Ciência aberta promove mentes abertas e livre acesso ao conhecimento
Durante a pandemia, o facto de o mundo digital não ter parado, principalmente no que diz respeito aos estudos e investigações, colocou um tremendo impacto na investigação científica, nomeadamente na forma como os resultados foram sendo partilhados e comunicados
Por Paulo Lopes, gestor de Serviço RCAAP – Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal
Para além de uma grande concentração de esforços no estudo do vírus SARS-CoV-2, da doença COVID-19, e na investigação do seu tratamento e prevenção, a pandemia resultou também na adopção e generalização de práticas e ferramentas de ciência aberta. Conforme Eloy Rodrigues refere, desde os primeiros meses de 2020, os apelos das organizações de saúde e da comunidade científica para a partilha do conhecimento útil para a compreensão e o combate à pandemia foram acompanhados por inúmeras iniciativas de partilha de dados e acesso aberto a publicações, por parte da comunidade académica, mas também de editores e revistas, que disponibilizaram, temporariamente, os seus conteúdos relacionados com a COVID-19, demonstrando que a colaboração entre as partes é a forma mais eficiente de promover a ciência e o seu progresso.
A Ciência Aberta é definida com “a partilha do conhecimento entre a comunidade científica, a sociedade e as empresas, possibilitando desta forma ampliar o reconhecimento e o impacto social e económico da ciência. Mais do que a disponibilização em acesso aberto de dados e publicações, a ciência aberta é a disponibilização do processo científico enquanto um todo, reforçando o conceito de responsabilidade social científica. A implementação de uma prática de Ciência Aberta é também geradora de múltiplas oportunidades de inovação. Permite impulsionar o desenvolvimento de novos produtos, serviços, negócios e empresas.”
Ainda no espectro da Ciência Aberta temos a Ciência Cidadã e nesse contexto, a ciência procura ter um tipo de comunicação mais próxima do comum dos mortais. Este é um ponto essencial para que os nossos políticos consigam olhar para a informação científica numa linguagem menos esotérica, dotando-os com a informação necessária para a tomada de decisão em áreas nevrálgicas na nossa sociedade. Outro ponto importante da Ciência Cidadã é a possibilidade de as pessoas contribuírem com dados, mas também tomarem conhecimento sobre como poderão agir enquanto cidadãos activos. Neste campo temos vários exemplos, como é o caso das plataformas de MOOC, onde a comunidade científica partilha, em formato de curso, um conjunto de informação relevante sobre determinada área do conhecimento. Estes cursos também podem ter um papel interessante para que as pessoas possam fornecer dados aos investigadores, que de outra forma não os conseguiriam obter. Acresce ainda o benefício de se obter um certificado pela conclusão do curso.
Não se pretende discutir neste contexto se necessitamos de mudar radicalmente o paradigma vigente na publicação científica, no entanto, a aposta na Ciência Aberta é crítica para dar resposta às necessidades das nossas comunidades, mas também para optimizar a forma como os dinheiros públicos são usados, para aquele que é um bem comum.
Recentemente, foi lançada a plataforma Open Research Europe, patrocinada pela Comissão Europeia, que prevê a publicação em acesso aberto para resultados de pesquisas decorrentes do financiamento do Horizonte 2020 em todas as áreas temáticas. A plataforma torna mais fácil para os beneficiários do Horizonte 2020 cumprirem os termos de acesso aberto do seu financiamento e oferece aos investigadores um local de publicação para partilhar rapidamente resultados e percepções e facilitar a discussão para uma pesquisa aberta e construtiva.
Passos estão a ser dados para que o conhecimento não fique refém dos custos exorbitantes exigidos por algumas editoras científicas. A internet e a conjuntura que vivemos deverão ser consideradas fiéis aliadas para que a mudança de paradigma aconteça na comunidade científica. A ciência é a base de uma sociedade, apenas com ela a possível uma evolução e o progresso ambicionados. É, no entanto, também nosso dever alertar para esta realidade e mostrar caminhos alterativos e economicamente viáveis para a partilha do conhecimento e a participação mais activa da sociedade na ciência.