O desafio da atracção de talento no sector logístico: perspectivas e soluções
Por Francisco Matias, director de Recursos Humanos da DPD Portugal
A atracção e retenção de talento no sector logístico tem revelado desafios críticos, especialmente em Portugal, onde a escassez de mão-de-obra qualificada e o envelhecimento progressivo da população activa é notório. Segundo o estudo “Talent Shortage 2023”, do ManpowerGroup, Portugal é o quinto país com maior dificuldade em atrair novos talentos. Este cenário é particularmente desafiador para o sector logístico, que depende de uma força de trabalho diversificada e bem preparada para operar num ambiente altamente competitivo e em constante mudança.
Uma das principais dificuldades é a atracção de novos talentos para um sector que tradicionalmente não é visto como um destino de carreira atractivo, especialmente entre os jovens. A percepção de que o trabalho logístico é fisicamente exigente e de que oferece poucas oportunidades de progressão pode dissuadir potenciais candidatos, apesar de não corresponder à verdade. Para contornar esta situação, é necessário investir em estratégias de employer branding que destaquem as oportunidades de desenvolvimento de carreira e as condições de trabalho modernas e atractivas oferecidas pelo sector.
Além disso, o envelhecimento da população activa cria uma pressão adicional sobre as empresas, que necessitam de implementar políticas eficazes de gestão de talento para manter a sua força de trabalho qualificada e produtiva. A formação contínua e a valorização da experiência do talento mais velho são essenciais para garantir a transferência de conhecimento e para adaptar a força de trabalho às novas tecnologias e processos. Assim, a adopção de programas de mentoria, onde os trabalhadores mais experientes partilham o seu conhecimento com os mais jovens, pode ser uma estratégia eficaz para mitigar os impactos da demografia adversa e valorizar o talento dos colaboradores mais velhos.
A integração de tecnologias emergentes, como a automação e a inteligência artificial, também é uma das soluções possíveis para enfrentar a escassez de mão-de-obra e para aumentar a eficiência operacional. A digitalização dos processos logísticos não só permite uma maior produtividade como também cria um ambiente de trabalho mais atractivo para os novos talentos, que valorizam a inovação e a modernização. No entanto, esta transformação digital exige um investimento significativo em formação e requalificação dos colaboradores, de forma a assegurar que todos conhecem e usufruem das novas ferramentas e tecnologias.
Nesse contexto, a DPD tem-se destacado ao investir em programas de formação contínua para os seus colaboradores, assegurando que estão preparados para enfrentar os desafios de um mercado em constante evolução. Mas a necessidade é geral e as empresas têm de implementar políticas de sustentabilidade e inovação tecnológica que tornam o ambiente de trabalho mais dinâmico e atractivo, ajudando a reter os talentos residentes e a atrair novos profissionais.
O ambiente de trabalho motivador e inclusivo, onde os colaboradores se sintam valorizados e respeitados é também crucial. A implementação de políticas de reconhecimento, a promoção de um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal, e a oferta de oportunidades de desenvolvimento profissional são estratégias fundamentais para manter os colaboradores motivados e comprometidos com a empresa. As empresas que investem na construção de uma cultura organizacional positiva tendem a ter taxas de retenção mais elevadas e a atrair talentos de alta qualidade.
É claro que a atracção e retenção de talento no sector logístico requerem uma abordagem multifacetada, que inclua tanto a modernização das práticas de gestão de recursos humanos como a adaptação às novas realidades do mercado de trabalho. As empresas que conseguem alinhar-se com estas tendências têm uma maior probabilidade de se destacarem num mercado competitivo e de assegurar o seu crescimento sustentável a longo prazo.
Em resumo, a transformação do sector logístico passa pela capacidade de atrair e reter talentos de forma eficaz, através da implementação de estratégias inovadoras e da valorização contínua dos colaboradores. Este é um desafio que requer o empenho de todas as partes envolvidas, desde os gestores de topo até aos colaboradores da linha de frente, numa aposta constante na melhoria e na adaptação às novas exigências do mercado.