Um especialista de RH com quase 40 anos de experiência revela as três maiores mudanças no mundo do trabalho (e deixa um alerta)

Antes de criar a sua própria empresa, a Clover HR, Michael Doolin foi director de Recursos Humanos da British Airways, da PwC e da DPD na Irlanda, e partilha com o Business Insider as maiores mudanças que viu no mundo do trabalho após mais de três décadas de carreira.

 

A seu ver, hoje os colaboradores esperam mais dos seus empregadores. «Penso que é porque o mundo espera mais das pessoas do que nunca. Na geração do meu pai das décadas de 1950 e 60, prevalecia culturalmente um sentimento de gratidão e subserviência.» As pessoas ficavam satisfeitas por ter um emprego e muitas vezes ficavam lá para o resto da vida, recorda. «A minha geração dos anos 80 estava grata pelos empregos que tinha e acreditava que, se trabalhasse arduamente, conseguiria progredir.»

A geração das suas duas filhas, que estão na casa dos 20, sabe que precisa de trabalhar arduamente para progredir, mas Michael Doolin realça que o empregador também precisa de trabalhar no duro para que permaneçam. E explica que a geração mais jovem quer trabalhar num local que retribua à sociedade, faça a coisa certa da forma certa e trate bem os colaboradores. «Não tolerarão o chauvinismo, o sexismo, a injustiça ou o preconceito – e com razão. Esperam mais do que a minha geração e certamente mais do que a geração dos meus pais.»

Quanto à geração com menos de 35 anos, acredita que não está preparada para tolerar a falta de oportunidades tanto como a sua geração. As pessoas desejam crescer, acrescentar valor e ser reconhecidos. «Numa empresa de contabilidade onde trabalhei, referiam-se ao novo grupo de recém-licenciados como “a geração L’Oreal” porque “eles merecem”», recorda referindo-se ao slogan da marca “because I’m worth it”. E acrescenta, «a geração das minhas filhas acredita que merece. Isso é óptimo, especialmente para as mulheres jovens».

Os locais de trabalho tornaram-se mais inclusivos

Para Michael Doolin, as expectativas crescentes dos trabalhadores impulsionam a mudança porque os empregadores, apanhados na chamada “guerra pelo talento”, precisam de as satisfazer para reter os seus talentos. E considera que os locais de trabalho se tornaram mais inclusivos. «Agora, pessoas de todas as origens, credo, nacionalidade, género e orientação sexual são bem acolhidas. Quando comecei a trabalhar, era inédito um empregador apoiar abertamente o movimento Pride. Felizmente, já não é assim.»

Esta aceitação reflecte-se nas políticas das empresas, enquanto se assiste a uma discussão mais aberta em torno da saúde mental e da importância de se manifestar. «Há uma maior intolerância às más práticas, um desejo de fazer as coisas bem feitas e mais investimento em formação, apoio, coaching e mentoria.» Na sua opinião também é reflexo de uma mudança mais ampla na sociedade.

No final dos anos 80 e início dos anos 90, Michael Doolin trabalhou em Londres na área financeira e prometeu a si mesmo que as suas filhas não trabalhariam em locais como aqueles. O profissional reconhece que «ainda há uma hierarquia masculina nos sectores bancário, dos seguros, dos serviços financeiros e em muitos outros» e algum um preconceito institucionalizado contra as mulheres ou pessoas de diferentes origens étnicas.

Os colaboradores correm o risco de perder competências de construção de ligações no trabalho

À medida que a tecnologia se foi desenvolvendo, Michael Doolin acredita que as competências digitais foram priorizadas em detrimento das competências sociais e de construção de relações mais tradicionais. «Negámos às gerações mais novas os benefícios da socialização no local de trabalho.»

Ainda que concorde que o aumento do trabalho híbrido e remoto, desde a pandemia, tenha tido um efeito positivo, está convicto de que «as consequências negativas são frequentemente subestimadas, tanto do ponto de vista da saúde mental como da produtividade. A gestão e a avaliação de desempenho ainda são necessárias e o trabalho híbrido não o permite da mesma forma».

Os benefícios de estar num ambiente físico de trabalho são enormes, defende. «O trabalho híbrido pode anular algumas das vantagens do sentido de união.» E aconselha a gerir o problema com mais dias em ambiente de escritório e com mais trabalho colaborativo.

Os colaboradores têm um equilíbrio mais saudável entre a vida pessoal e profissional

As gerações mais jovens esperam não trabalhar além das horas contratadas e ser bem recompensadas, constata o especialista de RH. «A capacidade de estabelecer limites é uma coisa fantástica.» Promove formas de trabalho mais eficientes e inteligentes, porém, ao mesmo tempo, acredita que tem de ser gerida.

«Na minha visão de dinossauro, acho que a decisão a favor dos colaboradores foi longe demais. A maioria de nós assinou contractos para trabalhar num escritório, de segunda a sexta-feira.» Por isso, considera que os trabalhadores que estão descontentes com o regresso ao local de trabalho devem ser contrariados.

A maioria dos compromissos vem com um conjunto de regras associado. «As necessidades e interesses da empresa devem ser considerados iguais aos dos colaboradores. Não sei como será o futuro do local de trabalho, mas espero que as gerações mais jovens continuem a recusar-se a aceitar práticas inadequadas e a exigir melhores práticas.»

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