Há muitas formações para aprender a comunicar. E se o segredo passar por não dizer uma palavra? Não é fácil, mas estas dicas ajudam

O actual cenário marcado por demissões silenciosas e uma delicada saúde mental geral, levou Dipti Bramhandkar, estratega e dramaturgo, a analisar a situação e tentar encontrar possíveis soluções. Uma delas passa pelo poder da “escuta limpa”, que mais do que ouvir, implica assimilar o que a outra pessoa diz, avança a Fast Company.

 

Além de estratega, Dipti Bramhandkar é também dramaturgo e revela que o teatro acabou por moldar a forma como funciona no mundo e no seu local de trabalho. Uma das formas, explica, envolve o método de ajudar as pessoas a estarem presentes num espaço, conhecido como a “escuta limpa”.

No início de uma conversa, reunião ou ensaio, cada membro do grupo partilhava o que lhe ia na mente. Talvez estivessem a pensar na lista de compras, aquele email que tinham de enviar, a dor no ombro ou algo tão simples como querer um café.

Os restantes membros do grupo apenas ouviam sem emitir qualquer interjeição verbal. Quando a pessoa terminava de falar, os demais diziam somente “obrigado” e passava para a pessoa seguinte.

A primeira vez que fez este exercício, Dipti Bramhandkar confessou que estava ansioso por dizer algo, fosse para reconhecer o problema de alguém ou partilhar a sua própria experiência para, de alguma forma, ajudar. Contudo, quanto mais fortaleceu o “músculo” da escuta limpa mais se apercebeu do seu poder. Com ajuda de um amigo, começou a treinar sessões mensais inicialmente de 15 minutos e os efeitos foram notáveis.

 

Presença

O estratega revelou que, quando se concentrava na história que o amigo partilhava, começou a aperceber-se como estava envolvido na conversa. Lembrava-se de pormenores, conseguia imaginar determinadas circunstâncias e até reparava em padrões de fala e tom da voz com maior clareza. Sendo um amigo de longa data, a determinada altura questionou-se onde havia estado nas conversas passadas.

 

Tranquilidade

À medida que ouvia sem a expectativa de oferecer qualquer comentário, começou a sentir tranquilidade. Não tinha de dar qualquer conselho, ou solução sábia de acordo com a sua experiência ou até arranjar energia para reagir. Também ele estava a ser escutado, mesmo não proferindo uma palavra.

 

Perspectiva

Quando chegava a sua vez de falar, surpreendia-o o que saía da sua boca. Não eram sempre as coisas mais stressantes da sua vida, mas aquelas mais escondidas, mais importantes e muitas vezes não priorizadas porque não pareciam tão interessantes como as outras.

 

Visibilidade

O poder de ser visto sem distrações, num mundo que se tornou cada vez mais conectado, mas também mais isolado e remoto, foi extraordinário, revela o estratega, que superou a apreensão inicial de não ser suficientemente interessante. Deixou de pensar na forma como transmitia informação para se focar no conteúdo do que dizia. E tal libertou-o de qualquer “actuação”.

 

Um benefício acrescido de não avaliar o que a outra pessoa diz é levar as suas palavras à letra e acreditar nela. Apesar de ainda estar em processo de aprendizagem, o estratega reflecte sobre as vantagens da “escuta limpa” a curto e longo prazo e deixa as seguintes questões:

  • E se uma organização se focasse em torno deste método?
  • Ajudaria a aliviar algum desgaste e stress que muitos locais de trabalho criam actualmente?
  • Revelaria pessoas mais reservadas, permitindo-lhes demonstrar o seu poder de presença e observação?
  • Criaria melhores ambientes organizacionais e conversas mais sinceras?
  • Tornar-nos-ia mais produtivos e com maior propósito?
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