Vera Rodrigues, MC Sonae: “No people, no gain”

Se quisermos fazer das equipas de Gestão de Pessoas equipas cada vez mais estratégicas e com mais impacto nos negócios, teremos sempre de as pensar e capacitar para que elas próprias falem fluentemente a linguagem da gestão, dos números, dos indicadores, da produtividade e da competitividade.

 

Por Vera Rodrigues, head of People da MC Sonae

 

There are no gains without pains”. A frase remonta a 1758, sendo o seu autor Benjamin Franklin, considerado um dos pais fundadores dos Estados Unidos e um dos líderes da Revolução Americana, conhecido pelas suas citações e experiências com a electricidade. Já a sua versão simplificada “no pain, no gain” está associada a Jane Fonda, na medida em fez dela um slogan para os seus vídeos de treino de aeróbica nos anos 80.

Feito o enquadramento histórico, passemos à associação sobre a qual aqui importa reflectir. Em qualquer fórum ou discussão sobre pessoas, em que participem gestores ou líderes de equipas – mais comummente designadas de “recursos humanos” –, se reitera a necessidade de investir em formação e requalificação, de criar oportunidades de carreira, de investir em bem-estar e satisfação dos colaboradores e, de uma forma geral, da prioridade que as organizações devem dar ao investimento nas pessoas. É algo consensual na nossa “comunidade”.

Se é verdade que esse desígnio tem vindo a ganhar cada vez mais relevância no discurso de alguns protagonistas e gestores com outro tipo de responsabilidades nas empresas, também sabemos que o investimento nas pessoas nem sempre está no seu top of mind – e, ainda menos, no topo de prioridades quando se pensa em estratégias que permitam, por exemplo, alcançar ganhos de competitividade.

Naturalmente que há excepções. Mas esta reflexão não é feita com o propósito de crítica a empresários ou a gestores. O desafio vai mais além: há uma ambição que deve ser colocada, desde logo, aos próprios líderes e gestores de Recursos Humanos (RH), se quisermos, designadamente, fazer das equipas de Gestão de Pessoas equipas cada vez mais estratégicas e com mais impacto nos negócios.

Teremos sempre de as pensar e capacitar para que elas próprias falem fluentemente a linguagem da gestão, dos números, dos indicadores, da produtividade e da competitividade. É necessário investir, claramente, e desde logo, no desenvolvimento de competências analíticas. Só assim essas mesmas equipas serão capazes de demonstrar, com dados e com números, o racional, a viabilidade e o impacto tangível das iniciativas e dos investimentos em pessoas que tantas vezes defendem. Só assim conseguirão traduzir de forma clara e assertiva os verdadeiros ganhos que as suas propostas encerram, seja do ponto de vista de produtividade, competitividade ou mesmo de desempenho global da empresa. Elevar a fasquia da Gestão das Pessoas, também passa pelo investimento nas próprias equipas de gestão de RH.

Como muitas vezes se diz, “o que não se mede, não se gere”. Isto também se aplica, obviamente, às pessoas. Mas se, em alguns contextos, tudo isto é muito óbvio, atrever-me-ia a dizer que, ainda assim, é raro. E o primeiro passo é reconhecer essa realidade, para se poder garantir que a função de Gestão de Pessoas vai cada vez mais além do “tradicional” e que os seus protagonistas têm capacidade de se focar em iniciativas que agreguem valor efectivo e tangível para os negócios.

Acredito que as equipas de RH têm um papel crucial, enquanto enablers da transformação das empresas. Como acredito, verdadeiramente, que a excelência das pessoas é o elemento mais diferenciador de uma organização. Porque é através do seu talento que a visão, a missão e a estratégia de um negócio ganham forma. Como vários estudos já o demonstram, através de números claros e objectivos, são as empresas com as equipas mais bem preparadas que produzem os melhores resultados e que conseguem atingir os maiores ganhos e as performances mais destacadas.

No final do dia, é como quem diz “No people, no gain”.

 

Este artigo foi publicado na edição de Setembro (nº. 165) da Human Resources.

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