Isto não é teletrabalho!
Por Ricardo Florêncio
Nos últimos meses, temos ouvido muitas vezes que os portugueses se encontram, na sua larga maioria, em teletrabalho. Completamente errado! Isto não é teletrabalho! O teletrabalho é um sistema, um método de trabalho, que pressupõe um planeamento, munir o colaborador dos instrumentos necessários para que desenvolva a sua actividade nas melhores condições, pressupõe um acordo entre o colaborador e a entidade empregadora, que tem como objectivo melhorar o bem-estar do colaborador e, assim, aumentar a produtividade do mesmo.
O teletrabalho também permite que o colaborador se dirija à empresa quando necessita ou sempre que o deseje, para reunir ou falar com outros colegas, que se desloque presencialmente a outras empresas, e que tenha livre acesso e deslocação, para além de mais uma série de pressupostos e prerrogativas. Foi isso que aconteceu? Não! Nada disso! De um dia para o outro, foram todos para casa, com todo o respectivo agregado familiar, onde os filhos pulam à sua volta, onde alguns estão em telescola e/ou outros, mais pequenos, a necessitar de constante atenção. Com a agravante de não poderem (ou deverem) sair de casa, deslocar-se, e, muitos deles, sem as mínimas condições para desenvolverem o tal teletrabalho nas condições adequadas.
Obviamente que foi obrigatório, uma necessidade, uma imposição, e não é isso que está em causa. Mas também não é surpresa nenhuma que a produtividade, os resultados do trabalho, não são os mesmos. Muito se vai discutir nos próximos tempos se o teletrabalho vai crescer e transformar- -se num sistema com cada vez mais colaboradores a aderir. Não tenho dúvidas disso, e brevemente havemos de analisar e discutir essa situação. Mas o que temos hoje não é teletrabalho. Chamem-lhe o que desejarem, mas não se confunda com teletrabalho.
Editorial publicado na revista Human Resources nº 113, de Maio de 2020