Conceição Zagalo, empreendedora social: «Vamos trabalhar melhor em prol do nosso país? É que Portugal até precisa!»

Conceição Zagalo, empreendedora social, faz notar que «pagar um salário a quem, com mais de 65, escolhe fazer reskilling e ser útil e respeitado nas comunidades que integra não será sinónimo de dignidade, de visão, de evolução?».

 

«Nos tempos que correm, opinar sobre o mercado de trabalho tornou-se um tiro no escuro. Por “dá cá aquela palha”, fazemos futurologia, o que não favorecerá em nada a reflexão nem um debate mais construtivo sobre um tema que tanto impacta o tecido laboral, social, económico. Mas se as organizações são desenhadas de pessoas para pessoas, seja qual for o sector de actividade, não se nos impõe um olhar mais transversal e corajoso?

De resto, vendo com rigor os gráficos da análise dos respondentes do Barómetro Human Resources, chego a ficar desconcertada perante resultados comparativos de algumas das conclusões neles evidenciadas. Então, existe ou não escassez de recursos no mercado de trabalho? Estão as pessoas mais preparadas para se fazerem à produtividade? Prolifera o mundo dos direitos face ao dos deveres? Temos bichos de mato em contexto laboral e descuramos o velho tema relacional ou mesmo o da cultura organizacional? Ah… pois… a tecnologia, a robotização e a inteligência artificial, mas que grande confusão. Já quanto a lideranças confiáveis, já assistimos a tempos melhores.

E pronto, temos os nossos a evadirem-se e a descurarem o seu sentido de nação na hora de aplicarem conhecimento e experiência no País. O mundo perdeu fronteiras, é um facto. Mas será que não podemos erguer in loco o que fazemos acontecer noutros países? Ganha-se melhor por lá, está bem. Mas não raras vezes, não há tempo para se gastar o que se ganha. E lá vão empardecendo com a falta de família, do sol, do mar, da segurança a que nos habituámos. E que os estrangeiros levam daqui nas suas incursões turísticas ou mesmo quando trabalham em Portugal e de Portugal para o mundo.

Estive há uns meses na Universidade de Meiji, em Tóquio, com a AESE. Inserir-me na semana internacional de uma turma de MBA fez-me rejuvenescer uns anos e, sobretudo, perceber que temos de almejar a mais do que um sofá de reforma aos 60 anos. Até porque a esperança de vida é cada vez maior. E o matiz intergeracional opera maravilhas. Pagar um salário a quem, com mais de 65, escolhe fazer reskilling e ser útil e respeitado nas comunidades que integra não será sinónimo de dignidade, de visão, de evolução? Não tenho mais espaço para escrever tanto do que se me oferece sobre este tema. Mas digo- -vos. Do alto dos meus mais de 70, continuarei a bater-me para aprimorar a minha formação, readequá-la aos tempos que correm, produzir com resultados e, sobretudo, sem procrastinar, aprender e ensinar no que tomo por troca justa de capital de conhecimento e de experiência. Dito isto, vamos trabalhar melhor em prol do nosso país? É que Portugal até precisa!»

 

Este testemunho foi publicado na edição de Outubro (nº.166) da Human Resources, no âmbito da LV edição do seu Barómetro.

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