Transparência nas empresas? Sim, mas…
Opinião de Catarina Quintela, Director of Corporate Solutions na Porto Business School
O tema da transparência é um tema relevante nas empresas e organizações e, mais uma vez, os líderes devem gerir.
Transparência significa “capaz de ser visto sem dolo ou dissimulação”, “aberto, franco, sincero”. Considerando que vivemos uma era de transparência, fortemente suportada por canais digitais, como é que isto se materializa? E quais são os riscos associados?
Globalmente, a transparência no mundo dos negócios é considerada positiva, pois acelera a partilha de informação, potencia a coordenação de esforços, responsabiliza os detentores de informação e aumenta a qualidade e velocidade dos processos de tomada de decisão.
Mas… a partilha excessiva de informação origina desafios, pode legitimar debates intermináveis e suscitar dúvidas sobre as decisões. Altos níveis de visibilidade podem reduzir a criatividade, pois as pessoas não gostam de se sentir permanentemente avaliadas pelos seus superiores. E a partilha aberta de informações sobre o desempenho individual e os níveis salariais, muitas vezes, invocada como forma de promover a confiança, pode trazer consequências negativas por motivos de comparação e justiça organizacional (McKinsey, 2017).
Então, há uma questão que se coloca: Como tomar a decisão certa de partilhar ou reter informação?
Os gestores precisam de saber qual a informação a partilhar para usufruir dos benefícios da transparência e, ao mesmo tempo, mitigar as suas consequências indesejadas.
Um grande número de pessoas não quer saber detalhes sobre o desempenho da empresa nem querem ser responsabilizadas pelos seus resultados. Em vez disso, querem saber o suficiente para fazer bem o seu trabalho e querem ter o direito de saber mais.
Então, como se consegue o equilíbrio certo? É importante ter em consideração a regra da correspondência entre transparência e responsabilidade. Quer isto dizer que os colaboradores devem ter acesso à informação relevante para o entendimento do contexto que lhes permita melhorar o seu desempenho e contribuir para a mudança e inovação da empresa. Por exemplo, a maioria dos colaboradores não decide sobre investimentos da empresa, mas provavelmente será útil para uma determinada equipa, conhecer o nível de satisfação dos clientes relativamente ao produto que entregam (McKinsey, 2017).
Neste enquadramento, promover uma cultura de transparência, mesmo considerando os riscos inerentes, traz inúmeros benefícios:
– Confiança: transparência e confiança estão intimamente ligadas. Sem transparência, as pessoas não acreditam naquilo que os seus líderes partilham.
– Comunicação Clara: líderes transparentes comunicam informações de maneira clara, concisa e direta, o que evita mal-entendidos, rumores e desinformação.
– Tomada de Decisões: a transparência na liderança permite que os líderes tomem decisões mais informadas, pois têm acesso a informações relevantes e que podem considerar no processo.
– Adaptabilidade: em ambientes de liderança transparente, as mudanças e os desafios podem ser comunicados e abordados de maneira mais eficaz, permitindo que a organização se adapte rapidamente.
A transparência na liderança não significa partilhar todas as informações em todos os momentos, mas sim ser honesto, autêntico e aberto. Os líderes devem procurar equilibrar a transparência com a confidencialidade, comunicar a informação necessária a cada um dos envolvidos e, sempre que necessário, segmentar os destinatários da mensagem.
Em resumo, a transparência na liderança é essencial para construir relacionamentos sólidos, promover a confiança, tomar decisões informadas e criar um ambiente de trabalho saudável e produtivo.