Joana Tavares, Aon: «Continuamos sempre ao contrário»
Joana Tavares, HR Business partner da Aon, afirma que «está-se a normalizar a resistência à mudança e a complicar, perdendo tempo na criação de novas tendências de Gestão de Pessoas, sem dar importância ao que é realmente transversal: trabalhar em organizações, onde a saúde é de facto uma preocupação».
«Perdemos tempo a ler artigos e entramos em crises ansiosas por não fazer algo que outras áreas de Gestão de Pessoas fazem, mas os resultados deste barómetro mostram que nos afundamos em preocupações e não simplificamos.
Para 36% dos inquiridos, um dos grandes desafios da Gestão de Pessoas em 2025 é a saúde física e mental dos colaboradores, mas apenas 14% consideram que será uma prioridade, dando mais espaço à reestruturação organizacional e à produtividade. Falamos de crise na subsistência da cultura organizacional devido a um novo modelo de trabalho. Não estará a cultura organizacional em queda devido à falta de priorização do bem-estar físico e mental? Não falo de aulas de ioga ou massagens de 15 minutos, mas da criação de um espaço de segurança psicológica, onde todos tenham claro o suporte e apoio da organização, a possibilidade de assumir um problema mental sem medo de represálias, e líderes preparados para gerar ambientes seguros e actuar em situações delicadas.
Por outro lado, 48% dos inquiridos referem que o absentismo existe, mas não impacta o funcionamento da empresa. Estaremos a normalizar uma taxa de absentismo média? Analisamos os motivos do absentismo? Qual a taxa de absentismo por problemas mentais devidos a um ambiente tóxico? É importante olhar para as baixas como mais do que uma “doença natural”. A natureza da doença pode estar nas mãos das lideranças. Os resultados mostram que 41% do absentismo seria controlado se actuássemos mais sobre as políticas de bem-estar da organização. Estamos a normalizar a resistência à mudança e a complicar, perdendo tempo na criação de novas tendências de Gestão de Pessoas, sem dar importância ao que é realmente transversal: queremos trabalhar em organizações onde nos sintamos seguros e respeitados, e onde a nossa saúde é de facto uma preocupação.
Quando estivermos aí, teremos mais condições para questionar temas como a possível não-preparação da nova geração para o mercado de trabalho (que daria para um novo artigo: não estaremos a cair no preconceito e na discriminação com esta generalização perigosa?).»
Este testemunho foi publicado na edição de Dezembro (nº.168) da Human Resources, no âmbito da LVI edição do seu Barómetro.
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