É preciso uma organização inteira para cuidar de uma pessoa
As organizações devem agora estar aptas para fazer a transição de uma abordagem centrada “nas pessoas” para uma abordagem centrada “na pessoa”. Para isso, há três competências fundamentais que é preciso desenvolver (e não só nos líderes).
Por Carla Rocha, CEO da Carla Rocha Comunicação
Há um conceito de bem-estar conquistou o seu espaço nas reflexões sobre o mundo laboral, e as organizações têm-se preocupado em desenvolver práticas centradas nas pessoas.
Segundo a Adecco Portugal, a personalização da experiência de trabalho do colaborador é uma das tendências que vão marcar o futuro do local de trabalho, o que quer dizer que as organizações devem agora estar aptas para fazer a transição de uma abordagem centrada “nas pessoas” para uma abordagem centrada “na pessoa”.
A comunicação interpessoal é uma importante aliada neste processo. Uma comunicação centrada na pessoa, uma comunicação “um para um”, é muito mais do que a troca de informações, consistente e regular, com cada colaborador. É a capacidade de estabelecer, com ele, relações significativas de confiança, transparência e segurança e, com isso, criar um ambiente fértil de bem-estar.
Há tanto que podemos fazer neste sentido, mas destaco aqui três competências de comunicação interpessoal que favorecem uma abordagem centrada “na pessoa”.
E vamos ver que estas competências não são só para quem lidera as organizações…
Active o modo input. A escuta ainda é, por vezes, uma competência de comunicação pouco reconhecida como tal. Mas é na escuta que somos capazes de conhecer verdadeiramente o outro, de compreender os seus desafios e preocupações, as suas necessidades e expectativas. Só assim podemos criar condições para que cada pessoa revele o seu potencial.
Dê feedback como quem dá um presente. O feedback é uma ferramenta de comunicação poderosa para impulsionar o crescimento pessoal e profissional. Geralmente, é entendido como um momento tenso, para quem dá e para quem recebe, mas é uma oportunidade de melhoria. Num momento de feedback, foque-se na pessoa que tem à sua frente e em encontrar soluções em conjunto.
Reconheça atitudes e comportamentos, não só conquistas. Reconhecer conquistas é fundamental para estabelecer uma cultura organizacional que valoriza o empenho dos colaboradores. Mas não devemos guardar as palavras de apreço para momentos grandiosos. Posso partilhar consigo que nas reuniões mensais da Carla Rocha Comunicação, reservamos os minutos iniciais para cada um de nós reconhecer uma pessoa da equipa, muitas vezes por gestos aparentemente banais, mas que nos impactaram. Pode ser alguém que nos ajudou a resolver uma dificuldade técnica, a desbloquear uma situação na agenda, ou até alguém que fez algo extraordinário fora do contexto de trabalho e que, de alguma forma, pode ser inspirador para toda a equipa.
A liderança faz-se pelo exemplo. E, como tal, sabemos que a forma como os líderes estão a usar estas (e outras) competências de comunicação determina se a cultura da empresa está, de facto, mais centrada na pessoa e no seu bem-estar.
Mas a verdade é que, no dia-a-dia, cada um de nós pode dar atenção, valorizar e ajudar a crescer aquela pessoa que se senta à nossa frente no escritório, ou que trabalha no departamento ao lado. Há um provérbio africano que todos conhecemos que diz ser preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Talvez possamos começar a levar mais, para os nossos locais de trabalho, o princípio do cuidado e da corresponsabilidade que está por trás deste provérbio. Afinal, não estamos sozinhos nisto.
Se cada um de nós pensar como pode comunicar com mais atenção ao outro, também se torna alvo de mais atenção por parte dos outros. E assim, uma abordagem focada na pessoa não beneficia apenas a pessoa, mas todas as pessoas. Toda a organização.
Este artigo foi publicado na edição de Maio (nº. 161) da Human Resources.
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