Lidera equipas, mas sente que não é ouvido? Eis o que fazer
Quando foi a última vez que se sentiu ouvido? Quando digo ouvido, refiro-me ao facto das pessoas agirem na direção que acabou de sugerir. Não no “sentir-se ouvido” porque as pessoas estavam, aparentemente, atentas ao que estava a dizer.
Por André Rosa, consultor e formador em Liderança / mestre em Gestão de Recursos Humanos
Há uma grande diferença entre estar a “ser ouvido” e estar a ser observado.
Se pensarmos bem, quando alguém está à nossa frente, o objectivo é que a mente da pessoa esteja focada no nosso discurso, não no corpo. Até porque o corpo não tem para onde fugir, mas a mente sim.
O corpo pode estar à minha frente, mas a mente pode estar nas compras que precisam de ser feitas, após a reunião.
Então como podemos fazer com que as pessoas nos ouçam, realmente?
Primeiro, precisamos de entender a mente humana
Durante as minhas aulas de Decisão e Negociação, no mestrado, tinha um professor que era exímio na arte de nos manter atentos ao seu discurso. Enquanto leccionava, ele estava constantemente a movimentar-se e a olhar individualmente, para todos nós. Para além disso, sempre que observava que alguém “já não estava” a ouvir, estalava os dedos e dizia “estamos cá? Estamos cá?”, aumentando o tom de voz. Essa frase fazia com que voltássemos imediatamente a “estar no aqui e agora”.
O que é que o professor pretendia com isto? Era lutar contra a perda de foco, que os alunos poderiam ter. E se acreditar que as pessoas da sua equipa vão estar 100% focadas naquilo que está a dizer, então irá seguramente perdê-las.
Assim, lembre-se que um dos motivos pelos quais as pessoas não o ouvem é porque são humanas. O ser humano não tem muita capacidade para se manter concentrado durante longos períodos. Há que questionar se “estamos cá? Estamos cá?”.
O segundo passo é usar a linguagem corporal a seu favor
Para manter as pessoas “agarradas” ao meu discurso, preciso de me tornar numa pessoa interessante. Não é interessante para se apaixonarem por si. É interessante de se ouvir. E a comunicação não é apenas o que dizemos: é também o que não dizemos, como dizemos e o que fazemos.
Desta forma, existem três coisas que é necessário ter em conta: a comunicação verbal, a comunicação não verbal e a comunicação para-verbal (que poucos falam).
A comunicação verbal tem que ver com as palavras que dizemos. Devemos adoptar a linguagem e o discurso às pessoas que estão à nossa frente. Se estou a falar para directores ou operacionais, a linguagem não deve ser a mesma. Há momentos em que falar de uma forma mais formal, pode ser a pior decisão. E, outras vezes, ter uma abordagem muito informal vai fazer com que as pessoas o deixem de ouvir.
No que toca à linguagem não verbal, há que ter uma postura de alguém acessível e agradável. O líder carrancudo já passou de moda. As pessoas querem seres-humanos autênticos e não robôs. Quando fala, olhe as pessoas nos olhos, movimente-se pela sala e, acima de tudo, não se esqueça de sorrir. O sorriso é uma das armas mais letais para influenciar pessoas. E, na liderança, precisamos de ter essa capacidade.
A linguagem paraverbal é aquela que se relaciona com os sons produzidos no decorrer da nossa comunicação, onde se inclui: o tom de voz; o volume do som; os silêncios; a velocidade da fala; os suspiros e o riso. Há que entender o objectivo da intervenção e decidir qual a melhor estratégia. Já vi líderes que, após um mês a bater recordes, não conseguiram demonstrar nenhum entusiasmo, por não saberem usar esta habilidade.
O terceiro passo é garantir que as pessoas entenderam a nossa mensagem
Para quem tem filhos, é fácil compreender que, para eles entenderem uma instrução, há momentos em temos de repetir vezes sem conta até que comecem a fazer como pedimos. Ainda assim, pouco tempo depois, “voltam a esquecer-se” de como se faz. Nesse momento, como bons educadores, o que fazemos? Voltamos a relembrar o comportamento pretendido.
O que é que isso tem a ver com liderança? Tudo. Porque na liderança temos de fazer exactamente a mesma coisa. Repetir, repetir, repetir e repetir. E depois voltar a repetir.
“André, mas as pessoas não são meus filhos!” Pois não. São seus liderados e esperam de si orientação. Por isso é que precisa de repetir. Assuma-se como líder.
Outras vezes repetimos e repetimos, mas as pessoas continuam a fazer errado. Nestes momentos, há que garantir que as pessoas estão a entender o que pedimos. E como fazemos isso? Questionando. Muitas das vezes, o problema não está em quem recebe a mensagem, mas sim em quem a enviou. E podemos simplesmente não estar a conseguir falar para a mente daquela pessoa. Uma questão tão simples como “Então, o que precisas de fazer agora?”, pode mudar o rumo do comportamento da sua equipa.
Muitas outras estratégias poderiam ser partilhadas, mas estas são as que estão ao seu alcance, já hoje. Agora mesmo.
Use. Teste e venha contar-me o que aconteceu.
Boa liderança.