Vanda de Jesus,iCapital Portugal: (Not) lost in translation

Em todo o meu percurso profissional – da gestão ao marketing, do público ao privado – sinto que a função mais importante que desempenhei foi traduzir. Passo a explicar.

 

Por Vanda de Jesus, head of iCapital Portugal

 

As barreiras e limitações que existem quando não falamos a mesma “língua”, ou não partilhamos cultura de trabalho, são várias e diversas. Elas dão espaço a ideias pré-concebidas e interpretações precipitadas que criam as condições perfeitas para resoluções menos eficientes.

Quer na Tecnologia como no Digital, onde temos mais do que uma linguagem e onde transformamos processos em código, os benefícios que advêm deste papel de mediação tornam-se evidentes.

Fazer o papel de mediadora e compreender a “língua” que fala cada pessoa que comigo se senta à mesa foi uma das skills em que mais trabalhei. Como é que isto me ajudou? Essencialmente, através de dois factores fundamentais: a empatia e a confiança. Porque para falarmos, é preciso ouvirmos, mas para transformarmos, é preciso confiarmos.

Por um lado, a empatia tem um poder transformador nas nossas organizações, comprovado, em várias vertentes, num estudo da Catalyst1. Os dados recolhidos pelo “The power of empathy in times of crisis and beyond” concluem que a empatia promove a inclusão, o respeito no seio da equipa e o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal – condições que cada vez mais fazem a diferença para atrair e reter talento.

Para além disto, espaços onde a empatia ocupa lugar tornam-nos mais produtivos, menos susceptíveis ao burnout e ao abandono do local de trabalho. O estudo, de 2021, afirma que 61% das pessoas com líderes muito empáticos sentem- -se mais inovadoras no trabalho, e 76% afirmam estarem frequentemente ou sempre envolvidos no trabalho, face a 13% e 32% (respectivamente) de pessoas cujos líderes são menos empáticos.

Criar condições no trabalho que privilegiam a compreensão mútua é essencial para termos equipas capazes e felizes.

Por outro lado, temos o impacto mobilizador das relações de confiança. Construí-las exige experiência, consistência e provas dadas continuadamente, mas acredito que o resultado deste trabalho é verdadeiramente diferenciador. Quando os outros confiam em nós, conseguimos mitigar dificuldades e unir forças. E quando confiamos nas mais-valias da tecnologia e do digital, conseguimos mudar a vida das pessoas para melhor.

Nos 20 anos de experiência profissional que tenho, assumi funções nas áreas de Marketing, Vendas, Desenvolvimento de Negócio e Transformação Digital. Integrei vários conselhos consultivos e estratégicos em diferentes entidades.

Sentei-me à mesa com empreendedores de startups recém-criadas e grandes empresários de longa data, trabalhadores da função pública e trabalhadores independentes, organizações públicas e privadas, políticos e apolíticos, pensadores e fazedores, mulheres e homens, jovens e seniores. O único elemento comum era, muitas vezes, a marcada diferença entre as partes. Mesmo que eu não soubesse o que me esperava, sabia – ou interessava-me saber – de que ponto partiam aquelas pessoas, como chegaríamos a consensos e cumpriríamos missões conjuntas.

Em cada projecto ou empresa e, principalmente, em todas as vertentes onde usufruímos do digital, a capacidade de nos compreendermos, de sermos empáticos e de construirmos relações de confiança consistentes tem o poder de contagiar e de determinar a nossa pegada (incluindo a digital).

Acredito que o meu percurso profissional foi potenciado e suportado pela empatia, mas, principalmente, pelas relações de confiança que fui construindo. Agora, que transito novamente do sector público para o privado, é a vez de unir a área financeira à tecnológica. O método e a ambição permanecem os mesmos: liderando equipas unidas no que as distingue, mas encontrando uma “língua” e cultura comuns, trabalharemos em conjunto para sermos, sempre, o melhor de nós quando estamos juntos.

 

Este artigo foi publicado na edição de Outubro (nº.142)  da Human Resources, nas bancas.

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