Já ouviu falar em “glossing”? É uma forma de positividade tóxica (e pode estar a prejudicá-lo no trabalho)

Se tem tendência para dizer “está tudo bem” e varrer as coisas para debaixo do tapete no trabalho, pode estar a fazer “glossing”, noticia o Business Insider. Esta é uma forma de positividade tóxica – na qual as pessoas suprimem e negam as suas emoções negativas – e pode estar a prejudicá-lo.

Leena Rinne, responsável global de coaching da Skillsoft, explicou ao Business Insider que existem muitas razões pelas quais o “glossing” acontece no local de trabalho, mas tende a ocorrer durante períodos de mudanças stressantes e quando as pessoas querem «passar despercebidas». «Acho que é uma resposta natural à ansiedade ou ao medo.».

Um inquérito da Leadership IQ a mais de 27 mil executivos, gestores e colaboradores em 2017 descobriu que apenas 15% dos profissionais pensavam que o seu empregador partilhava sempre abertamente os seus desafios, e 21% disseram acreditar que a sua organização nunca foi transparente sobre os momentos difíceis.

Uma sondagem realizada pela Science of People em Junho também revelou que quase 68% dos inquiridos acreditavam ter experimentado positividade tóxica na última semana.

Para Leena Rinne, este comportamento é geralmente impresso na força de trabalho de cima para baixo, e os gestores fazem-no por diferentes razões. «Os líderes criam a cultura. Se, numa reunião, o líder diz: ‘Olá a todos’ e se desfaz em elogios, então, para mim, o sinal é que esse é o modus operandi aqui.»

Os líderes que mantêm a cabeça baixa e os colaboradores com medo criam «uma tempestade perfeita para as pessoas se moverem com cuidado», alerta Rinne, acrescentando que quando a força de trabalho é protegida, todos perdem. «Estou menos disposta a avaliar os problemas em busca de melhores soluções. Por isso, acho que todos os líderes se devem preocupar com isso», aconselha.

As amizades no trabalho estão a desaparecer

Menos profissionais estão a fazer amigos no trabalho. Alguns pensam mesmo que as amizades no escritório morreram desde que o trabalho remoto se tornou a norma e os despedimentos afectam vários sectores. Embora alguns acreditem que é para melhor, outros pensam que estas ligações são vitais para o bem-estar mental, particularmente no combate à solidão.

Rinne crê que isto formou uma cultura em que os colaboradores acreditam que são tratados de forma transaccional e aparecem para fazer um trabalho e pouco mais, o que, por sua vez, tornou o “glossing” mais prevalente.

As pessoas não querem trazer o seu eu completo, ou mesmo o seu melhor, para o trabalho porque se sentem menos seguras de que permanecerão por perto durante tempo suficiente. «Há uma razão pela qual nos comportamos desta forma no trabalho, e penso que especialmente os líderes senior devem olhar com atenção para dizer o que estamos a criar e como estamos a motivar as pessoas a agirem desta forma, realça Rinne, justificando que «não é aleatório, nem é preguiça».

A solução é simples

Rinne salienta que alguns sinais de uma força de trabalho “glossed” são os profissionais que não falam sobre questões difíceis ou falam apenas nas costas do manager. Podem também já não estar a ligar as câmaras em reuniões remotas. Se for esse o caso, os líderes devem fazer alguma auto-reflexão, e perguntar-se se são eles a praticar “glossing”.

Os impactos negativos do “encobrimento” tóxico podem manifestar-se como uma força de trabalho em burnout que se sente stressada, se culpa, sente isolada, e fica doente com mais frequência. Pode até levar os colaboradores a tirar longos períodos de baixa devido a problemas de saúde mental. Enfrentar o problema não é difícil, defende Rinne.

Quando uma empresa está a passar por um período difícil, os gestores podem sentir-se tentados a “encobri-lo” porque não são notícias realmente positivas e querem manter o moral elevado. Mas Rinne está convicta de que os gestores devem fazer uma pausa e reconhecer esses momentos. «Estamos num período disruptivo e a disrupção é difícil. Sabemos que é difícil e estamos muito gratos por estarem ao nosso lado. São uma tremenda mais-valia.»

Os gestores não têm de assumir a responsabilidade por toda a empresa, refere Rinne. Podem criar «uma cultura de bolha» para as suas próprias equipas. «Pode estar complicado lá fora, mas, seja o que for, posso criar uma subcultura na cultura mais ampla de calma – pessoas a sentirem-se vistas, ouvidas e focadas.»

As más notícias

No entanto, esta capacidade não é intuitiva para muitos líderes, acrescenta Rinne, e muitos poderiam beneficiar de coaching para os ajudar a lidar com conversas difíceis. Alguns vão demasiado longe no sentido contrário e são rudes e duros quando surgem dificuldades.

«Ouvir de um líder como será difícil a mudança disruptiva no horizonte, por exemplo. Há uma forma de enquadrar que alivia a ansiedade, e há outra forma que provavelmente a amplifica», afirma Rinne. Os líderes precisam de adquirir as competências necessárias para serem transparentes de uma forma que transmita confiança «e não transparentes de uma forma que assuste as pessoas», destaca Rinne.

Em última análise, as pessoas apreciam a honestidade, mesmo quando as notícias não são totalmente positivas. Nenhum colaborador quer ser apanhado de surpresa quando são anunciados despedimentos ou quando uma reestruturação destrói a sua equipa. Se não forem mantidos na ignorância, é mais provável que se sintam “envolvidos” após períodos de disrupção.

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