Trabalha numa destas duas profissões? Pode ter menor risco de Alzheimer, revelam cientistas
As conclusões de um estudo recente podem indicar que os riscos de demência são menores para as pessoas em determinadas profissões, mas os investigadores alertam que nada é definitivo, noticia a Euronews.
Um estudo recente descobriu que os motoristas de táxi e condutores de ambulância têm taxas de mortalidade por Alzheimer mais baixas do que centenas de outras profissões, apontando para uma possível ligação entre empregos que exigem muita memória e risco de demência.
Estes condutores têm de memorizar redes inteiras de ruas da cidade com rapidez, e pesquisas anteriores no Reino Unido indicam que os taxistas de Londres apresentam alterações funcionais no hipocampo ao longo de décadas de deslocações pela cidade. O hipocampo é utilizado para a memória espacial e navegação, sendo também uma das primeiras regiões do cérebro a ser afectada pela doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência, que afecta actualmente quase 8 milhões de pessoas na União Europeia.
Para o novo estudo, publicado no The BMJ, plataforma global na área da saúde, os investigadores da Harvard Medical School analisaram as taxas de mortalidade por Alzheimer de quase 9 milhões de pessoas que morreram nos EUA entre 2020 e 2022.
Incluíram 443 profissões, mas concentraram-se especificamente em motoristas de autocarros, pilotos de avião e capitães de navios, a fim de comparar motoristas de táxi e ambulância com outros empregos de transporte que não exigem o mesmo grau de competências e memória de navegação.
Certas tarefas podem aumentar a protecção
Na população em geral, 1,69% de todas as mortes estavam relacionadas com Alzheimer, muito mais do que os 1,03% para os taxistas e motoristas e 0,91% para os condutores de ambulâncias.
Entretanto, quando os investigadores ajustaram na idade à data da morte, género, etnia e nível educacional, as taxas de mortalidade por Alzheimer para outros empregos nos transportes variaram de 1,65% (motoristas de autocarro) a 2,34 (pilotos de avião).
«As nossas descobertas levantam a possibilidade de tarefas frequentes de navegação e processamento espacial, como as realizadas por taxistas e condutores de ambulâncias, poderem estar associadas a alguma protecção contra a doença de Alzheimer», afirmaram os autores do estudo.
Anupam B Jena, professor da Harvard Medical School e autor sénior do estudo, disse à Euronews Health que as pessoas não devem parar de usar os seus sistemas de GPS enquanto conduzem como forma de estimular os seus cérebros. «A utilização desta parte do cérebro nos taxistas tem vindo a acontecer ao longo de décadas e de uma forma muito particular e intensa – processamento espacial/ navegacional instantâneo, minuto a minuto.»
Os investigadores alertaram ainda que o estudo não prova causalidade. É também possível que as pessoas que são melhores no processamento de informação geográfica tenham maior probabilidade de se tornarem taxistas e condutores de ambulâncias, o que significa que podem ter um menor risco de Alzheimer, independentemente do seu trabalho.
Para Angela Bradshaw, directora de investigação da Alzheimer Europe, os investigadores têm razão em ser cautelosos, ainda que o treino cognitivo necessário para o «processamento espacial e de navegação frequente» possa ajudar a reduzir o risco de demência.
«Há uma série de estudos que mostram que a estimulação cognitiva pode ser benéfica», diz Bradshaw, apontando para um estudo de 2023 na Austrália que descobriu que participar em actividades que estimulam o cérebro, como assistir a aulas, escrever cartas ou fazer palavras cruzadas, foi associado a um menor risco de demência ao longo de 10 anos.
Limitações do estudo
No entanto, observou que outros factores dificultam «traçar uma linha directa entre a profissão, as competências envolvidas na execução de um trabalho específico e o risco de morte por doença de Alzheimer».
Investigadores independentes apontaram alguns destes factores, incluindo o facto de os taxistas e os condutores de ambulância do estudo terem morrido em média entre os 64 e os 67 anos, enquanto o aparecimento de Alzheimer ocorre geralmente após os 65 anos.
Além disso, poucos condutores eram mulheres, que têm mais probabilidades de desenvolver Alzheimer do que os homens, e a análise não considerou a genética nem incluiu exames que pudessem mostrar quaisquer alterações no cérebro como resultado do seu trabalho.
Seria necessária mais investigação para determinar se a carga mental associada à condução de táxis e ambulâncias pode realmente proteger contra a demência, disseram os autores do estudo.
Mesmo com estas limitações, as descobertas «destacam a necessidade de mais investigação fundamental sobre como proteger os nossos cérebros da doença de Alzheimer», disse Tara Spires-Jones, investigadora de demência e presidente da Associação Britânica de Neurociência, em comunicado.