Catarina Horta, novobanco: De que clube és? Presencial ou remoto?
Esta é uma das primeiras perguntas quando se conhece alguém. Tipicamente, é-se do Benfica ou do Sporting – que me perdoem os portistas –, e isso estabelece logo ali uma afinidade ou uma pequena fricção social. Diria ser uma das perguntas que faz parte de um onboarding normal, já que todos querem saber a que clube pertence o novo colega ou o novo chefe. Agora, quase acontece o mesmo com o teletrabalho.
Por Catarina Horta, directora de Capital Humano do novobanco
Devo declarar-me sem clube de futebol, pelo que fico logo de fora desse campeonato. Noto que isto deixa as pessoas sem saber bem como reagir, provavelmente porque deixam de conseguir catalogar-me na caixa dos alegres benfiquistas ou dos orgulhosos sportinguistas. Em minha defesa, lá digo que tenho um filho do Benfica e outro do Sporting, e que isso posiciona-me na mediação de conflitos.
Após a pandemia ter trazido o teletrabalho e o sistema híbrido para a normalidade dos dias, há outra dualidade que tem emergido – os que defendem o regresso ao escritório e os que defendem uma maior preponderância do teletrabalho. Num estudo de 2021, David Gellis conclui que 70% dos líderes prefere ter as suas equipas de novo escritório, enquanto apenas menos de 40% dos colaboradores partilham desta vontade. Há então a equipa dos que defendem o regresso ao escritório e a equipa dos que defendem maioritariamente o teletrabalho. Num artigo publicado no USA Today, Terry Collins evidencia que 5% de trabalhadores americanos dispostos a pagar, logo, a diminuir o seu rendimento, para permanecerem em regime de teletrabalho. Ou seja, são fervorosamente da equipa do teletrabalho.
Assistimos a organizações que adoptaram o trabalho remoto na totalidade, ou quase totalidade – veja-se a Liberty em Portugal –, ou as que se afirmam totalmente contra o conceito do teletrabalho por questões de desenvolvimento de cultura e promoção das relações pessoais. O ex-CEO da Google, Eric Schmidt, defende que a cultura do escritório tem provas dadas e que não se pode deitar fora, de repente, o que se tem defendido quanto ao estreitar de relações à volta da mesa ou com um café.
Se não tenho clube, também não tenho certezas sobre este tema. Porém, tenho reflectido sobre o mesmo e há, apesar de tudo, algumas coisas que penso estarem claras.
Depois da pandemia, e provavelmente por causa da pandemia, o trabalho híbrido tornou-se uma prática de gestão comummente aceite, e trabalhar a partir de casa deixou de ser visto como estar a fazer pouco ou a ver Netflix;
Nas áreas de mercado com mais dificuldade em encontrar talento haverá maior tendência para ir ao encontro das vontades das pessoas e veremos mais teletrabalho e trabalho híbrido;
As ferramentas colaborativas, como o Teams, o Slack e outras, começaram a ser usadas para o trabalho remoto e híbrido, mas ainda estamos na pré-história do que podemos explorar;
As lideranças tiveram um mega desafio durante a pandemia, mas o verdadeiro salto qualitativo começa agora que as equipas deixaram de ser sempre in-office.
Tenho imensa curiosidade em saber como vai evoluir este tema nos próximos anos, confesso. A maioria das organizações está a experimentar e a reinventar os conceitos de “onde trabalhar” e “como trabalhar”. Não tenho uma bola de cristal, mas gostava mesmo de perceber se o metaverso vai possibilitar experiências digitais que nos ajudem no onboarding, na formação e desenvolvimento e na colaboração, e se os avatares, como os da Mursion vão mesmo ser eficazes para desenvolver softs skills.
Assim, embora reconheça muito valor ao contacto pessoal e às conversas em torno de um café, também tenho muita curiosidade em perceber como vão funcionar reuniões de pessoas virtuais com avatares a interagir como se estivessem em ambiente real, evitando viagens longas.
Em suma, entre o regresso ao escritório e o teletrabalho não tenho clube. Mas pago para ver.
Este artigo foi publicado na edição de Maio (n.º 137) da Human Resources, nas bancas.
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