Uma cultura de crescimento, focada em entregar felicidade

Rui Pedro Alves, que trocou ir trabalhar em Dublin por criar o seu próprio negócio em Portugal, defende que a liderança tem um papel fundamental na criação de uma cultura de felicidade. Procura promovê-la, mas sem perder o foco dos resultados e no desempenho. A chave está em ter as pessoas certas. E essas são as que geram confiança.

 

Por Tânia Reis

 

Em 2007, Rui Pedro Alves, engenheiro informático, teve de tomar uma daquelas decisões que mudam a vida: ir trabalhar para Dublin ou ficar em Portugal? Após «um processo de autocoaching», percebeu que «estar a mudar de país e deixar a família e amigos para trás, para ir para um sítio chuvoso e com pouco sol», baseado apenas em «ir ganhar mais dinheiro», não fazia sentido. Aos 26 anos, calculou os riscos e concluiu que o melhor caminho era abrir a sua própria empresa. «No pior cenário, poderia sempre fechar a empresa e ir na mesma para o estrangeiro», recorda. E assim nasceu o Grupo Rupeal, uma empresa que disponibiliza um leque de serviços na área das Tecnologias de Informação.

Nessa altura, «tinha apenas uma ideia muito abstracta do que queria», revela o CEO. O primeiro ano foi muito de aprendizagem e descoberta sobre o funcionamento do mundo dos negócios, desde como fazer uma proposta, negociar contratos, emitir facturas – «foi desta descoberta que, mais tarde, veio a nascer o InvoiceXpress, o primeiro programa de facturação online de fácil e rápida utilização» – a processar pagamentos e impostos.

Mais de uma década depois, o objectivo «de criar uma empresa de consultoria informática que fosse diferente, que tivesse uma liderança diferente, onde pudesse aplicar muitos dos conhecimentos de desenvolvimento pessoal que já tinha na altura, e na qual experimentasse fazer as coisas de forma diferente do que o mercado tinha na altura», foi mais do que alcançado. Mas com inúmeros desafios, confessa: «Desde perceber que os meus clientes apenas pagavam a 60 ou 90 dias e, mesmo assim, se atrasavam, o que levou a problemas de tesouraria; momentos em que temi não conseguir cumprir com as minhas obrigações – mas, no último minuto, as coisas compunham-se; ter de lidar com a pressão do endividamento na banca – tema hoje já superado; a posição solitária em que o líder muitas vezes se encontra quando tem de tomar decisões difíceis para o bem da cultura da sua empresa; ter engordado 20 quilos devido a todo o stress, à tensão e à pressão da gestão de uma empresa.»

Ao mesmo tempo, também houve aprendizagem, partilha ainda. «A aprendizagem resultou naturalmente em oportunidades, como a de construir uma equipa sólida e coesa, a de conseguir contratar as pessoas certas, que me dão muita confiança e que são hoje a base da empresa.»

 

O concierge da felicidade
Se o percurso de Rui Pedro Alves trouxe grandes lições, a importância da felicidade foi uma delas. «A liderança tem um papel fundamental na criação de um contexto onde haja maior ou menor felicidade. Se sentes que fazes parte da empresa, e que de certa forma fazes parte das decisões tomadas, vais ter um maior sentimento de pertença face à organização. Se, por outro lado, és apenas “jogado” num cliente e nunca há contacto com a “empresa-mãe”, vais sentir que és apenas “mais um número” e não vais sentir qualquer identificação com a organização.»

Por isso, na KWAN, empresa de Outsourcing em TI do Grupo Rupeal, têm a figura do People manager, «que é como um concierge que toma conta de tudo e de todos aqueles que estão a trabalhar em clientes, e que mantém contacto permanente com a pessoa, com o cliente e com a empresa, para haver total transparência».

Acreditando que «a felicidade é individual, e é, acima de tudo, uma escolha individual», o gestor esclarece que o grupo proporciona um contexto propício para haver essa felicidade, ou seja, «um contexto de abertura, de transparência, de acompanhamento, de conexão, partilha, segurança, mas também de exigência, profissionalismo, resultados e crescimento». E garante que, num contexto desses, «a felicidade individual e colectiva está sempre mais próxima de ser uma realidade».

Claro que, para isso acontecer, há dois factores-chave: criar a cultura certa e ter as pessoas certas. «Cultura é somente a forma como as pessoas se comportam umas com as outras numa organização », define o responsável, defendendo que, «se queremos que haja uma cultura de crescimento, excelência e felicidade, é importante incentivarmos a que os comportamentos das pessoas na organização vão nesse sentido». Recorrer a «sistemas de incentivos, repensar a forma de dar reprimendas, reconhecimentos ou elogios, e até a forma como se promovem pessoas dentro da organização» são exemplos que moldam a empresa, «para ir mais ou menos no sentido da cultura que desejamos». E para o CEO, é precisamente a cultura que os diferencia e torna atractivos no actual mercado.

Quanto às pessoas certas, para Rui Pedro Alves são aquelas que geram um grande grau de confiança e, ao mesmo tempo, entregam resultados e desempenho. «O “certo” aqui quer dizer confiável. Significa que não precisas de estar, por exemplo, a enviar emails com chefias em cópia para salvaguardar a tua posição e para serem tomadas decisões. As decisões são tomadas rapidamente porque há um grande grau de confiança e porque confias que a pessoa é competente para atingir o resultado a que se propôs, ou para ir à procura da solução ou dos recursos necessários para atingir esse resultado.»

 

Progressão automática… por objectivos
Hoje com cerca de 330 pessoas, o foco da estratégia de Gestão de Pessoas na Rupeal reside no programa de People manager da KWAN. «São pessoas dedicadas a gerir e a ajudar os elementos alocados a clientes», e que desempenham um papel fundamental na fidelização de talentos e em garantir que têm tudo o que precisam, «sejam coisas mundanas, como ajudar a mudar de casa, sejam assuntos profissionais, como ajudar a mudar de um projecto que não está a ir ao encontro das expectativas da pessoa, até assuntos relacionados com o bem-estar, garantindo que a família está bem integrada, por exemplo».

Operando maioritariamente a nível remoto e com muitos colaboradores a actuar nos clientes, as deslocações ao escritório central são reduzidas, por isso desenvolveram alguns eventos presenciais ao longo do ano, sejam eventos de team building, de formação ou de partilha de informação, nos quais reúnem todos os trabalhadores do grupo para «gerar conexão, ligação entre as pessoas, e partilhar conhecimento».

Dispõem igualmente de um sistema interno de acompanhamento, «que levanta alertas quando as pessoas estão insatisfeitas e que permite agir rapidamente». E para aqueles que preferem «trabalhar presencialmente ao invés de o fazer a partir de casa», o «escritório está aberto todos os dias de trabalho».

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Setembro (nº.153) da Human Resources, nas bancas.

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