We care, mas preocupamo-nos mesmo?

Quando nos preocupamos referimo-nos a pensamentos, emoções e acções com cariz acentuadamente negativo, ou percecionado como tal. Resultam muitas vezes de uma análise, na maioria das vezes empírica, de riscos cognitivos que podem vir a consumar-se em ameaças com consequências nefastas. Mas podemos observar a preocupação na lógica positiva se a equacionarmos como ponto de partida de ações preventivas.

Por António Saraiva, Business Development manager na ISQ Academy

 

A verdade é que a incerteza e os desafios a que nos sujeitam ou a que nos expomos alimentam muito mais a lógica negativa. É simples entrarmos, nos dias de hoje, pela narrativa de um mundo em mudança acelerada que induz maior nível de preocupação. Se nos dedicarmos ao exercício de, em transportes públicos, em sessões públicas, observarmos as Pessoas que nos rodeiam, nomeadamente a sua linguagem não verbal, acabamos a refletir sobre que preocupação terá dada pessoa. Mas acontece o mesmo no nosso círculo mais próximo, seja profissional ou pessoal: alguém que normalmente esteja com uma expressão dita mais fechada, interrogamo-nos logo sobre o que será que a está a preocupar naquele momento.

Mas… e depois? Se bem que não se possa generalizar, nos tempos que correm, vivemos lado a lado com os nossos vizinhos e nem sequer sabemos, muitas vezes, o seu nome. Não é intenção teorizar-se sociologicamente sobre este fenómeno. É um ínfimo detalhe, mesmo que exista uma situação atípica na porta ao lado. Preocuparmo-nos com os outros, em muitas ocasiões, acontece porque se quer “ficar bem na fotografia”ou porque existem ganhos importantes a serem obtidos, muitas vezes de cariz financeiro. E, nesta linha, mesmo com tantos e tão prejudiciais impactos tudo rola a uma velocidade lenta ou, em muitos casos, nem sequer arranca. Tomemos nota do nível de concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – 0,5 % ao ano entre 2015 e 2019, quando se pretende que todos têm de estar concretizados em 2030.

A recente catástrofe no Rio Grande do Sul, no Brasil, faz-nos regressar ao exemplo da preocupação pelo vizinho. Vemos as imagens, mas é tudo demasiado longe para existir uma preocupação generalizada pelo que estamos a fazer ao Planeta. E muitos outros exemplos se vão sucedendo pelo mundo fora, seja determinados pelo que designamos de mãe-natureza, ou por conflitos, sejam de natureza expansionista ou outra índole. E ao nível mais micro, em particular da nossa realidade organizacional? Para onde estamos verdadeiramente a caminhar? Sejamos, contudo, verdadeiramente claros: há um caminho que, em muitos casos, tem sido feito. Nem sempre da melhor forma, mas como se costuma dizer… é todo um processo! Acima de tudo de aprendizagem.

Há sempre a tendência de replicarmos modelos, esquecendo-nos que as realidades são distintas. Os próprios problemas de cada Sociedade são, eles próprios, transportados para as Organizações. As questões migratórias são um bom exemplo. Mas, também, em alguns casos, as geracionais. Já para não falarmos das exigências relacionadas com a transição digital. Nunca, como agora, certamente existiu tanta oferta no mercado, tantos modelos de intervenção, tantos seminários e tantos estudos que procuram ir de encontro a todas as preocupações que fazem parte do nosso quotidiano. Mas preocupamo-nos mesmo com as Pessoas, ou a preocupação é simplesmente a obtenção de resultados, sejam financeiros, sejam para se ficar bem na tal fotografia? Preocupamo-nos mesmo que exista algo de estrutural para o futuro das Pessoas, em particular para o seu verdadeiro bem estar, ou continuamos ao sabor da conjuntura de determinado momento? O tempo o dirá!

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