresas norte-americanas, em 2015 a Netflix começou a disponibilizar licença parental ilimitada aos colaboradores durante o primeiro ano de nascimento dos filhos. Mas, aparentemente, mudou de opinião, reporta o The Independent.
Um novo estudo divulgado no Wall Street Journal (WSJ) sugere que, nos últimos anos, a gigante do streaming tem “recuado” na sua política.
A Netflix expandiu-se rapidamente, contando agora com cerca de 14 mil colaboradores — um aumento de mais de 60% em relação ao período anterior à pandemia. Desde então, de acordo com o WSJ, a empresa removeu a secção “liberdade e responsabilidade” do seu memorando de cultura corporativa. Como resultado, os actuais e antigos colaboradores dizem que a política de licença parental ilimitada já não é uma prioridade para a empresa.
«A Netflix sempre teve uma abordagem diferente das outras empresas, pois diziam que era importante que os colaboradores estivessem com os seus bebés», disse Clara Guimarães, ex-funcionária de produção da Netflix no Brasil, ao WSJ. «Agora parece que se trata mais das necessidades do negócio.»
Em Outubro, a Netflix removeu informações da secção de cultura no local de trabalho no seu site, que anteriormente afirmavam que «os novos pais geralmente tiram 4 a 8 meses» de licença parental, deixando de fora a menção ao número específico de meses para a licença parental. Em vez disso, incentivou os colaboradores a falarem com os seus gestores antes de tirarem licença.
Embora, segundo o WSJ, a página interna de benefícios da Netflix tenha mantido que os colaboradores assalariados podem tirar licença parental no primeiro ano de vida ou adopção de um filho, não especificou o período de tempo.
O Family and Medical Leave Act (FMLA), que se aplica a empresas com pelo menos 50 trabalhadores, exige que os empregadores ofereçam até 12 semanas de licença parental não remunerada. Em alguns estados, como Nova Iorque, Nova Jérsia, Massachusetts e Califórnia, entre outros, os empregadores são obrigados a dar 12 semanas de licença parental remunerada.
Clara Guimarães disse ao WSJ que a linguagem ambígua sobre quanto tempo os colaboradores realmente podem tirar de licença parental «pode ter impacto no tempo que as pessoas se sentem confortáveis em tirar».
Em 2022, alguns trabalhadores terão expressado preocupações de que a Netflix parecia estar a “visar” os colaboradores em licença parental ou a regressar da licença parental despedi-los da empresa. A ex-funcionária Becca Leckie, que estava na Netflix há mais de cinco anos, foi despedida da plataforma de streaming um dia antes de regressar de uma licença de maternidade de seis meses. Numa publicação no LinkedIn (que já foi apagada), Leckie disse que se juntou à Netflix em grande parte por causa da generosa política de licença parental.
Outro colaborador alegou que quando contou ao seu manager que a companheira estava grávida, este terá dito: “Não vai tirar um ano, pois não?”. A função do colaborador terá sido eliminada numa restruturação este ano, pouco antes de regressar de uma licença de paternidade de seis meses.
Em comunicado ao The Independent, um porta-voz da Netflix disse que a política de licença parental “sempre foi ‘cuidar do seu filho e de si próprio’” e explicou que “os colaboradores têm a liberdade, flexibilidade e responsabilidade de determinar o que é melhor para eles e para as suas famílias.”
O porta-voz afirmou ainda que, após uma análise, apenas uma pequena percentagem dos afectados pelos despedimentos na Netflix estavam de licença parental. “Não recuámos na nossa política de licença parental”, disse Sergio Ezama, director de talentos, em comunicado.