Três dezenas de empresas já aderiram ao Pacto para a Saúde Mental. Em Portugal, a perda de produtividade por absentismo e presentismo é de 5,3 mil milhões de euros/a

O anúncio da adesão de novas empresas ao Pacto para a Saúde Mental em Ambientes de Trabalho e a partilha do trabalho desenvolvido ao longo do ano pelas empresas do Pacto, marcou os dois dias do Mental Health in the Workplace Summit 2023, promovido pela Católica-Lisbon.

 

O Auditório do edifício-sede da EDP recebeu diversos oradores que partilharam experiências pessoais e das suas organizações em prol da saúde mental e do bem-estar no trabalho. Estima-se que cerca de três milhões de pessoas em Portugal sofram com doenças do foro mental.

«A Johnson & Johnson MedTech e a NOS acabam de aderir ao Pacto para a Saúde Mental e temos também em mãos o pedido de adesão da SPMS – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde», anunciou Frederico Fezas Vital, director Executivo do Pacto para a Saúde Mental em Ambientes de Trabalho. Lançado há cerca de um ano, esta iniciativa conta já com a adesão de cerca de 30 empresas de diversos sectores.

Sobretudo, desde a pandemia, a temática da saúde mental tem vindo a ganhar visibilidade e centralidade dentro das organizações, prevendo-se que o mesmo suceda ao nível das políticas públicas. Portugal é apontado como apresentando uma significativa prevalência de casos de burnout – ou seja, por ter mais trabalhadores a sofrer, ou em risco de vir a sofrer no futuro, desta doença.

«Desde há um ano, com a criação deste pacto, que várias empresas e organizações estão mobilizadas e unidas para enfrentarem um dos grandes desafios da nossa sociedade. A saúde mental é um pouco como o iceberg, que, por baixo, esconde um enorme lastro com profundos impactos na saúde, no trabalho e na família», declarou Filipe Santos, Dean da Católica-Lisbon, na sessão de abertura.

«É fundamental combater o estigma ainda existente, criar soluções e partilhar as boas práticas de diferentes organizações para que possamos contrariar estas métricas. O Pacto é assim um espaço de partilha – de co-partilha – e de criação de soluções. Esta é a sua mais-valia», defendeu.

Quase mil milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de uma perturbação mental. A perda de produtividade resultante de duas das perturbações mentais mais comuns, a ansiedade e a depressão, custa à economia mundial 1 trilião de euros por ano.

No total, estima-se que, em 2010, a falta de saúde mental tenha custado à economia mundial cerca de 2 a 5 biliões de euros por ano em problemas de saúde e redução da produtividade, um custo que, segundo as projeções, deverá aumentar até 2030 para 6 biliões de euros.

«Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2030 uma das principais causas de morte deverá ser a depressão e os problemas de saúde mental. Nesse ano, Portugal vai coorganizar o Mundial de Futebol. Se estamos já a preparar os estádios, deveríamos estar também a prepararmo-nos para combater as questões que afectam a saúde mental», disse José Sintra, Head of People Strategy da Vieira de Almeida Advogados.

Para Marta Rebelo, activista de saúde mental, «o estigma continua a ser a maior barreira à implementação de estratégias organizacionais para promoção da saúde mental, sendo que parte da estratégia deve assentar na prevenção, já que 50% das doenças mentais se instalam até aos 14 anos e 75% até aos 24 anos».

Segundo a também consultora na área, «por cada euro investido em saúde mental estima-se um retorno de cinco euros». Apostar na prevenção contribuiria, no seu entender, para reduzir a pressão sobre os serviços de saúde primários – 70% das idas aos serviços de saúde primários são motivadas por sintomas de saúde mental – e travar «as perdas de produtividade por absentismo e presentismo que em Portugal são da ordem dos 5,3 mil milhões de euros por ano», referiu.

«As organizações precisam de entender que há um business case se resolverem os problemas de saúde mental. As empresas que estão já a actuar – provavelmente, as que estão neste Pacto – são as que já o apreenderam e perceberam que vão perder as melhores pessoas se nada fizerem. Os líderes precisam também de entender que não lideram profissionais, mas sim pessoas», sublinhou Nuno Moreira da Cruz, director Executivo do Center for Responsible Business & Leadership da Católica-Lisbon.

A Mental Health in the Workplace Summit 2023, promovida pela Católica-Lisbon nos dias 25 e 26 de outubro, contou com os apoios e patrocínios da Vieira de Almeida Advogados, EDP, Abreu Advogados, Grupo AGEAS,  BP, Grupo BEL e Monliz.

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