Empresas portuguesas são pouco capitalizadas

3ConferênciaAs empresas portuguesas são excessivamente financiadas e muito pouco capitalizadas, alertaram os convidados do painel “Que financiamento para o crescimento”, no âmbito do Fórum Empresarial do Algarve 2014.

Esta é uma iniciativa do LIDE Portugal – Grupo de Líderes Empresariais, que reuniu, entre 3 e 5 de Outubro, em Vilamoura, cerca de três centenas de personalidades da esfera política e empresarial, nacional e internacional.

O painel, que abriu o terceiro e último dia do evento, debateu o tema “Que financiamento para o crescimento”, e contou com as intervenções de Miguel Maya, vice-presidente da Comissão Executiva e vogal do Conselho de Administração do BCP, José Maria Ricciardi, presidente da Comissão Executiva do BES Investimento e membro do Comité de Gestão do LIDE Portugal, e Antonio Nogueira Leite (HIPOGES), moderados por Helena Coelho, subdirectora do Diário Económico.

Antes do debate, Sikander Sattar, presidente da KPMG, havia referido que «um dos grandes problemas das nossas empresas é a falta de capitais próprios e a dependência do crédito, que está acima da médica europeia», alertando que «é necessário incentivar uma maior capitalização das nossas empresas».

José Maria Ricciardi, nesta mesma linha, defendeu que «as empresas portuguesas têm crédito a mais e capital a menos, estão subcapitalizadas», acrescentando que, «mais do que o financiamento e a capitalização imediatas, é fundamental a capitalização a médio e longo prazo, para conseguir estabilidade de futuro». António Nogueira Leite adiantava que «o financiamento a mais é um problema endémico nas empresas portuguesas», alertando para a falta de alternativas ao financiamento mais equilibradas, porque «estamos efectivamente há três anos à espera de instrumentos para capitalizar as empresas portuguesas – houve apenas anúncios, como o do banco de fomento, e não acções».

Miguel Maya, concordando com estas análises, rematou que «é óbvio que as empresas estão descapitalizadas, têm muita dificuldade em gerir-se sem financiamento, também pela forma de funcionamento da economia, nomeadamente os prazos de pagamento». «O mecanismo fiscal está totalmente distorcido, favorecendo o capital alheio, e são todos estes factores que precisamos de analisar», realçou.

Para uma mudança de paradigma, José Maria Ricciardi destaca o papel das pequenas e médias empresas: «Quem vai resolver o crescimento da economia são as pequenas e médias empresas, mas antes temos de perceber que temos pequenas e médias empresas pequenas demais – com um excessivo fracionamento do tecido empresarial –, e seria necessária alguma reestruturação de forma a desenvolver massa crítica e aumentar a dimensão». São vários os factores que podem contribuir para esta restruturação, nomeadamente a profissionalização da gestão, a afirmação de uma marca, e a capacidade de exportar e de investir, por exemplo.

«O papel dos bancos é fundamental», salientou Ricciardi, mas o que temos é também um problema cultural, que tem a ver com a gestão das empresas», ressalvando que «esta nova geração poderá trazer diferenças».

Ricciardi introduziu igualmente a ideia do financiamento das PME através do mercado de capitais, referindo que são vários os exemplos de empresas de sucesso que começaram como empresas pequenas, mas que se financiaram no mercado de capitais, como a Google, por exemplo. «Em Portugal não atribuímos a devida importância ao mercado de capitais, mas seria importante que este pudesse financiar a longo prazo as empresas», concluindo que, «para isso, é fundamental trazer as empresas para o mercado de capitais».

Sobre este tipo de financiamento, António Nogueira Leite recorda que há alguma falta de preparação da banca para lidar com as pequenas e médias empresas, o chamado mid-market, e há um processo de transição que é necessário fazer de forma a atrair as PME para o mercado de capitais».

Os convidados salientaram a importância da recuperação da confiança dos consumidores e das empresas nesta fase, já que «sem confiança não há banca». Mas «este trabalho que está a ser feito» adiantou o presidente do BES Investimento, «nomeadamente ao nível dos reguladores, e também com uma maior exigência dos consumidores e empresários».

Sikander Sattar destacou igualmente o papel dos consumidores e dos empresários nesta recuperação. «Apesar das dificuldades, testemunhámos muitas melhorias, transformando alguns setores da indústria e aumentando as exportações como nunca tínhamos feito no passado, tudo isto mérito dos nossos empresários». Foi preciso enfrentar as dificuldades e olhar para ao mercado interno, procurando oportunidades internacionais, nomeadamente para os mercados emergentes».

O presidente da KPMG salientou a necessidade de alguma reestruturação da banca, que enfrenta desafios próprios, porque «o financiamento da parte da banca não depende apenas da liquidez, mas existe já um estímulo da Europa para que a banca apoie as empresas». Neste aspecto, e referindo-se ao recente caso do BES, Ricciardi referiu que «sabemos que a situação do Banco Espírito Santo teve um impacto muito grande no sector financeiro, mas esperamos que agora o Novo Banco traga mais estabilidade».

Sobre o investimento, os convidados foram questionados sobre a forma como este vem sendo alocado nos últimos anos, Miguel Maya explicou que «hoje há, seguramente, uma avaliação mais rigorosa, e uma melhor alocação dos investimentos e financiamentos», se forma a chegar a um equilíbrio entre o grande facilitismo que havia antes, e o extremo rigor que aconteceu depois da crise financeira». Mas, na opinião de José Maria Ricciardi, «quando falamos de crescimento falamos de investimento, é ele que nos possibilita fazer crescer o PIB, e este crescimento é mais importante e mais significativo nas pequenas e médias empresas». Assim, alerta António Nogueira Leite, «é necessário haver alterações importantes na Europa para a economia poder crescer».

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