Tirar licença de paternidade para ver futebol? Neste país aconteceu
O Inverno de 2022 registou um aumento da licença de paternidade em Espanha. Apesar de ter sido apenas de 1%, um estudo recente revela um problema subjacente: mais de mil pais tiraram licença durante o Campeonato do Mundo de Futebol, avança o El economista.
O estudo baseia-se em dados administrativos do país para comparar se o uso da paternidade e a licença de maternidade varia no caso de um evento desportivo como o Campeonato do Mundo de Futebol. A conclusão é sim.
Em “O aproveitamento do tempo dos pais durante a licença de paternidade: cuidar dos filhos ou lazer?”, a investigação analisou a licença parental ocorrida durante o Mundial de 2022 no Qatar, que decorreu entre 20 de Novembro e 18 de Dezembro desse ano e mostra que houve um excesso diário de mais de mil homens a gozar da licença parental (1,3% ), quando comparado com datas próximas (antes ou depois) e com o ano anterior e posterior.
O aumento durante eventos como o Mundial de futebol não se verifica nem nos períodos de licença de maternidade nem no caso dos pais trabalhadores independentes, que já têm horários mais flexíveis. Com esta conclusão, os autores traduzem os resultados «como prova directa de que (pelo menos uma fracção dos) pais utilizam a licença de paternidade para fins não relacionados com o cuidado dos filhos».
Os autores colocam a possibilidade de as recentes políticas de licença de paternidade (equalização de duração) não terem conseguido «quebrar as normas tradicionais de género que ditam que as mulheres são as principais cuidadoras». Isto, para além do caso específico do Mundial, reflecte-se no recurso à licença de paternidade e maternidade: enquanto as mulheres costumam gozar a licença imediatamente após o parto, os homens dividem o seu direito à licença em vários períodos que são distribuídos durante o primeiro ano de vida da criança, nalguns casos em períodos de tempo parcial e com especial incidência nos meses de Verão, onde a tarefa de cuidar é normalmente partilhada e intercalada com lazer.
Neste sentido, o relatório conclui que «a licença de paternidade não conduz, de facto, à igualdade de género na distribuição dos cuidados infantis, mesmo nos primeiros meses de vida de uma criança» e destaca a necessidade de «políticas adicionais» que combatam as diferenças tradicionais de género dentro de casa.