50 anos depois, serão as nossas empresas democráticas?
Cinco décadas após a Revolução dos Cravos, Portugal celebra a democracia e os seus valores basilares de liberdade e participação. No entanto, enquanto a democracia floresce na esfera pública, importa reflectir se as nossas empresas acompanham este espírito de abertura e colaboração. Num mundo em constante mutação, onde novas formas de trabalho se tornam a norma e a inteligência artificial emerge (como um poderoso aliado), a comunicação interna assume um papel crucial na construção de organizações mais justas e equitativas.
Por Gustavo Leitão, director na Create IT
Assim como a democracia portuguesa derrubou os muros da ditadura, as empresas precisam transcender os silos e hierarquias que impedem a livre circulação de ideias e a participação de todos os colaboradores. Através de canais de comunicação abertos e transparentes, plataformas digitais interactivas e fóruns online inclusivos, as organizações podem criar espaços seguros para que todos se sintam ouvidos, valorizados e envolvidos.
Soluções assentes em inteligência artificial podem ser vistas como alavancas de democracia organizacional, facilitando o acesso por todos os colaboradores à informação útil e credível, em tempo real, criando um ambiente mais justo e equitativo. Assistentes virtuais capazes de entender as necessidades e propor respostas personalizadas, suportados em plataformas modernas, transversais, integradas e seguras facilitam o acesso a dados, promovem a troca de conhecimento, e democratizam o processo de tomada de decisão.
Por exemplo, um sistema de onboarding eficaz, que acolhe e integra os novos colaboradores desde o primeiro dia, é fundamental para construir uma cultura organizacional democrática. A gestão eficiente do conhecimento, através de soluções colaborativas e comunidades de prática, garante que todos tenham acesso à informação necessária para realizar o seu trabalho da melhor forma possível. E o conteúdo institucional, quando comunicado de forma clara, personalizada, acessível e atractiva, contribui para a transparência e o envolvimento dos colaboradores, num contexto onde as estruturas hierárquicas tradicionais cedem lugar a modelos mais flexíveis e colaborativos.
Adicionalmente, a comunicação interna deve ser proactiva na luta contra a desinformação, fornecendo fontes confiáveis de informação, promovendo a verificação de factos (assente em dados) e incentivando o diálogo aberto e transparente. Ambientes tóxicos de desconfiança e baixa produtividade (promovidos pelas franjas e frequentemente alicerçados na proliferação de fake news, propaganda, boatos e intrigas no seio das organizações), são assim facilmente minimizados, com impacto directo e muito positivo nos resultados da companhia.
Além disso, a participação activa dos colaboradores na dimensão estratégica da organização, através, por exemplo, de inquéritos e sondagens, fóruns online e reuniões abertas e participativas, é essencial para a construção de uma verdadeira e saudável democracia organizacional.
Mais do que mero ideal, a democracia organizacional é uma necessidade para termos empresas privadas e entidades públicas verdadeiramente competitivas e inovadoras à escala global, que desejem prosperar em contextos cada vez mais complexos, rápidos e interconectados, com benefícios para colaboradores, clientes, accionistas e sociedade. Cabe-nos a todos (e a cada um) continuar a construir Abril.