O teletrabalho não elimina os ambientes de trabalho tóxicos. Aprenda a identificar os sintomas e a eliminar a toxicidade nas equipas
Em empresas que já demonstravam um défice de cultura de colaboração, inovação e entreajuda, os ambientes tóxicos agudizaram-se: conheça os sintomas e quais as acções que os gestores de equipa podem implementar para impactar positivamente os ambientes de trabalho.
No início da pandemia, havia uma forte expectativa de que todo o fenómeno do “trabalho a partir de casa” proporcionaria uma pausa em todas as tensões associadas ao trabalho em ambiente de escritório. Para quem trabalhava num ambiente de escritório verdadeiramente tóxico, seria uma oportunidade de evitar chefes e colegas que criavam a sensação de estarmos constantemente a ser atacados.
“Ao contrário do que o primeiro confinamento sugeria – que o teletrabalho poderia aliviar muitas tensões inerentes aos problemas no local de trabalho –, o modelo não se revelou uma panaceia para os ambientes tóxicos”, afirma Carla Rebelo, CEO da Adecco Portugal.
As restrições sanitárias e económicas prolongaram-se para lá do expectável e traduziram-se negativamente nas relações de equipa, na saúde mental das pessoas e na produtividade no trabalho.
Há soluções para mitigar as relações tóxicas de trabalho em equipa em modelo virtual. E fruto da experiência, a Adecco Portugal propõe alternativas a que os líderes podem recorrer para repor um ambiente são e produtivo. De realçar que, em alguns casos, uma equipa só pode melhorar se remover um ou dois membros, ou mesmo um líder de equipa, que são particularmente tóxicos. No entanto, em geral, a maioria das equipas não requer procedimentos invasivos para passar de disfuncionais a funcionais, ou mesmo de bons a excelentes.
Num mundo onde tudo indica que a flexibilidade de perfis, de horários ou de regime de trabalho híbrido (presencial e remoto) farão parte do futuro, o que a maioria das equipas precisa é de um esforço metódico e focado para construir relações interpessoais saudáveis que são a base de todas as grandes equipas.
Quais as soluções para a toxicidade das equipas?
1. Virtual não deve significar menos contacto – Num mundo virtual, o contacto individual entre o líder sénior que supervisiona a equipa e os seus membros é mais importante do que nunca. Os líderes precisam de se ligar aos membros-chave da equipa um-a-um para descobrir se há algum problema. E isto tem de ser feito com muito maior frequência. Tem de se contactar com os membros-chave da equipa pelo menos duas vezes por semana, e com toda a equipa pelo menos uma vez por mês. Faça das interações sociais parte das reuniões da equipa; faça-o parte da agenda de cada vez que tiver uma reunião virtual.
2. Humanizar os colaboradores e o seu contexto de trabalho – É essencial reservar tempo para que os membros da equipa partilhem alguns dados pessoais para que se conheçam uns aos outros. Alguém tem filhos e está a estudar em casa? Os membros da equipa também têm cônjuges a trabalhar a partir de casa? Estão a ser solicitados a cuidar de pais idosos? Têm algum problema de saúde particular a tratar? Estes podem parecer detalhes mundanos, mas ajudam a humanizar os membros da equipa. A partilha de informação pessoal gera confiança, o que leva a menos conflitos interpessoais e a um melhor desempenho global.
3. A resolução de problemas é uma competência da equipa – É preciso deixar claro que a equipa deve ser a principal responsável pela resolução de problemas. Os líderes de equipa podem fornecer supervisão e feedback, mas é essencial que a sua equipa se possa concentrar em encontrar as suas próprias soluções. Uma equipa que está constantemente a pedir a um líder para mediar desacordos ou escolher entre uma série de soluções é uma equipa disfuncional. A resolução independente de problemas é a marca distintiva de uma equipa saudável.
4. Os problemas são para se debater abertamente – As boas equipas não se escondem dos seus contratempos ou falhas. Mas para o fazer, devem estar num espaço (mesmo um espaço virtual) onde as pessoas possam falar abertamente sobre problemas sem medo de represálias por parte dos colegas. Parte disto pode ser conseguido nas sessões individuais acima mencionadas. Mas, a certa altura, a liderança da equipa precisa de criar um ambiente seguro para os membros da equipa falarem abertamente sobre os problemas. Reservar tempo em cada reunião especificamente para discutir contratempos ou erros e o que poderia ter sido feito melhor. Um ambiente de equipa verdadeiramente seguro é aquele em que todos podem discutir os erros uns dos outros sem medo de recriminações ou embaraços.