Nelson Pires, Jaba Recordati: As organizações são 3 Ps: Produtos, Processos e Pessoas
Nelson Pires, director-geral da Jaba Recordati Portugal, Recordati UK/Recordati Ireland, acredita que «as organizações são 3 Ps: Produtos, Processos e Pessoas. Não basta ter os melhores produtos do mercado, os processos mais eficientes sem pessoas talentosas. Leia a sua análise aos resultados do XL Barómetro Human Resources.
«O Barómetro da Human Resources foca um tema fundamental para a economia e as organizações portuguesas, mas também para a sociedade e para as pessoas: a gestão do talento nas organizações. Pois as organizações são 3 Ps: Produtos, Processos e Pessoas. Não basta ter os melhores produtos do mercado, os processos mais eficientes sem pessoas talentosas. Algo que no passado era considerado um “não assunto”, pois não existia escassez.
Mas a globalização e a digitalização do trabalho tornou este assunto fundamental e premente. Por isso mesmo, 89% dos participantes no barómetro consideram relevante a atracção, retenção e desenvolvimento de talento. Naturalmente, nalgumas áreas certamente mais do que noutras, como confirmam 70% dos participantes que apenas existe escassez em alguns perfis profissionais. O que aumenta, em consequência, a pressão salarial; facto afirmado por 68% dos respondentes.
Trata-se, afinal, da regra da procura e da oferta aplicada ao nível do talento, nomeadamente (e em 77%) em técnicos e/ou trabalhadores especializados. Mas curiosamente, e apesar da digitalização da actividade económica, apenas 49% dos processos são operacionalizados através do mundo digital e de softwares especializados; 36% são mesmo processos manuais de atracção de talento. O que significa que podemos ainda evoluir muito neste campo.
Outro dado muito relevante tem a ver com o “ways of working” (WOW) que este “novo nada normal” trouxe, pois recomeçou-se a discutir a semana de quatro dias de trabalho. Enquanto 74% concordam com esta redução, 40% não acreditam que seja viável em Portugal. E talvez porque 74% dos participantes acreditam que ou teria um impacto negativo na produtividade portuguesa (já de si tão baixa), ou não teria impacto nenhum na mesma. Apenas 21% acreditam que teria um impacto positivo na produtividades dos trabalhadores em Portugal. Talvez o conservadorismo, o baixo nível de automação e digitalização das empresas portuguesas e a rigidez da legislação laboral provoque esta opinião.
Finalmente, a nova legislação laboral para o trabalho remoto é considerada por muitos (68%) como “mais do mesmo” e/ou desnecessária ou inútil (algo com qual concordo, pois complicou algo que poderia ser simples e óbvio). Ao nível do trabalho digno, um destaque óbvio para o “WLB” (Work Life Balance) como algo fundamental para a dignidade dos trabalhadores portugueses e alguma desconsideração em relação à actividade da ACT, dado que 34% entendem que o reforço dos seus poderes não é prioritário; não conseguindo nós descortinar pelo barómetro se é por entenderem que os poderes já são suficientes, ou se são inúteis; julgo que um pouco de ambas.
Em suma, o século XXI trouxe inúmeros desafios como a escassez de talento – aqui tão bem reflectida –, a transformação digital e o trabalho híbrido com as novas “WOW”, a equidade e protecção social, assim como a importância das lideranças na gestão da transição para um mundo BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear and Incomprehensible — Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível).»
Este testemunho foi publicado na edição de Março (nº.135) da Human Resources, no âmbito da XL edição do seu Barómetro. Está nas bancas. Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.